A prazo, com a inevitável subida das
taxas de juro, voltaremos a chamar uma troika para nos salvar, tal como em 1983
tivemos de chamar novamente o FMI, quatro anos depois do fim do primeiro
resgate.
E voltarão a dizer-nos que, quando
estávamos no bom caminho, veio uma crise internacional e lixou tudo.
Infelizmente, [com a “saída limpa”] ao
contrário do que sucederia com um programa cautelar formal, deixámos de ter
quem nos vigiasse, estabelecesse limites e impusesse um caderno de reformas a
fazer.
O governo anterior agradeceu e, a
partir de 2014, trabalhou para ganhar as eleições, ao mesmo tempo que passava
uma imagem de responsabilidade. Ou seja, o governo andou em campanha durante
pelo menos um ano.
.
Ironicamente, é agora o governo de
Costa que beneficia da margem de manobra que este “programa cautelar” do BCE
lhe dá. Mas em vez de usar a usar para corrigir o que tem de ser corrigido,
indo mais longe onde é possível, como no ataque às rendas das PPP e de alguns
monopólios e oligopólios, limita-se a andar para trás, criando todas as condições
para que o passado recente se repita.
Num só ano, reverte
(parcialmente) a sobretaxa de IRS. Reverte o horário de trabalho da função
pública. Reverte os cortes salariais na função pública. Reverte privatizações
(ainda por cima, de empresas que davam imenso prejuízo). Reverte o IVA na
restauração. Reverte metade da Contribuição Extraordinária de Solidariedade,
que já só se aplicava a pensões acima de 4500€. Mais grave, reverte a discussão
que se começava a fazer sobre a sustentabilidade da Segurança Social..
.
É possível que tudo corra bem. Que
as taxas de juro continuem baixíssimas por muito tempo. Que o baixo preço do
petróleo continue a ajudar as nossas contas externas. Que os nossos parceiros
cresçam tanto que queiram comprar ainda mais o que produzimos.