Sábado, no Expresso, Henrique
Monteiro recordou como o país esteve perto de uma «guerra civil» há 40 anos.
No fim-de-semana, anterior, dois
colunistas tão diferentes como António Guerreiro e Sousa Tavares lamentavam o
«clima de guerra civil» que se instalou desde que António Costa anunciou a tentativa
de tomada do poder pela «esquerda unida».
A CGTP, que não consta ser parte do
acordo tri-partido liderado pelo PS, «marcou uma concentração em S. Bento para
o dia da votação de governo» que lembra a «muralha de aço» contra os governos
provisórios que lhes desagradavam e contra a Assembleia Constituinte de
1975-1976.
Perante o que se prepara, a maioria
dos opinadores continua às voltas com os preceitos constitucionais e as
tradições eleitorais do regime, fazendo de conta que não está em curso uma
convulsão política cujo final é imprevisível.
A inabilidade dos agentes visados
pela convulsão – o Presidente da República e a coligação PSD+CDS – foi enorme.
Quando se aperceberam do que estava em jogo, já era tarde.
O processo devia ter sido conduzido
de forma muito mais rápida, mais aberta e publicitada, não permitindo que os
interlocutores continuem a esconder o que se está a passar.
Cavaco Silva, que nunca interiorizou
o facto de ser o ódio de estimação da «esquerda», devia ter reunido todos os
partidos eleitos mal se conheceram os resultados provisórios e, logo que o PS
mostrou a intenção de transgredir a norma de «quem ganha, governa», podia e
devia ter convocado o Conselho de Estado e tornar públicas as opiniões dos
conselheiros. Nessa altura, as fissuras do PS teriam ficado à vista de todos, a
começar pelo presidente dos Açores, assim como a versão do Tribunal
Constitucional, até agora desconhecida.
O Presidente da Republica que sempre
teve fama de institucionalista revelou-se, sobretudo, um formalista e um crente
no «segredo». Agora, arrisca-se a ficar sem soluções e sem o respaldo
antecipado que a maioria dos conselheiros de Estado lhe teria dado,
possivelmente o próprio Marcelo que agora pretende sacudir a água do capote…
Ter-se-iam ganho semanas e evitado
ditar exclusivas contra quem quer que seja!
Neste clima político, nenhuma
solução é boa. Se o PR entregar o poder ao PS e aos seus pouco credíveis
aliados, facilmente se imagina o preço que a grande maioria da população irá
pagar. Se não entregar, confiando provisoriamente o governo a um «grupo de sábios»
que tome conta da situação até à eleição do próximo presidente da República,
não é difícil imaginar a violência da reacção dos rejeitados, mas as perdas
para o país seriam porventura menores e menos duradoras. (resumo do artigo de Opinião de
Manuel Vilaverde Cabral no Observador)