Na economia, já não vamos ter o
"controlo público, nacionalização e redireccionamento do sistema
bancário", nem a "propriedade estatal", nem "uma política
de controlo público da propriedade bancária". Nem "uma política de
nacionalização do setor da energia", nem "o controlo público sobre as
empresas do setor", já nem "o capital público deve voltar a ser
maioritário na Galp, na EDP e na REN", e muito menos assistiremos à
"nacionalização da produção e distribuição da energia". Nem ninguém
já pensa em "devolver à esfera pública as empresas privatizadas,
concessionadas e subconcessionadas", ou sequer "renacionalizar as
autoestradas originariamente construídas sem custos para o utilizador
(Scut)". Nem se pense que a "a transportadora aérea nacional TAP deve
continuar a ser o que é, uma empresa pública".
E hoje, no Bloco, já ninguém quer
ouvir falar da "reestruturação da dívida" pública, nem da
"reestruturação da dívida das empresas de transportes", nem, no que
respeita à Madeira, de "um cancelamento de parte significativa da dívida e
à reestruturação da mesma".
O Tratado Orçamental é para ficar,
pois "a convocação de um referendo sobre o Tratado Orçamental" já não
"é um passo essencial", porque o Bloco já não é "uma esquerda
comprometida com a desobediência à austeridade e com a desvinculação do Tratado
Orçamental", porque se fosse queria "referendar o Tratado Orçamental
e iniciar um processo de reestruturação da dívida pública".
Nas relações internacionais, já não
vamos ter a "saída da NATO e ação diplomática pela extinção deste e de
todos os blocos militares", qual quê, nem a "denúncia do Acordo de
Cooperação e Defesa entre os EUA e Portugal e consequente imposição de uma
moratória aos EUA para que abandonem a Base das Lajes". Nem o Bloco de
Esquerda irá "pugnar pelo encerramento de todas as bases militares
estrangeiras na Europa". Nem o "fim das instituições da desregulação
liberal, como a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário
Internacional e o Banco Mundial". E muito menos é verdade que "o
Bloco irá persistir em derrotar o Tratado Transatlântico (TTIP)". Tudo
isto é passado.
E talvez o Bloco tenha exagerado
quando disse que o Programa Eleitoral do PS, "mesmo com delírio otimista
sobre a evolução económica, tem que manter a punição fiscal do trabalho,
penaliza a Segurança Social e liberaliza o despedimento para obedecer aos
critérios de Angela Merkel".
…
fontes bem informadas dizem que as
pontes estão criadas para que se mantenha a proposta bloquista de "criação
de um "cabaz de peixe" para venda direta de pescado variado,
permitindo (...) a valorização e escoamento de algumas espécies com menos valor
comercial e preços mais vantajosos para o consumidor". Disto ninguém
abdica - e parece que Bruxelas está disposta a aceitar (desde que não vá ao défice),
e o PCP também (desde que o preço seja tabelado). Os grupos técnicos dos dois
partidos discutem já quais as espécies baratuchas a incluir no cabaz e os
peixitos a excluir. Há dúvidas sobre a xaputa (sobretudo devido ao nome) e
sobre a tainha (sobretudo devido ao baixo valor nutricional), mas a faneca é
consensual no arco da constituição. Abaixo o queijo Limiano, viva o orçamento
da faneca.
Nota: todas as citações entre aspas
são retiradas do Manifesto Eleitoral do Bloco de Esquerda para as Legislativas
2015, apresentado em julho de 2015.
(in Opinião por João
Taborda da Gama )