segunda-feira, 19 de outubro de 2015

a incomensurabilidade ou o “não trocar alhos por bugalhos”...

Ao longo do tempo fui tendo em diversas ocasiões a mesma sensação de desconforto, e ainda bastante recentemente isso aconteceu quando ouvi de vários comentadores políticos de diversos quadrantes elogios à actuação de Mariana Mortágua na Comissão de Inquérito ao caso BES. Como se qualquer posição expressa por um qualquer político pudesse ser descontextualizada do resto das suas posições e avaliada isoladamente.
Volto a sentir o mesmo desconforto no momento actual com a aparente facilidade com que se admite constituir uma maioria de esquerda para governar, somando os votos dos respectivos partidos.
Não me estou a referir aos dirigentes partidários dos partidos em questão, porque esses não me surpreendem quando tentam chegar ao poder de qualquer maneira.
Refiro-me a alguns comentadores e a gente comum. Somar os votos de partidos diferentes após as eleições pode ser legítimo ou não.
No caso de partidos relativamente próximos em termos de matriz ideológica, cultural, ética e de tradição não vejo nenhum problema com isso. Já quando se trata de partidos com uma matriz substancialmente diferente e que ao longo da sua história estiveram frequentemente em barricadas opostas, como é o caso dos três partidos da esquerda portuguesa actual, a minha opinião é outra.
A incomensurabilidade é um conceito importante em ciência e filosofia. Diz-nos que não se podem comparar ou somar de alguma forma coisas que são qualitativamente diferentes. Mas em política, a julgar pelos nossos políticos e comentadores, tudo é comparável e todas as diferenças são encaixáveis numa qualquer bitola comum. (in Isabel Soares no Observador)