sexta-feira, 11 de setembro de 2015

foi o PSD quem chamou a troika!

Isaiah Berlin, inspirado por um velho adágio grego, dividiu um dia os intelectuais em ouriços e raposas: a raposa sabe muitas pequenas coisas, mas o ouriço sabe uma grande coisa. Passos sabe uma grande coisa, Costa sabe muitas pequenas coisas. Uma das questões para os portugueses é saber se, neste momento, lhes convém mais um ouriço ou uma raposa..

Na manhã seguinte, porém, a vitória já não parecia tão clara. Como as flores de certas plantas raras, não durou uma noite.
Ganhar um debate, para quem precisa de ganhar de qualquer maneira, não é complicado: basta fazer o indispensável para que a claque se sinta à vontade ao clamar vitória. Há um truque: estar sempre ao ataque, disparar sobre tudo, não parar de chutar à baliza. Nem é preciso acertar: basta mostrar agitação. Foi o que Costa fez, aproveitando, aliás, a previsível opção de Passos pela impassibilidade do estadista. 
Entretanto, o país, pela voz dos seus comentadores, declarava-se pouco “esclarecido”. O facto é que a situação do país é tal que uma hora de debate nunca seria suficiente para o “esclarecer”.

Em 2011, pouca gente acreditara na viabilidade do ajustamento. O sucesso, até por inesperado, impressionou: fez o PSD e também o CDS aceitarem a “missão” de Passos. Hoje, os anti-passistas da direita estão isolados, ou em trânsito para o PS. Passos pode permitir-se ficar no mesmo sítio, sem variar os temas nem levantar a voz.
António Costa vive outra vida… A sua expectativa, o ano passado, era ser acolhido consensualmente. Não o foi. Viu-se forçado a andar pelos mais variados caminhos e atalhos. Aproximou-se e afastou-se do Syriza. Arranjou Nóvoa, mas também Centeno. Grita contra a “austeridade”, mas quer parecer responsável. Precisa de se distanciar de Sócrates, mas não o pode renegar. 

O debate desta semana confrontou assim duas maneiras de ser. De um lado, Passos Coelho, mais ou menos rígido e solene, avesso a aventuras, preocupado em lembrar o que lhe parece essencial, com muitas explicações, embora por vezes sem eloquência nem rasgo, como durante a segunda parte do debate. Do outro lado, António Costa, cheio de artes e de artimanhas, desesperado, e portanto disposto a tudo, mas frequentemente sem critério, como durante a primeira parte do debate, em que não evitou o ridículo (“foi o PSD quem chamou a troika!”). (baseado no texto de Rui Ramos no Observador )
http://observador.pt/opiniao/passos-e-costa-o-ourico-e-a-raposa/