Já todos passámos por aquele penoso
momento em que nos interrogámos se vale ou não a pena dizer a alguém que se
está a enganar a si mesmo e que era melhor parar de fazer de conta que está
tudo bem.
Quem declarou que “A estratégia do
Syriza foi perdedora desde o início” ou que “Governo grego foi de uma enorme
imprudência” foram respectivamente os mesmos Ricardo Paes Mamede e António
Costa que antes declaravam “Syriza já conseguiu mais do que qualquer Governo
bem comportado na Europa” e “Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá
força para seguir a mesma linha”.
Eles nunca erram, as suas intenções
são sempre as melhores. Os outros é que os enganam. O desenrolar dos
acontecimentos na Grécia tem levado a que muitos daqueles que em Janeiro faziam
declarações ditirâmbicas com a vitória da esquerda radical na Grécia agora
procurem apagar esse mau momento. Como? Reflectindo sobre o seu erro? Tirando
conclusões? Nada disso. Simplesmente culpam o mesmo Syriza e o mesmo governo
grego que há meses incensavam.
A esquerda nunca erra. Desilude-se.
Nunca se engana. É enganada. Mesmo quando confrontada com os resultados mais
catastróficos, o máximo que se lhes ouve é um desalentado “Foi um sonho que
acabou mal.”
A direita erra igualmente mas
felizmente não lhe é permitido o discurso do sonho que acabou em desengano, da
ilusão que se desfez, da utopia que não foi. É erro. É crime. É disparate. E
ponto final. E esta pequena enorme diferença face ao erro explica muita coisa.
Explica por exemplo que à esquerda o anunciado seja sempre mais importante que
os resultados. Explica também que, por essas bandas, aqueles que se tinham como
exemplo ontem se tornem inconvenientes dias depois sem que ninguém estranhe tal
transfiguração. (adaptado de Os Enganados de Helena Matos no Observador )