quarta-feira, 6 de julho de 2011

para ti, Jaime.

Meu caro Jaime,
Esta minha memória prega-me partidas! Não consigo ultrapassar a imagem da “miúda” loura, rija, brilhante, casada e mãe aos 21 anos, naquela “festa de despedida”. Ia ao teu encontro. Sabíamos que os "mfa’s de cá" tinham enviado para os "mfa’s de lá" a ordem para a tua prisão e que na confusão do que meses depois iria ser o PREC, quiçá a tua eliminação física.
A “Zézinha” ia ao teu encontro. "Raptar-te à tropa", disse, porque sabia que por ti, mesmo avisado, não irias fugir, desertar. Conhecia-te bem!
A Maria José ia “à aventura”, “a salto”, deixando para trás o bem precioso que era o vosso filho. Admitia o perigo e sabia que poderia não regressar. Quis estar com os amigos, talvez uma última vez, mas “lugar dela era contigo”, disse-nos, e nunca o esqueci.
O resto é história, aquela que um dia devia ser escrita para a nossa memória futura.
A vida também nos prega partidas. A Maria José deixou-te, deixou-nos, ou talvez não, porque há os que por obras valorosas ficam connosco para sempre.
Abraço,
Zé Costa-Deitado.