No ano de 711, marcou-se o início de uma nova era com a chegada do Islamismo à Península Ibérica, mudando para sempre a história da Europa. Em "2084", Sansa utiliza este ponto de partida histórico para lançar uma previsão ousada sobre o impacto da globalização na ascensão do Islamismo e insinua que, tal como no passado, o Islamismo pode novamente tornar-se uma força dominante, desta vez, não apenas através de conquistas militares, mas por meio de transformações sociais e culturais que acompanham a globalização.
Boualem Sansa, desenha uma visão sombria e inquietante sobre o futuro do mundo sob o domínio de uma ditadura religiosa islâmica. Inspirado no clássico "1984" de George Orwell, e explora as consequências de uma globalização que, segundo ele, irá conduzir o Islamismo ao poder em todo o mundo dentro de 50 anos, começando pela Europa.
O pressuposto de "2084" é a instalação de uma ditadura religiosa islâmica que se estende globalmente, subjugando diversas culturas e sistemas políticos. Sansa imagina um mundo onde as liberdades individuais são suprimidas a favor de uma rígida interpretação da Sharia, a lei islâmica. Apresenta-nos um cenário onde a diversidade cultural é erradicada e todos são forçados a seguir um único conjunto de crenças e práticas.
Em "1984", Orwell descreve uma sociedade onde um governo, liderado pelo “Partido”, exerce um controle absoluto sobre todas as facetas da vida dos cidadãos, utilizando propaganda, censura e vigilância constante. Sansa, em "2024", projecta um domínio semelhante, mas motivado e dominado por uma ideologia religiosa e argumenta que a globalização, com o seu poder de interconectar sociedades e culturas, também tem o potencial de uniformizar crenças e práticas e sugere que a disseminação de valores islâmicos é facilitada pela globalização, especialmente através de movimentos migratórios, intercâmbios culturais e a influência das redes sociais. Este processo pode levar a uma erosão das tradições locais e a uma aceitação crescente da ideologia islâmica.
Boualem Sansa prevê que a Europa será o ponto de partida para esta transformação global. Com uma história de imigração significativa de países de maioria islâmica e uma crescente presença de comunidades muçulmanas nas maiores cidades europeias, Sansa acredita que a Europa pode ser vulnerável a uma mudança ideológica. Segundo ele, é nesta região que os primeiros sinais de uma hegemonia islâmica podem emergir, eventualmente se espalhando para outras partes do mundo.
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Islamofobia ou Realismo?
"2084" tem gerado controvérsia e debate desde a sua publicação e há quem o acuse de alarmismo e islamofobia, enquanto outros elogiam a sua coragem em abordar um tema tão polêmico. A acusação de islamofobia contra Sansa é baseada na percepção de que o livro promove uma visão negativa e estereotipada do Islamismo. No entanto, ao que parece ele está simplesmente a levantar questões importantes sobre o futuro da convivência cultural e a potencial ascensão de ideologias extremistas.
"2084" tem um impacto cultural significativo, incitando diálogo e reflexão sobre o papel da globalização no mundo moderno. Desafia os leitores a considerar os possíveis desdobramentos do intercâmbio cultural e questionar a capacidade das sociedades de manterem suas identidades frente à pressão de forças globalizantes.
"2084" é mais do que um romance; é um aviso sobre os potenciais riscos de uma globalização desenfreada que pode levar ao estabelecimento de uma ditadura religiosa. Inspirado pela obra de George Orwell, Sansa convida-nos a reflectir sobre o futuro do mundo e a importância de preservar a diversidade cultural e as liberdades individuais. Este livro, com suas previsões aterradoras, serve como um alerta para os desafios que podem vir no horizonte e a necessidade de vigilância e preparação para defendermos os valores que consideramos fundamentais para uma sociedade livre e plural.