Primeiro, ostracizou-o com o “não é não”. Depois, ignorou-o durante a campanha. Contados os votos, deparou-se com a inevitabilidade de precisar dele no Parlamento. Os primeiros ensaios mostraram que tinha ali não um aliado circunstancial, mas um adversário declarado. Por isso, e no primeiro debate quinzenal que teve como primeiro-ministro, tentou definir as regras: André Ventura poderá ter 50 deputados, mas quem tem legitimidade para governar é ele; o “imaturo”, “birrento”, “sectário” e “infantil” líder do Chega terá de decidir se quer fazer parte da solução ou continuar a tentar fazer vergar o Governo – coisa que, garante-se, não conseguirá. E se Ventura quiser eleições antecipadas, pois que seja. Num e noutro partido, comenta-se a mudança de registo. A situação está a “agudizar-se” e o caminho é “irreversível”.
Mesmo num contexto de grande imprevisibilidade, o plano é para manter. Depois de 30 dias embrulhado em votações no Parlamento, Montenegro retomou a iniciativa política e despachou redução do IRS, o aumento do Complemento Solidário para Idosos, o pacote para a Habitação e o novo aeroporto. Em breve, no próximo Conselho de Ministros, serão aprovadas medidas para os mais jovens. Bem a tempo das eleições europeias, o que não será, seguramente, uma coincidência. A partir do Governo, acredita-se que a oposição está a ficar sem munições e que Montenegro a ganhar embalo. "O jogo virou."
"Já deu para perceber a atitude do PSD. É uma situação que anda a agudizar-se. O caminho que eles traçaram parece irreversível e o nosso também é", comenta com o Observador um influente deputado do Chega. "Não podemos passar a vida atrás deles. Temos noção que é irreversível. Eles fizeram uma opção e temos de seguir o nosso caminho. Perceberam que só tinham duas soluções: ou voltar atrás com a decisão ou acelerar. Provavelmente vão bater contra o muro, mas não é culpa nossa."
"À boleia da vossa birra do ‘não é não’, os senhores deputados não conseguem dizer sim ao interesse nacional, ao interesse das pessoas e isso transportou-vos para um reduto absurdo. Os senhores deputados só estavam mesmo preocupados com as cadeiras, com os tachos deste lado? Das duas uma: ou os senhores, apesar de não gostarem do meu compromisso do ‘não é não’, conseguem dizer 'sim' ao país, ou então estão hoje objetivamente mais próximos do pensamento e das propostas do PS do que das propostas deste Governo”, afirmou Montenegro no Parlamento.