Alemanha
A acrimónia contra os políticos acontece num momento em que metade dos alemães diz ter pouco ou nenhum interesse nas eleições para o Parlamento Europeu, e dois terços afirmaram estar “bastante insatisfeitos” com as políticas da UE, segundo a mais recente sondagem Infratest Dimap para a ARD. Os mais insatisfeitos, sem surpresa, são os eleitores predispostos a votar na extrema-esquerda (a Aliança Sahra Wagenknecht, BSW, o novo partido crítico das políticas de migração e pró-russo deverá estrear-se com um resultado à volta de 6%) e na extrema-direita (com 15%, a AfD disputa o segundo lugar com os sociais-democratas do SPD e os Verdes). A imigração, a política de asilo e de integração são os maiores desafios da UE para 41% dos inquiridos alemães, seguido dos conflitos internacionais (34%), proteção ambiental e climática (21%) e a economia (20%).
Os democratas-cristãos da CDU/CSU deverão reforçar a votação de forma marginal. Ainda assim, será um resultado que, a confirmar-se, reforça o grupo político do Partido Popular Europeu de Manfred Weber - o candidato oficial em 2019 à presidência da Comissão - e de Ursula von der Leyen, que acabou ficar com o cargo executivo de topo nas instituições europeias. Mas se se tiver em conta que a coligação governamental de sociais-democratas, verdes e liberais acumula divergências de fundo, a CDU/CSU não capitaliza o descontentamento.
Espanha
Os ânimos estão exaltados em Espanha, onde Begoña Gómez, a mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez, foi ouvida em tribunal na qualidade de investigada num caso de tráfico de influências e corrupção em resultado de uma queixa de uma organização de extrema-direita. Sánchez diz ser vítima de uma “montagem grosseira” e o Partido Socialista (PSOE) tenta mobilizar o eleitorado. O mesmo ocorreu do lado dos conservadores do Partido Popular e da extrema-direita do Vox, tendo inclusive o porta-voz do PP comparado Sánchez a Donald Trump. Como é que este caso caído a dias das eleições poderá influenciar o eleitorado é uma dúvida que só se poderá responder no domingo.
Até agora, o PP de Alberto Núñez Feijóo -- que batalhou nos últimos meses, sem sucesso, contra a amnistia dos catalães secessionistas -- estava a liderar as sondagens e em comparação com as europeias anteriores, nas quais obteve 20,1%, se preparava para absorver o eleitorado do Ciudadanos (12,1%). À sua direita, o Vox poderá subir quatro pontos percentuais e chegar aos dois dígitos. Quanto aos partidos do governo, o PSOE deverá rondar os 30%, o que é uma quebra de três pontos em relação a 2019 e menos de dois pontos das eleições gerais do ano passado; e o Sumar terá cerca de metade da percentagem que obteve em 2023, 12,3%. Mas um em cada cinco eleitores estava ainda indeciso, pelo que a distribuição dos 61 lugares - a Espanha é um dos 12 estados-membros a ganhar representação, no caso dois eurodeputados - pode reservar alguma margem para surpresas.
França
Em 2019, a Reunião Nacional de Marine Le Pen obteve mais votos do que o partido de Emmanuel Macron - mas este apresentava-se pela primeira vez às eleições europeias e conseguiu o mesmo número de deputados que o partido de extrema-direita, 23.
Agora, as sondagens indicam que o jovem Jordan Bardella se apresta a encabeçar uma lista que deverá crescer cerca de dez pontos, para 33%, enquanto a candidata de Macron, Valérie Hayer, só entusiasma 15% dos inquiridos. A sua lista, Besoin d'Europe, está a curta distância do ressurgido PS, numa eleição em que os votantes parecem sobretudo exprimir a sua insatisfação para com o presidente da república e para o governo do seu partido, agora liderado por Gabriel Attal.
Itália
O fenómeno de popularidade Giorgia Meloni deverá confirmar-se, com a própria a encabeçar a lista do seu partido, Irmãos de Itália. O partido que mais sofre com a estratégia da primeira-ministra é a Liga de Matteo Salvini, também de extrema-direita. Nas anteriores europeias, a Liga obteve 34,2% e agora deverá receber 9%, enquanto os Irmãos de Itália deverão passar de 6,4% para 27%.
A confirmar-se, Meloni recebe uma dupla validação, a da agenda doméstica, onde prossegue uma agenda do seu campo político, e a da agenda externa, onde se mostra pragmática e seguidora de valores europeus, além de apoiante sem reticências da Ucrânia num país em que o político mais influente das últimas décadas, Silvio Berlusconi, era amigo de Vladimir Putin.
Polónia
É o primeiro teste para as forças pró-europeias da coligação de Donald Tusk, num país vizinho da guerra e cujo eleitorado escolheu em novembro passado travar o caminho isolacionista do Partido Lei e Justiça.
As sondagens apontam para um empate entre estes dois blocos e o antigo presidente do Conselho Europeu não fez por menos, ao afirmar num comício que a escolha é entre “quem quer afastar o drama da guerra” do seu país e de quem estava sempre em conflito com Bruxelas.