... que há muito anda a destruir o que de bom há em Portugal.
Apesar da vontade da população portuguesa para que haja um governo de direita, como ficou demonstrado pelo resultado das eleições de 10 de Março em que elegeu mais de 61% dos deputados, e apesar de os portugueses estarem fartos da chantagem de esquerda a que diariamente são sujeitos, há certos grupos, em determinados sectores da sociedade, que não se conseguem libertar do complexo de esquerda que continua a prejudicar Portugal.
Este complexo de esquerda é o principal responsável pelo atraso relativo em que Portugal caiu nos últimos 30 anos. O primeiro passo para que o país se volte a desenvolver, e para que os portugueses vejam a sua qualidade e o seu nível de vida melhorar, é acabar de vez com os seus efeitos perniciosos na sociedade portuguesa.
O complexo de esquerda é propagado através de palavras, das mentiras, das políticas, de notícias e de práticas diárias em Portugal e no exterior. A sua divulgação e a sua impregnação nas políticas e nas práticas da sociedade portuguesa custam muito ao país e esses custos são visíveis pelos resultados que geram.
Em que é que resulta o complexo de esquerda? Os seus resultados são muito significativos: falta de habitação, baixos salários, saúde insuficiente, fraco crescimento, alunos sem aulas, investimento não produtivo, opressão cultural, insuficiente desenvolvimento e divisão e estagnação na sociedade.
O complexo de esquerda está presente diariamente na televisão, nos jornais, nas rádios e nas conversas de café. Predomina em temas como a Palestina, em que profissionais do activismo da ajuda humanitária repetem acriticamente na RTP os números de mortos divulgados pelo Hamas. E não se limitam a repetir o número de mortos, repetem também todo o discurso propagandístico dos opressores palestinianos que subjugam as mulheres, para a seguir irem discursar numa manifestação contra a violência doméstica que atinge as portuguesas.
A omnipresença deste tema contrasta fortemente com a ausência de outros, como se verifica pelo desinteresse com que é encarada a morte anual de milhares de pessoas em África, tema que muitos dos mesmos profissionais de activismo da ajuda humanitária preferem ignorar. Só em 2022 decorreram 16 guerras no continente africano, com um número de mortos desconhecido, mas estimado em largas dezenas de milhar.
O complexo de esquerda está também presente nas limitações e proibições ao cultivo de organismos geneticamente modificados na agricultura em nome da preservação da natureza. Mas o mesmo complexo promove a existência de diferentes “géneros” dentro do género humano, e a defesa da manipulação do género humano para a promoção da autodeterminação do “género”, impondo dogmaticamente, e sem aceitar qualquer discussão, uma mudança antropológica que é uma negação da própria natureza.
Esta hipocrisia é muito grave pelos custos enormes que tem para as sociedades: impede a investigação científica aplicada à melhoria ambiental e às necessidades das pessoas, prejudicando dessa forma a produção de alimentos em zonas do Mundo onde estão em falta, e limita os ganhos de produtividade na agricultura, o que significa que com menos recursos e com menos água, se poderia produzir mais alimentos de que necessitamos para viver.
Mas o custo é ainda maior nas sociedades ocidentais, onde esta ideologia está a provocar o desmembramento das sociedades, gerando divisões que, mais tarde ou mais cedo, darão em distúrbios e conflitos que poderão ser muito sérios.
O complexo de esquerda também trata por igual os partidos que defendem a democracia liberal com os partidos que defendem uma democracia iliberal ou uma pseudo-democracia “directa”. Nas democracias liberais a liberdade de expressão também inclui a liberdade para o disparate. Em liberdade os partidos podem existir, os seus dirigentes podem dizer os disparates que entenderem, os jornalistas podem noticiar o que quiserem e os eleitores podem ou não apoiar esses mesmos disparates.
O complexo de esquerda só autoriza alguns disparates, os que se enquadram na sua visão sobre os sistemas políticos, e defende a extinção de partidos que dizem outros, como também esta semana ouvimos ser proclamado na RTP por uma comentadora do jornal Público fortemente imbuída desse complexo. Nas democracias iliberais que o complexo de esquerda quer “normalizar” não há lugar para o disparate dos outros, apenas para o seu. Na União Soviética também havia eleições de braço no ar, mas não havia uma democracia.
O complexo de esquerda apenas prevê a possibilidade de saúde e educação serem fornecidos pelo Estado, mesmo que sejam piores, e nega qualquer outro papel que a sociedade possa ter, e ao mesmo tempo não hesita em colocar os filhos em colégios privados e em frequentar os hospitais que a sua fúria estatista ainda não conseguiu encerrar.
Também esta semana uma jornalista tentava na CNN negar que o fim das PPPs na saúde se devesse a questões ideológicas, argumentando com o que o governo dizia. Mas enquanto o governo dizia que não, os seus parceiros diziam que sim, e foi durante esta “santa” aliança entre uma ministra que exibia os seus complexos de esquerda cantando a “Internacional” e os seus parceiros que também cantam a “Internacional” que não foram renovadas as PPPs.
O complexo de esquerda nega a entrada em Portugal de imigrantes que chegam de avião para comprar casas, mas escancara as portas aos que são trazidos por redes de criminalidade organizada para trabalharem em Portugal, proibindo qualquer controlo à entrada e tentando esconder os que se amontoam em quartos, ou os dormem em carros ou na rua.
São muitas e variadas as manifestações do complexo de esquerda, mas qual é a sua origem em Portugal? Talvez pela sua simplicidade, a resposta veio esta semana de uma pergunta de uma jornalista da SIC Notícias a Miguel Morgado, quando este elencava a mediocridade acumulada por Augusto Santos Silva ao longo de 30 anos de passagem pelo poder. A pergunta ingénua da jornalista é paradigmática deste complexo e reveladora da mentira em que Portugal vive há longos anos relativamente ao papel da esquerda e aos contributos que traz à sociedade: “E achas que o Bloco de Esquerda é um partido radical?”.
Quando uma jornalista, que é suposto ser uma pessoa informada, questiona se o Bloco de Esquerda é um partido radical, está a dizer tudo. Revela simplesmente que não acha que seja. O que é extraordinário se olharmos para os antecedentes e o percurso do Bloco de Esquerda desde a sua formação. A base marxista e trotskista, que não por acaso é a mesma de Augusto Santos Silva, confirma de imediato a sua radicalidade num país que se quer livre e democrático.
Mas não se pense que o radicalismo do complexo de esquerda se limita ao Bloco. O PCP continua a defender os regimes comunistas 35 anos depois da queda da União Soviética. A nova coqueluche da bolha mediática nacional, Rui Tavares e o Livre, desenvolveu a teoria de que a política portuguesa se divide em três blocos – todas as esquerdas, onde se incluiu, a direita democrática, que só passou a existir depois do Chega aparecer porque até aí era fascista, e a nova direita antidemocrática, o Chega – e que só a primeira, mesmo que apenas tenha um terço dos deputados, tem um direito natural a governar o país.
Esta tentativa de manipulação e de eliminar a vontade dos portugueses expressa pelo voto é mais uma prova de que o complexo de esquerda ainda predomina em vários sectores da sociedade e de que esses sectores, onde pontua a extrema-esquerda, não são democráticos.
E há muitas franjas dentro do PS que se orgulham de possuir o mesmo complexo de esquerda. Santos Silva é um dos seus representantes que demonstrou ao longo do tempo ser um trauliteiro na política, um verdadeiro Conselheiro Acácio da III república que não hesitou em proibir uma exposição no parlamento contra as ditaduras totalitárias.
O complexo de esquerda há muito que anda a destruir o que de bom há em Portugal. Mas o pior cego é aquele que não quer ver, e pessoas muito decentes, e jovens muito ingénuos, deixam-se encantar e caem muitas vezes no erro de votar em partidos radicais que promovem o seu radicalismo. É assim desde o 25 de Abril de 1974. Por isso voltarei a este tema daqui a um mês, nos 50 anos desta data.
( em “Complexo de esquerda” por Ricardo Pinheiro Alves )