sábado, 28 de janeiro de 2023

Safira, uma preciosa aldeia abandonada no Alentejo

No ano 1768, o Padre Thomás de Vasconcelos Camello, enquanto pároco da igreja de Nossa Senhora de Safira, referia que aquela freguesia tinha “57 propriedades, e nelas se incluem 120 fogos onde residem 578 pessoas. No alto de uma charneca estão edificadas a igreja e as casas do padre e do sacristão”.
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Palavras que podem ser lidas num documento histórico, onde também se refere a prática de atividade religiosa local, a existência de um templo e suas alfaias, a atividade agrícola e de pastorícia e até os estragos registados em Safira decorrentes do terramoto de 1755 (“uma racha no arco da Capela-mor, outra na parede lateral direita e alguns prejuízos no campanário e no sino”). Existem também indícios da existência de uma fábrica de cal e ainda de uma mina de arsénio, na Herdade da Gouveia de Baixo, e outra mina de cobre e ferro, na Herdade da Caeira.
Progresso fatal
Este pequeno relato transmite a ideia de uma aldeia singela e modesta, mas que não resistiu ao evoluir dos tempos, pelo menos no que à vivência humana diz respeito. Já que a natureza domou por completo o local, sendo invejáveis as quantidades de pássaros e flores que por lá abundam.
Safira foi também zona de título de nobreza, nomeadamente para Augusto Dâmaso Miguens da Silva Ramalho da Costa, um grande proprietário em Montemor-o-Novo, onde exerceu também o cargo de Presidente da Câmara local. Augusto recebeu o título de Visconde, por decreto do Rei D. Luís em 30 de abril de 1886 e, posteriormente, foi ainda elevado a Conde. O nobre faleceu a 3 de fevereiro de 1945, não tendo nunca mais existido este título.
IGREJA DE SAFIRA: O ANTIGO EX LIBRIS

A igreja de Nossa Senhora da Natividade de Safira, na aldeia de Santa Maria de Safira, pertence à freguesia das Silveiras, e encontra-se, tal como acontece com o resto da aldeia, não só abandonada, como também parcialmente destruída. Restam a fachada e as paredes de um edifício mandado construir no bispado do Infante Cardeal D. Afonso, no séc. XVI, filho de D. Manuel I e Bispo de Évora e de Lisboa.
Foi muita afetada após o terramoto de 1775, o que parece ter sido o início da decadência da região, algo que se verificou em meados do séc. XX.