Durante anos e décadas, os evidentes
crimes que existem no mundo do futebol foram escondidos e protegidos por
políticos engravatados, por responsáveis engravatados e por comentadores
engravatados.
Hoje, quando tudo se tornou
insustentável, estão a tremer de medo, como sempre. Incapazes de enfrentar
clubes e adeptos, fazem de conta que não é nada com eles e dizem, virginais,
que o melhor é chamar a polícia. [...]
Eis o novo mantra da nossa intelligentsia futebolística:
“À Justiça o que é da Justiça, ao
desporto o que é do desporto”. Onde é que já ouvimos isto? [...]
“Não são adeptos do desporto”? Claro que são.
“Não é um caso desportivo”? Claro que é. “O futebol não é isto”? Claro que é. O
ponto, aliás, está precisamente aí: o que está em causa neste momento é aquilo
em que se transformou o futebol português — numa república independente onde
não há lei nem punição, onde só há deslumbramento e subserviência.
Basta olhar para a nossa classe
política:
o primeiro-ministro e os ministros
aparecem, inchados, nas bancadas presidenciais dos estádios;
os deputados, submissos, recebem os
presidentes dos clubes no parlamento;
os presidentes de câmara, solícitos,
entregam as sedes dos municípios às equipas que vencem campeonatos;
os políticos no activo, excitados, participam
em debates na televisão que competem com circos.
(in “Agora
o futebol quer chamar a polícia?” por Miguel Pinheiro)