[...] ao mesmo tempo que se serve do
«Expresso» para anunciar um «pacto futuro com a «direita», a entrevista
destina-se sobretudo a tentar mudar o sentido de uma conjuntura política
adversa a António Costa. A declaração de calamidade começa, aliás, por reforçar
os meios autoritários do Estado a fim de apertar ainda mais o controle sobre a
comunicação como de resto já sucede por intermédio de uma funcionária que
debita o relatório diário do governo sobre os fogos.
[...] O PS e os seus porta-vozes na
comunicação social começaram por omitir que a recuperação da economia
portuguesa já estava em curso quando a «geringonça» assumiu o poder; depois,
atribuíram-na às chamadas reversões; a seguir, à criação de emprego estatal e
para-estatal; mais recentemente, ao aumento do turismo e, ultimamente, às
exportações, as quais se devem, na realidade, ao crescimento de países
economicamente austeros como a Espanha.
enquanto isso
[...] a propaganda governamental
omite, obviamente, o facto estrutural de o aumento das exportações de baixo
valor acrescentado, como sempre foi o caso do turismo e não só, fazer crescer
ainda mais as importações, mantendo-se portanto os défices seculares da balança
comercial e financeira. Continua, pois, tudo como dantes: o país está entregue
ao clientelismo governamental, dependente do crescimento externo e condenado à
dívida. Esta é que é a calamidade que explica as outras calamidades. ( in o “Estado
de calamidade” por Manuel Villaverde Cabral
)