Faltam três dias para se completarem
dois meses desde o incêndio de Pedrógão Grande. Sobre o que correu mal, há
versões em abundância, mas certezas ainda só uma prevalece: o governo tudo fará
para se descartar de responsabilidades, tanto operacionais como políticas.
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...a 19 de Junho, dois dias após o
incêndio de Pedrógão Grande, a equipa do ministério da Administração Interna informou que a rede SIRESP estava “a funcionar com
toda a normalidade” e que “em nenhum momento esteve inoperacional”.
...a 6 de Julho, quase três semanas
depois e com muitas averiguações feitas aos serviços da Administração Interna,
o governo assegurou que as
falhas no SIRESP eram de “menor relevância”.
...a 17 de Julho, António Costa
abria a porta ao reconhecimento de que o SIRESP havia deixado de funcionar num
momento crítico, afirmando que “temos de ter uma rede que funcione em
todas as circunstâncias – é inadmissível que não funcione, em particular as
redes de comunicações de emergência”.
...a 28 de Julho, a ministra da
Administração Interna assume a existência de um “problema efectivo” no SIRESP, mas deixa o aviso aos seus
críticos: “é uma falta de sentido de Estado estar sempre a lançar lama sobre o
SIRESP e a desestabilizar”.
...a 9 de Agosto, a ministra da Administração Interna fez saber
que pediu à Secretaria Geral do seu ministério que iniciasse “os procedimentos
necessários à efectivação da aplicação de penalidades à SIRESP SA por falhas de
disponibilidade e por falhas de desempenho, em cumprimento do contrato, bem
como da sua responsabilidade enquanto operadora, pelo funcionamento do sistema”.
...a 12 de Agosto, surja a
quinta versão dos factos, desta vez pela boca do primeiro-ministro, para
que fique definitiva: o SIRESP “colapsou” mesmo e a responsabilidade afinal é da
PT.
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Sim, Marcelo vincou que há que “apurar tudo, mas mesmo tudo” sobre o
que aconteceu em Pedrógão Grande. Mas se, no final, aceitar este atira-culpas
político, fará também ele parte do logro.