“Dir-se-á que não é para praticar
políticas de direita que está em funções um governo de esquerda. É
verdade. Digam-nos só de onde virá o dinheiro, daqui a alguns anos, para pagar
estas políticas que têm todo o aspecto de bombas-relógio. Ou ainda seremos tentados
a pensar que, se a austeridade é de direita, então a bancarrota é de esquerda.
…
Há um ano toda a gente diria que
António Costa seria hoje primeiro-ministro.
Mas há um ano ninguém sonharia que
ele o seria desta forma: perdendo uma eleição que só podia ganhar por muitos
mas conseguindo o apoio parlamentar com o BE e o PCP que lhe permite começar a
governar.
As regras do jogo são estas e não
adianta perder muito mais tempo nesta discussão.
A direita tem motivos para estar
irritada. Está irritada porque ganhou umas eleições para as quais partiu para
tentar perder por poucos, mas ainda assim não governa. E está irritada porque
fez o trabalho duro que tinha que ser feito e aqueles que levaram o país à
bancarrota acabam agora por voltar ao poder numa conjuntura muito melhor do que
a que deixaram há quatro anos.
…
Mais difícil será a percepção das
políticas que deixam facturas para pagar no futuro.
O regresso pleno das empresas de
transportes à esfera pública é um deles. A dívida que estas empresas acumularam
no passado foi um cancro e um fardo pesado para os contribuintes mas como
ficava fora do perímetro orçamental não era visível à vista desarmada. A
entrega destas empresas ao PCP e à CGTP – talvez a maior exigência dos
comunistas como moeda de troca para o apoio ao governo – vai fazer regressar
todos esses vícios. As greves que já estão marcadas para as próximas semanas –
em nome de quê? – não podiam ser mais elucidativas sobre isso.”
por isso
Digam-nos só de onde virá o
dinheiro, daqui a alguns anos, para pagar estas políticas que têm todo o
aspecto de bombas-relógio. (por Paulo
Ferreira no Observador)