sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A ponta do iceberg e o resto

“Dir-se-á que não é para praticar políticas de direita que está em funções um governo de esquerda.  É verdade. Digam-nos só de onde virá o dinheiro, daqui a alguns anos, para pagar estas políticas que têm todo o aspecto de bombas-relógio. Ou ainda seremos tentados a pensar que, se a austeridade é de direita, então a bancarrota é de esquerda.
Há um ano toda a gente diria que António Costa seria hoje primeiro-ministro.
Mas há um ano ninguém sonharia que ele o seria desta forma: perdendo uma eleição que só podia ganhar por muitos mas conseguindo o apoio parlamentar com o BE e o PCP que lhe permite começar a governar.
As regras do jogo são estas e não adianta perder muito mais tempo nesta discussão.
A direita tem motivos para estar irritada. Está irritada porque ganhou umas eleições para as quais partiu para tentar perder por poucos, mas ainda assim não governa. E está irritada porque fez o trabalho duro que tinha que ser feito e aqueles que levaram o país à bancarrota acabam agora por voltar ao poder numa conjuntura muito melhor do que a que deixaram há quatro anos.
Mais difícil será a percepção das políticas que deixam facturas para pagar no futuro.
O regresso pleno das empresas de transportes à esfera pública é um deles. A dívida que estas empresas acumularam no passado foi um cancro e um fardo pesado para os contribuintes mas como ficava fora do perímetro orçamental não era visível à vista desarmada. A entrega destas empresas ao PCP  e à CGTP – talvez a maior exigência dos comunistas como moeda de troca para o apoio ao governo – vai fazer regressar todos esses vícios. As greves que já estão marcadas para as próximas semanas – em nome de quê? – não podiam ser mais elucidativas sobre isso.”
por isso

Digam-nos só de onde virá o dinheiro, daqui a alguns anos, para pagar estas políticas que têm todo o aspecto de bombas-relógio. (por Paulo Ferreira no Observador)