Podemos não ter a melhor
direita da Europa, mas Portugal é o melhor país europeu em termos da direita
que tem. Tivéssemos uma esquerda igualmente tão boa, e seríamos um país bem
melhor.”
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“Vários políticos e
intelectuais querem convencer os portugueses que a direita se tornou radical e
a extrema-esquerda, em dois meses, ficou moderada. A narrativa – como agora se
diz – apresenta António Costa como muito “humano” (até aparece na Caras), em contraste
com o “frio” Passos Coelho. Do mesmo modo, a “doce” Catarina e o “bonacheirão”
Jerónimo são mais “moderados” que o “maquiavélico” Portas. Até o Observador, na
mente conspirativa de Pacheco Pereira, se tornou uma publicação “da direita
radical”, apesar de ser dirigida pelo mesmo director que convidou Pacheco a
escrever no Público.
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Na farsa que estão a
tentar vender aos portugueses, mais do que transformar a direita em
extrema-direita, estão a tentar criar a ideia que ser de direita é uma posição
extremista e radical. O que faria de Portugal um país único no mundo. O único
país sem uma direita democrática. Passa-se o oposto. A direita portuguesa é
absolutamente democrática, moderada e europeia. Mais, além da Espanha, Portugal
é o único país na Europa onde não há um partido extrema-direita. Para mim, uma
razão de grande orgulho no nosso país. Podemos não ter a melhor direita da
Europa, mas Portugal é o melhor país europeu em termos da direita que tem.
Tivéssemos uma esquerda igualmente tão boa, e seríamos um país bem melhor.”
As categorias políticas que se
aplicam em toda a Europa não servem para o nosso país. Para muitos (incluindo
alguns do “velho” PSD), Portugal tem dois partidos de esquerda (PCP e BE), dois
partidos de centro-esquerda (PS e PSD) e um partido do centro (CDS). Ou pelo
menos tinha sido sempre assim até Passos e Portas chegarem ao poder.
Se colocarmos os mesmos partidos no
Parlamento Europeu, vejam como o retrato fica muito diferente. O PCP e o BE
passam da esquerda para a extrema-esquerda (juntos no grupo mais radical de
esquerda e anti-europeu); o PS continua no centro-esquerda; e o PSD e o CDS
passam para a direita (ou centro-direita para as almas mais sensíveis).
Na semana que passou, assistimos a
dois exemplos que demonstram claramente onde estão os extremos políticos em
Portugal.
Comecemos em França. Ninguém tem
qualquer dúvida sobre o posicionamento político da Frente Nacional: é um
partido de extrema-direita. Na última semana, eu vi toda a direita portuguesa a
mostrar uma grande preocupação com o crescimento da Frente Nacional em França
(aliás, mostrou-o bem mais do que a esquerda).
Vamos agora para fora da Europa,
atravessando o Oceano Atlântico até à Venezuela. Encontramos um governo que
impôs um regime de violência política sobre o seu povo. Prendeu opositores
políticos, usa a força indiscriminadamente e restringiu a liberdade de imprensa.
Perdeu agora as eleições – com a oposição a alcançar uma maioria de 2/3 no
Parlamento – mas ameaça começar uma guerra civil. Desde as eleições, o
Presidente Maduro ainda não parou de citar Estaline, esse grande campeão da
democracia e da liberdade. Quem em Portugal apoiou com fervor e entusiasmo o
socialismo de Chavez? O PCP, o BE e muitos sectores do PS. O antigo
primeiro-ministro socialista Sócrates desenvolveu mesmo uma relação de
proximidade política com Chavez. Claro que agora, para a esquerda, é incómodo
falar da Venezuela.
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Mas a Venezuela pode ainda tornar-se
um problema para o governo português. Existe uma grande comunidade portuguesa
no país, maioritariamente contra o governo de Maduro e a favor da oposição. O
que dirá o governo português se Maduro usar a violência e não respeitar os
resultados eleitorais? Será que há vozes no PS capazes de celebrar a vitória
das forças democráticas e condenar o regime chavista? E haverá alguma voz no BE
– só uma – que diga que se enganaram e que a experiência chavista foi um
desastre para a Venezuela? Haverá alguém no BE que pense pela sua cabeça e que
tenha alguma coragem? Eis a diferença entre a direita e a esquerda em Portugal.
A direita condenou sempre a Frente Nacional. Parte da esquerda defendeu e
apoiou Chavez e Maduro. Quem não entende esta diferença, não percebe a
importância da democracia. (por João Marques de Almeida no Observador)