sábado, 12 de dezembro de 2015

a direita se tornou radical e a extrema-esquerda que ficou moderada…

Podemos não ter a melhor direita da Europa, mas Portugal é o melhor país europeu em termos da direita que tem. Tivéssemos uma esquerda igualmente tão boa, e seríamos um país bem melhor.”
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“Vários políticos e intelectuais querem convencer os portugueses que a direita se tornou radical e a extrema-esquerda, em dois meses, ficou moderada. A narrativa – como agora se diz – apresenta António Costa como muito “humano” (até aparece na Caras), em contraste com o “frio” Passos Coelho. Do mesmo modo, a “doce” Catarina e o “bonacheirão” Jerónimo são mais “moderados” que o “maquiavélico” Portas. Até o Observador, na mente conspirativa de Pacheco Pereira, se tornou uma publicação “da direita radical”, apesar de ser dirigida pelo mesmo director que convidou Pacheco a escrever no Público.
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Na farsa que estão a tentar vender aos portugueses, mais do que transformar a direita em extrema-direita, estão a tentar criar a ideia que ser de direita é uma posição extremista e radical. O que faria de Portugal um país único no mundo. O único país sem uma direita democrática. Passa-se o oposto. A direita portuguesa é absolutamente democrática, moderada e europeia. Mais, além da Espanha, Portugal é o único país na Europa onde não há um partido extrema-direita. Para mim, uma razão de grande orgulho no nosso país. Podemos não ter a melhor direita da Europa, mas Portugal é o melhor país europeu em termos da direita que tem. Tivéssemos uma esquerda igualmente tão boa, e seríamos um país bem melhor.”
As categorias políticas que se aplicam em toda a Europa não servem para o nosso país. Para muitos (incluindo alguns do “velho” PSD), Portugal tem dois partidos de esquerda (PCP e BE), dois partidos de centro-esquerda (PS e PSD) e um partido do centro (CDS). Ou pelo menos tinha sido sempre assim até Passos e Portas chegarem ao poder.
Se colocarmos os mesmos partidos no Parlamento Europeu, vejam como o retrato fica muito diferente. O PCP e o BE passam da esquerda para a extrema-esquerda (juntos no grupo mais radical de esquerda e anti-europeu); o PS continua no centro-esquerda; e o PSD e o CDS passam para a direita (ou centro-direita para as almas mais sensíveis).
Na semana que passou, assistimos a dois exemplos que demonstram claramente onde estão os extremos políticos em Portugal.
Comecemos em França. Ninguém tem qualquer dúvida sobre o posicionamento político da Frente Nacional: é um partido de extrema-direita. Na última semana, eu vi toda a direita portuguesa a mostrar uma grande preocupação com o crescimento da Frente Nacional em França (aliás, mostrou-o bem mais do que a esquerda).
Vamos agora para fora da Europa, atravessando o Oceano Atlântico até à Venezuela. Encontramos um governo que impôs um regime de violência política sobre o seu povo. Prendeu opositores políticos, usa a força indiscriminadamente e restringiu a liberdade de imprensa. Perdeu agora as eleições – com a oposição a alcançar uma maioria de 2/3 no Parlamento – mas ameaça começar uma guerra civil. Desde as eleições, o Presidente Maduro ainda não parou de citar Estaline, esse grande campeão da democracia e da liberdade. Quem em Portugal apoiou com fervor e entusiasmo o socialismo de Chavez? O PCP, o BE e muitos sectores do PS. O antigo primeiro-ministro socialista Sócrates desenvolveu mesmo uma relação de proximidade política com Chavez. Claro que agora, para a esquerda, é incómodo falar da Venezuela.
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Mas a Venezuela pode ainda tornar-se um problema para o governo português. Existe uma grande comunidade portuguesa no país, maioritariamente contra o governo de Maduro e a favor da oposição. O que dirá o governo português se Maduro usar a violência e não respeitar os resultados eleitorais? Será que há vozes no PS capazes de celebrar a vitória das forças democráticas e condenar o regime chavista? E haverá alguma voz no BE – só uma – que diga que se enganaram e que a experiência chavista foi um desastre para a Venezuela? Haverá alguém no BE que pense pela sua cabeça e que tenha alguma coragem? Eis a diferença entre a direita e a esquerda em Portugal. A direita condenou sempre a Frente Nacional. Parte da esquerda defendeu e apoiou Chavez e Maduro. Quem não entende esta diferença, não percebe a importância da democracia. (por João Marques de Almeida no Observador)