O que é que andam a fazer
exactamente os canais de TV terrestre em Portugal?
Não conheço quase ninguém
que ainda acompanhe a sua programação, para além do telejornal da noite, o que
já é um enorme desafio. Quem é que, às oito da noite, tem uma hora e meia, ou
duas horas, para se sentar a ver tantas notícias, embora de facto não sejam
muitas notícias…
Há reportagens de tiro
rápido, filmadas na rua por jornalistas sem fôlego, sempre com “vox pops” de
demasiadas pessoas com demasiadas coisas para dizer, mas que nunca acrescentam
substância ou informação à notícia. No fundo, o vox pop da rua é o equivalente
das caixas de comentários “below the line”. Depois segue o futebol, que enche o
resto da programação. Poucos outros desportos aparecem.
As horas do dia enchem-se
com “shows” fúteis, feitos para velhotas pouco curiosas e capazes de se
pasmarem perante muita coisa. As audiências no estúdio são compostas de
mulheres de meia-idade ou velhotas com penteados grandes e pullovers justos,
que seguem as deixas dos apresentadores para se rirem ou fazerem caras tristes
nos sítios certos.
Ao fim da noite, aparecem
os tudólogos, sempre as mesmas caras cada semana, sempre nas mesmas discussões
(ou não-discussões) sobre pormenores que pouco interessam à maior parte da
gente, que naturalmente não vive obcecada pela política.
Há, obviamente, uma
audiência para estas tretas do dia e da noite… por enquanto. As pessoas que
veem e gostam disto não conhecem outras coisas, e continuam a ver e a gostar, e
a acreditar que isto é que é televisão. As velhotas sem curiosidade devem gerar
rendimentos suficientes para que os canais continuem. Para já. Mas no futuro, o
que poderá acontecer?
O que será quando a
geração das velhotas sem curiosidade desaparecer, para ser substituída por uma
geração mais sofisticada que nunca viu a televisão terrestre porque está agora
a ver os canais americanos? (extracto do artigo de opinião de Lucy Pepper in Observador)