Se o velho sistema político grego,
corrupto, doente e ineficaz, não tivesse colapsado na sequência da crise
financeira aberta em 2008, por muito talentoso que Tsipras fosse nunca
conseguiria levar o seu pequeno partido da esquerda radical, que antes valia
apenas 3% dos votos, até aos 36% que lhe permitiram estar hoje no poder. Nesse
artigo recomendava-se que o jovem primeiro-ministro não tentasse abusar da
sorte, pois ela de pouco lhe serve no tipo de negociações que tem tido pela
frente.
Os radicais gregos não desejam
apenas combater a austeridade – eles querem é tirar partido do descontentamento
provocado pela austeridade para promoverem um tipo de sociedade radicalmente
diferente da nossa. Eles não são reformistas ingénuos, são revolucionários que
querem aparecer como pragmáticos. Tal como Álvaro Cunhal em 1975, eles não
querem uma “democracia burguesa” – só são diferentes de Cunhal porque
não sabem muito bem o que querem, pois longe vão os tempos da União
Soviética.
o Syriza, ao ocupar o poder e ao
colocar os seus homens nos lugares chave, está a mostrar que não é menos
clientelar do que os velhos partidos gregos. Um bom exemplo disso é a forma
como reabriram a televisão pública e a transformaram num instrumento de propaganda. Não que
os outros não tivessem antes feito o mesmo – a diferença, hoje, é que
já ameaçam os operadores privados com a cassação das suas licenças,
uma ameaça “à venezuelana”.
A Grécia do Syriza no euro será
sempre uma crise permanente, pois aquele partido não é apenas um PS um pouco
mais radical – o Syriza é uma coligação de radicais que são convictamente
contra o que os menos sofisticados, ou menos dissimulados, designam como
“capitalismo” – basta ver o discurso de alguns dos manifestantes que têm saído à
rua em apoio do governo. Mais: ao mesmo tempo, muitos na Grécia começam a
sentir que as suas promessas foram enganadoras e que a sua agenda pode acabar
numa catástrofe, e também esses já começaram a sair à rua, porque não se imaginam fora do euro
ou afastarem-seda forma de vida democrática e livre da
União Europeia.