sábado, 28 de setembro de 2024

um contributo para os 50 anos da História do 25A

O que os sócio-fascistas vos tem ocultado!
(um dia a história os julgará!)

O Estranho Caso do 28 de Setembro

0 28 de Setembro de Jaime Nogueira Pinto
Há 50 anos, na noite de Sexta-Feira, 27, para Sábado, 28 de Setembro de 1974, fui procurado em Lisboa, com algum empenho, por um destacamento do COPCON – Comando Operacional do Continente –, a unidade chefiada pelo brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho.
Não fui, evidentemente, o único: nessa noite, véspera da manifestação da “Maioria Silenciosa”, umas largas centenas de “fascistas”, de “reaccionários”, de “miguelistas”, de “legionários”, de “ex-ministros da Ditadura” ou de meros suspeitos de poderem vir a constituir “um perigo para democracia” foram procurados e detidos por grupos de militares.
Procuraram-me, como disse, com algum empenho: primeiro foram à minha última morada de solteiro, que eu deixara em Janeiro de 1972 mas que constava dos registos da Faculdade de Direito. A gentileza da informação deve ter partido de alguns colegas “associativos”, que não terão querido perder a oportunidade de contribuir para a marcha da revolução, denunciando um culpado de delito de opinião. Tendo eu furado algumas greves, impedido algumas unanimidades e animado alguma oposição ao poder que exerciam na Faculdade (um poder tão ou mais totalitário do que o que os “vitimava” e ao país fora da universidade), como resistir, dois anos depois, a um irresistível “não passará!”?
Imagino que os soldados do COPCON que faziam a rusga também respirassem o ar festivo de Abril, gozando as alegrias de andarem, já não em África, atrás de “turras”, mas na capital atrás de “fachos”. Ah a aura romântica da revolução e a beleza de caçar fascistas!
Mas nessa noite de há 50 anos não encontraram o fascista em questão no quarto alugado da Av. Rio de Janeiro, 46, a morada que estava nos arquivos da Faculdade de Direito. Passaram por isso a interrogar a senhoria, uma velha senhora que, sob pressão, lá lhes deu a morada que ali tinha num convite de casamento.
E para lá seguiram as tropas. Entraram, revistaram a casa, não me encontraram e, ao contrário do que fariam noutros sítios, deixaram tudo onde estava e como estava. Levavam à frente um aspirante miliciano. Com eles ia também um civil – um comissário? – que dava instruções e era ouvido com respeito pela tropa. Seria, muito provavelmente, o Dr. Jean-Jacques Valente.
O comissário político que, na noite de 27 de Setembro de 1974, se passeava com os COPCON’s de casa em casa.
Jean-Jacques Valente era o famoso oficial médico antifascista da Conspiração dos Claustros da Sé, uma conspiração de civis e militares, envolvendo republicanos do reviralho, comunistas e católicos progressistas, todos acolhidos pelo pároco da Sé. Entre os mais dinâmicos animadores da conspiração estivera o capitão José Almeida Santos, Manuel Serra e Varela Gomes. O capitão Nuno Vaz Pinto, monárquico ultramarinista, mais tarde meu amigo e conspirador anti-marcelista, também lá tinha estado.
Como outros conspiradores da Sé, Jean-Jacques Valente foi julgado e condenado. Preso no forte de Elvas, acabou por evadir-se com Almeida Santos, ajudado por um cabo da Guarda Nacional Republicana, António Gil. Seguiram-se meses de fuga e clandestinidade, primeiro em Chaves, depois no Sul, perto de Lisboa. Tudo acabou num huis-clos dramático, com Jean-Jacques e Gil a assassinarem a sangue-frio Almeida Santos. José Cardoso Pires recriou toda esta história em A Balada da Praia dos Cães e José Fonseca e Costa traduziu-a por imagens.
O crime passou-se em 1960 mais ou menos nos termos descritos no excelente romance de Cardoso Pires e no belo filme de Fonseca e Costa e conforme a reconstituição dos factos da Polícia Judiciária. Jean-Jacques Valente e o cabo António Gil tinham matado a sangue-frio o seu correligionário e companheiro de fuga de Elvas: Gil disparara, Valente disparara, mas, como a pistola encravara, Jean-Jacques tivera de acabar Almeida Santos à pancada com as tenazes da lareira.
Ora era precisamente este Dr. Jean-Jacques, o tenaz misericordioso de 1960, o valente bom-selvagem, o comissário político que, na noite de 27 de Setembro de 1974, se passeava com os COPCONS de casa em casa.
Como é que o assassino de um correligionário, um assassino frio e a frio, capaz de acabar barbaramente com um seu companheiro de conspiração e revolução, aparecia, anos depois, nas unidades militares destacadas para fazer prisões políticas – como consultor, como conselheiro, como comissário político, o que fosse?
Mas lá estava ele. Convém acrescentar que, naqueles tempos, tudo era possível: a poesia descera à rua, pintavam-se os muros e a vida de vermelho e passavam-se mandados de captura em branco. Até Jean-Jacques Valente na Quinta Divisão era possível.
O espírito do tempo
Sobre o 28 de Setembro de há 50 anos e para que o leitor consiga entrar no espírito do tempo e veja ou leia para crer, aconselho a leitura do capítulo relativo ao episódio em Textos Históricos da Revolução, com organização e introdução de Orlando Neves (disponível online).
A introdução reza assim:
“A passos lentos, mas quase sempre irreversíveis, a marcha para a destruição da máquina fascista e do aparato capitalista prosseguia […] A espíritos eivados de anquilosamentos passadistas ou a espíritos avidamente interessados em defender os seus privilégios não podia agradar este ambiente geral do País”.
E depois? – perguntará o leitor – Depois,
“o capitalismo e mais uma vez com ele todos os seus naturais aliados, em especial a social-democracia, tentam o golpe espectacular (e sangrento pois estava previsto o derramamento de sangue para que, em nome da «ordem» e da «autoridade», Spínola assumisse o poder absoluto ao decretar o seu desejado estado de sítio)”.
Como “espírito eivado de anquilosamentos passadistas”, não resisti à extensa citação.
O que se seguiu fo o aproveitamento da ingenuidade e confusão de Spínola e dos spinolistas (ou melhor “do capitalismo e de todos os seus naturais aliados, em especial a social-democracia”) para avançar com um, já não hipotético, mas verdadeiro golpe; um golpe travestido de contragolpe, usando como instrumentos a Quinta Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas e o COPCON.
Inicialmente chefiada por Vasco Gonçalves, que logo em Julho 74 a deixaria para abraçar o cargo de primeiro-ministro como “companheiro Vasco”, esta Quinta Divisão controlada e animada pelo PCP tinha, entre outras funções, “detectar desvios no cumprimento do programa do MFA e propor medidas para a sua correcção”. Ficámos também a dever-lhe as campanhas de Dinamização Cultural. E ao lado desta mítica Quinta Divisão estava o ainda mais mítico (mas também bastante real) COPCON.
Passo então a citar o Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, mais conhecido por Relatório das Sevícias (também disponível online):
“A partir de 28 de Setembro de 1974, o COPCON surge com poderes ilimitados sobre a segurança e a liberdade das pessoas, arvorando-se até no direito de decidir pleitos, dirimir questões civis, resolver problemas de habitação […] Efectuava ainda apreensões de bens e congelamentos de contas bancárias e decretava medidas limitativas da liberdade, tais como interdição de saída para o estrangeiro, residência fixa, etc.”
Reacção em cadeia
Nessa noite iniciava-se, executada pelo COPCON, uma acção que levaria à prisão de cerca de 300 pessoas (números do Relatório das Sevícias), sem contar com os agentes da PIDE. Eram pessoas ligadas à manifestação da Maioria Silenciosa, ao governo ou a organizações do anterior regime e a “partidos e jornais situados à direita, depois do 25 de Abril”. Em Caxias, era a própria “Reacção em cadeia”, nas palavras do Quito Hipólito Raposo à entrada, ainda no pátio, fazendo da tristeza e da tragédia graça.
Os tais “elementos dos partidos e jornais situados à direita depois do 25 de Abril” foram a chave e a razão da operação; uma típica operação comunista, orquestrada com o apoio dos meios de comunicação social, que foram exaltando o já de si exaltado primeiro ministro Vasco Gonçalves e outros líderes do MFA e espalhando desinformação sobre a “conspiração da extrema-direita” e “o golpe spinolista”. Havia que prender todos os que estavam a pôr em perigo a democracia. Motivo do encarceramento? “Associação de malfeitores”.
“As prisões foram efectuadas por forças militares do COPCON, mas também por grupos civis, ou pelo menos orientados por civis. É de registar sobretudo a intensa actividade desenvolvida por um médico, membro do PCP”.
Lá estava ele no relatório, o Dr. Jean-Jacques Valente, o médico, o comissário político que no dia 27 de Setembro acompanhou os emissários da democracia e da liberdade do COPCON que vieram por mim e por muitos outros nessa noite. Era quase Stevenson: The Strange Case of Dr. Valente and Mr. Jean-Jacques.
A inventona de 28 de Setembro não foi mais do que um pretexto da esquerda comunista e da ala mais esquerda do MFA para, alegando golpe e contra-golpe, poder matar no ninho da serpente a direita que se organizava para, ao abrigo das leis da Democracia e em democracia, se bater por uma solução que permitisse salvar o que pudesse ser salvo no Ultramar e do Ultramar. E defender, na Metrópole, a liberdade contra os seus maiores inimigos de sempre: os comunistas e a esquerda radical.
Como consta do Relatório das Sevícias, as prisões dessa noite, geralmente por instigação de militantes do MDP-CDE, foram acompanhadas de denúncias e de mobilização de multidões. O regime restaurador da democracia e das amplas liberdades conseguiria assim a proeza de exibir em Outubro de 1974 mais presos políticos do que os que lá estavam no dia 24 de Abril de 1974.
Nessa noite, quando da visita ao que julgavam ser o meu paradeiro em Lisboa, eu estava em Carmona como alferes miliciano, na Acção Psicológica. Poucas semanas antes do 25 de Abril tinha trocado com um camarada meu, que estava mobilizado. Sendo então um convicto defensor do Portugal ultramarino, não me passava pela cabeça não servir em África. E como me oferecera mas nunca mais me chamavam, resolvi trocar com um mobilizado.
Em Carmona, no Sábado, começaram a chegar as notícias, esparsas, de que na Metrópole se prendiam “reaccionários” ad hoc. Em Angola, Rosa Coutinho procedia também à limpeza e neutralização de quaisquer movimentos políticos que se desviassem da “linha geral” do MFA, vitorioso em Lisboa.
A partir desse 28 de Setembro preparei a fuga para a única fronteira possível – a do Sudoeste Africano, hoje Namíbia. Na Sexta-Feira seguinte, 4 de Outubro, pus-me a caminho. Seguiram-se quatro anos de exílio – na África do Sul, no Brasil e em Espanha.

28 de Setembro. A maioria silenciosa. O "desmantelamento" do MFP-PP

A “maioria silenciosa” e o desmantelamento do MFP-PP
28 de Setembro. O acontecimento político derradeiro e funesto para o Partido do Progresso 
Eventualmente existiu algum diálogo com a Presidência República e com os elementos spinolistas da Junta de Salvação Nacional, sobretudo com o coronel Galvão de Melo- maior entusiasta desta demonstração de força- relativamente às pressupostas movimentações da manifestação da “maioria silenciosa” (Rodrigues, 2010). Estes contactos eram tidos através do embaixador Nunes Barata, assessor diplomático do presidente da república, bem como comunicações com o major Monge e o capitão António Ramos, ajudante-de-campo do general Spínola. Já no domínio partidário, deve destacar-se uma alegada reunião organizada pelo Partido Liberal- apoiante incondicional da manifestação, tendo sido o centro político e grande coordenador civil da mesma-, no Edifício Franjinhas em Lisboa, onde terão estado representados para além deste partido: PPD, CDS, MFP-PP, PTDP, MPP e o Partido Social Democrata Independente (PSDI) (Rodrigues, 2010: 495). Ainda assim, Freitas do Amaral (1995: 242) nega o envolvimento do CDS em qualquer movimentação preparatória da manifestação, referindo apenas um contacto oficioso de dois elementos do Partido do Progresso numa fase já bastante adiantada do processo preparatório.
É nas movimentações prévias à planeada demonstração pública de 28 de setembro que é possível confirmar, pelo menos, uma conduta cooperante do MFP-PP no que concerne à organização desta manifestação, mormente naquele que terá sido o seu ensaio geral: a corrida de touros da Liga de Antigos Combatentes realizada a 26 de setembro. O Banco Espírito Santo terá financiado a compra de bilhetes para a referida corrida de touros, tendo sido distribuídos não só pelo PL, mas também por militantes do MFP-PP.
Parte dos militantes do MFP-PP presentes na tourada tomariam também parte nos confrontos com militantes de extrema-esquerda, sobretudo da UDP, que tiveram lugar nas imediações do Campo Pequeno após o final do evento. Desde a fase organizativa embrionária a comissão organizadora tem disponíveis fundos do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa por ordem direta dos seus donos, não só em nome da comissão organizadora e de elementos do PL, mas também em contas de dirigentes do MFP-PP (Marchi, 2020: 135). De resto, os documentos do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa alegadamente comprovam uma generosa concessão de crédito ao Partido do Progresso que de 6 a 30 de setembro terá recebido dois créditos de 750 contos cada um, numa conta em nome de JCD, um dirigente do MFP-PP, com morada na sede do partido, que supostamente serve de financiamento para a impressão do cartaz da “maioria silenciosa” (Marchi, 2020).
Assim, ainda que de forma velada- não há qualquer dirigente do partido na comissão organizadora- é possível confirmar pelo menos um comportamento colaboracionista para com a organização da manifestação. Não obstante, o comportamento do MFP-PP no 28 de Setembro não deixa de ser complexo, na medida em que politicamente há uma discordância unânime no partido relativamente à realização da manifestação, esgotando todas as vias comunicacionais para persuadir todos os atores políticos envolvidos a pelo menos suspender a realização da manifestação. O MFP-PP tem uma leitura estratégica muito assertiva relativamente à falta de oportunidade da manifestação, e às consequências políticas funestas que dela poderiam advir, preferindo resguardar o partido com vista à participação no processo eleitoral para a assembleia constituinte. Desta feita, recusa “qualquer tipo de actuação que possa revelar oportunismo aventureiro, imediatismo ou total irrealismo”, reprovando “quaisquer atitudes que ameacem o processo de normalização da vida política portuguesa”, rematando de forma lacónica: “Com o sentimento fazem-se revoltas. Com o pensamento fazem-se revoluções”. Só na madrugada de 27 para 28 o MFP-PP torna público o seu apoio com um comunicado que, segundo António Maria Pereira (1976: 113), foi fruto de diligências de Spínola que exortou os dirigentes a tomarem posição. A sede partidária do Porto é saqueada logo na noite de 27 de setembro e os móveis e documentos incendiados na Praça da Liberdade, o que, porventura, terá despoletado a conclusão política aos dirigentes de que apenas lhes restaria avançar. Logo nessa noite são levadas a cabo as primeiras prisões com o beneplácito de Costa Gomes ao encargo da COPCON (Cervelló, 1993: 208). Pese embora este posicionamento do MFP-PP, o PCP escolhe o Partido do Progresso como principal alvo da sua “inventona”, atribuindo-lhe um papel central na busca por armamento para o suposto golpe de estado das direitas (Marchi, 2020: 135).

Desta forma, fracassando a manifestação da “maioria silenciosa” prevista para 28 de Setembro, não há
nenhum processo de ilegalização do MFP-Partido do Progresso, mas antes de desmantelamento do partido. Isto é, não houve nenhum procedimento legal, mas sim a utilização do dispositivo militar do estado para o aprisionamento político de todos os principais dirigentes do partido- com o consequente exílio dos que se puseram em fuga do país- e a invasão e posterior assalto dos espaços ocupados pelo MFP-PP, bem como a destruição da grande maioria da sua documentação (Ramos, 2016: 63). Assim, tendo sido efetivadas as detenções na madrugada de 27 para 28 de setembro e ao longo dos dias seguintes, pode, oficiosamente, assinalar-se a extinção do MFP-PP com a ocupação da sua sede nacional, no dia 2 de outubro de 1974 por um piquete da COPCON, com sindicalistas de esquerda simultaneamente a invadirem as instalações da distribuidora da Tribuna Popular e do jornal Bandarra, queimando todas as cópias. A perseguição e ilegalização são também prova da relevância política do MFP-PP e um determinado estatuto de dominância nesta área política, na medida em que outros partidos não foram alvo de represálias de tal ordem: o PTDP não foi alvo de qualquer repressão, sendo que as direções políticas do PDC e MPP escapam praticam incólumes à onda de prisões pós-28 de setembro (Marchi, 2020). No caso do PL, dado ter sido o grande protagonista político-partidário da manifestação, não poderia ter como resistir ou evitar as consequências político-militares.
(Rafael Oliveira Dias – O Percurso do Movimento Federalista Português – Partido do Progresso)

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Deixem-os ser como o PS?

Não vou comentar as negociações do Orçamento. Não tentarei adivinhar o que querem o Governo e as oposições. Pareceu-me, porém, ter percebido o que queria o país quando votou a 10 de Março: libertar-se do governo do Partido Socialista. Mas nada neste mundo é sem equívoco. Esse voto podia ser interpretado de duas maneiras: uma abrangente, e outra restrita. Na interpretação abrangente, os portugueses votaram para ser governados de outra maneira. Na interpretação restrita, os portugueses votaram apenas para serem governados por outro partido, mas da mesma maneira. Creio não haver dúvidas sobre qual a interpretação preferida pelos actuais governantes.

Não falo de todos os ministros. Falo dos líderes políticos do governo. Se por acaso acreditam em alguma
coisa, é que os seus antecessores socialistas descobriram a maneira certa de exercer o poder. As regras são simples. Primeira: clientelizar pensionistas e funcionários – e temos assim aumentos salariais para quase metade da função pública. Segunda: dirigir os benefícios, não aos cidadãos em geral, mas a certos segmentos, de modo a fomentar identidades assentes na dependência do Estado – e temos assim o IRS jovem. Terceira: uma dose de wokismo para aplacar o comentário televisivo – e temos assim a relutância de definir “mulher” e o boicote a Israel. O fim do exercício é óbvio: fundar um bloco eleitoral grato ao governo, e por isso avesso a arriscar alternâncias. Foi assim que o PS saltou por cima de escândalos e fracassos para vencer eleições. Foi assim que “mudar”, um slogan recorrente no fim do século XX, desapareceu do linguajar político.

Dir-me-ão: a direção política do governo só mostra sabedoria. Trata de escalar o poder usando a escada mais segura. Mas há aqui um problema. No PS, isto não era apenas um expediente: era uma ideologia, de quem acreditava e propunha que a sociedade deve ser comandada pelo Estado. O PSD, ao longo de décadas, pareceu acreditar e propor outra coisa: um Estado apenas subsidiário de uma sociedade civil autónoma e empreendedora. Foi esse o projecto de Sá Carneiro em 1980, de Cavaco Silva em 1985 ou de Passos Coelho em 2011. Era um projecto “liberal” e patriótico, porque concebido como a via adequada para tornar a nação mais livre, próspera e coesa. Apelava, ao mesmo tempo, à aspiração de independência pessoal e ao brio colectivo. Mobilizou gerações que desejavam ter casa própria, mas também viver num país a subir nos rankings da UE. Esse projecto, apesar do que o PS fez crer, ainda vale votos, ou não se teria passado nada a 10 de Março.

A liderança do governo não pode renegá-lo: primeiro, porque nunca conseguirá desviar para si toda a clientela do PS, e precisa do eleitorado tradicional do PSD; segundo, porque existem agora à direita outros partidos para lhe disputar essa herança e esses votos. Por isso, o governo evoca Cavaco Silva, e o seu mítico “deixem-me trabalhar”. Mas em 1985, Cavaco Silva não trabalhava simplesmente para ganhar eleições. Queria ganhar eleições, claro. Mas rompendo com o socialismo herdado do PREC. Não se propunha exercer o poder como os outros, mas libertar a sociedade civil e deixar os cidadãos, no novo contexto europeu, procurar o crescimento económico e a mobilidade social. Mais tarde, fez até esta coisa que ia contra toda a ciência de eleger maiorias: liquidou o monopólio estatal da TV. Hoje, porém, o que o actual governo parece propor-se é ganhar eleições fazendo o mesmo que o PS. O seu “deixem-nos trabalhar” soa cada vez mais como “deixem-nos ser como o PS”. Talvez não seja o que o país quer, e não é certamente o que o país precisa.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Um tratado sociológico sobre a vida dos habitantes da bolha...

Recomeça a «guerra do Orçamento», como li já não sei bem onde, por entre notificações e demais lixo electrónico. O dr. Montenegro reunirá com o dr. Pedro Nuno e o país, em já avançado estado de ansiedade, não consegue mais suster a respiração pelo respectivo resultado, e permanece, suspenso, aguardando pelo momento final em que possa, por fim, bocejar. Resolvido o problema dos incêndios, voltemos, pois, agora ao problema do Orçamento, que se resolverá da mesma forma: com o passar do tempo, até ao ressurgimento do mesmíssimo problema, tempos depois.

É, de resto, notável a rapidez com que os temas desaparecem do chamado espaço público. O caso dos incêndios só é mais interessante do que todos os outros porque é um dos que mais comove as massas e mais mobiliza o jornalismo, e porque tem o dom de desaparecer do debate mais depressa do que o tempo que ocupa o incêndio propriamente dito.

Henrique Pereira dos Santos publicava aqui, no Observador, um texto alertando para o que provavelmente acontecerá daqui a meia dúzia de anos se mantivermos esta disciplinada inércia no que diz respeito à política de gestão do fogo. Terá sido, talvez, o remate final na exposição mediática do tema. Pereira dos Santos, lamentavelmente, regressará, como outros, ao lugar de sempre, e para onde se remete quem ainda sabe alguma sobre os temas, que é o deserto, onde poderão continuar a pregar.

Daqui a tempos, cá estaremos novamente, os que estiverem, para nos indignarmos, vociferar contra os incendiários, era atá-los a um pinheiro e deixá-los arder, e esperar que chova. Por essa altura, as televisões voltarão a chamar os mesmos de sempre, e, também como sempre, ignoraremos o que têm para dizer. Até lá, teremos sempre com que nos entreter, o comentário é inesgotável, a velocidade das notícias provoca-o, sem que haja, por uma vez, um debate sério e profícuo sobre políticas públicas do futuro ou sequer uma avaliação sobre as implementadas.

Resta-nos a táctica, a guerrilha, a análise comportamental dos seres politicamente activos, num debate público que tem mais de forma do que de conteúdo, essencialmente guiado por um presidente da República que é o pai de toda esta criação, dos próprios agentes políticos aos “comentadores” e “analistas” de quase tudo, já consagrados ou ainda aspirantes.

Na verdade, o mundo vive tempos demasiado interessantes, no sentido em que viver em tempos interessantes é uma maldição, para que a pobre política portuguesa, sem relevância, sem estrutura, sem sequer interesse algum, e já com provas dadas da sua incapacidade reformadora, tenha alguma capacidade de atrair vontades ou dedicação. Lá fora, dos cenários políticos aos conflitos bélicos, do comércio aos movimentos sociais, tudo parece acontecer. Cá dentro, o doutor Montenegro reunirá com o doutor Pedro Nuno, sob o olhinho vivo e ameaçador do professor Marcelo, para se debruçarem sobre o Orçamento do Estado, sem o qual, dizem, o país, o mesmo país onde o multibanco está tantas vezes “indisponível”, aparentemente não sobrevive.

Pelo caminho, há que franzir o sobrolho, fazer voz grossa, asseverar os perigos desta ou daquela solução, enaltecer a astúcia deste ou daquele, como se aquilo que se diz, se comenta, se analisa, tivesse sequer alguma importância ou interesse mais do que a do entretenimento de uma minoria que questionavelmente se interessa por estas coisas. Ao mesmo tempo, assiste-se à telenovela, a verdadeira, em sinal aberto, à ficção nas diversas plataformas, à verdadeira ficção, e não a esta outra que é a política portuguesa. Tudo isto é um aborrecimento pegado. E, ao contrário do que previ, não me deixei entusiasmar assim tanto com esta ideia da campanha eleitoral permanente, sem cores e sem bandeiras, sem comícios e sem panfletos, sem beijos a velhinhas e sem aqueles ajuntamentos de “jovens”, como quem assegura a sua preocupação seja lá com o que for. 
Esta campanha eleitoral permanente é um tédio monumental, não serve nada, não serve ninguém. Excepto, imagino, o jornalista-activista que se gostaria mais como político e ao qual faltam habilidades, e o comentador-sem-mais-nada-que-fazer, que precisa do recibo para viver. Haja alguém.

 

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

migrações

As respostas foram recolhidas através de 997 inquéritos online em julho de 2024 e os dados indicam um agravamento do sentimento dos portugueses em comparação com dados de 2017 do Eurobarómetro ou um relatório da Organização Internacional para as Migrações de 2015

Doadores!!!


Eloquente. 
Isto é apenas para cumprir os limites legais que, coitados, são letra morta.
(João Gonçalves)



domingo, 15 de setembro de 2024

Francisco Lucas Pires

 



Nenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. 
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Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.
(O Príncipe da Democracia de Nuno Gonçalo Poças)

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

deixar-se ir e ficar...

Z. Zagalo dizia, a respeito da carreira do sogro do conde d’Abranhos, que o desembargador Amado «deixou-se ir e chegou». É, talvez, a expressão que tudo define. Eça de Queirós não era um sociólogo, terá sido mesmo, de certa forma, injustamente olhado como um retratista de época, que o foi menos do que um observador atento de certos tipos de cidadão português que têm percorrido épocas, regimes, sociedades, modas. «Deixar-se ir e chegar» é a frase definidora de uma certa, e naturalmente generalizada, categoria de elite portuguesa, como quem alcança sem esforço e sem glória, sem saudade e sem registo, embalada por uma conjuntura imutável toda ela feita de gente que se deixa ir e lá vai chegando, em socorro e amparo dos demais imbecis espíritos de Corte, naturalmente extractivos, vulgarmente solidários com a estupidez dos congéneres.
Recordei-me, por estes dias, e a propósito já nem me lembro bem de quê, do saudoso Artur Baptista da Silva, um burlão a quem alguma comunicação social deu – por alturas, evidentemente, do Governo de Passos Coelho – o palco necessário para ensaiar uma narrativa, em benefício de uma agenda política vastamente apreciada na imprensa nacional. O desgraçado aldrabão seria depressa descoberto e não houve, porque nem tudo é tão mau assim, hipótese de o salvar, não sem antes ter direito a largos minutos televisivos, crónicas laudatórias das suas teses, e mesmo a fornecer uma entrevista para uma secção de um jornal (chamada, acertadamente, ‘Vida Inteligente’), a tempo salva de saltar para as bancas e para a eternidade das hemerotecas – tudo possível na medida em que o charlatão, mais vítima que culpado, teve apenas o mérito de embasbacar a cretinice que lhe deu então voz e relevância.  
Baptista da Silva não terá percebido, sabe-se lá por que razões, que não precisava de mentir, invocando ocupações profissionais e condições académicas falsas, para se elevar ao patamar da importância pública portuguesa. Exemplos de casos de sucesso, em tonalidades semelhantes às do burlão, sobejam, sem a necessidade da burla descarada, e até já com selos académicos verdadeiros que lhe podiam ter sido oferecidos a troco da difusão da agenda política certa e apreciada. Artur tinha as ideias certas para vingar. Faltou-lhe, talvez, a astúcia necessária. Ter-lhe-ia bastado ser franco, afirmar solenemente e a quem de direito a sua falta de pergaminhos, impôr-se aos almoços certos, sorrir muito, irradiar o seu charme de asno, enfim, existir, pastando, deixar-se ir e, por fim, chegar.
Artur não resistiu à fantochada que o próprio não impôs a ninguém, mas que lhe foi proporcionada. Sobreviveram-lhe os proporcionadores, num país onde tudo se tolera com esporádicos esperneares cívicos, como um boi que, estando impregnado de moscas, sacode, de quando em vez, a cauda para espantar uma ou outra.
Parece haver, em quase tudo, uma certa indisponibilidade para o levantamento da moral colectiva. Talvez mais por falta dessa mesma moral, o que é uma fatalidade; mas, por outro lado, por uma certa e melancólica apatia burguesa que nos afasta de outros patamares de actuação, o que é uma fortuna: afinal, a melancolia é o que nos salva da desgraça revolucionária. Mas entre a revolução e a inércia subsiste, intocável, um oceano de oportunidades. Julgo que lhe chamam reformismo. E que me parece já impossível de alcançar. É que, neste regresso de férias e princípios de Outono, enquanto os Baptistas da Silva homologados e os deputados da Nação, boa parte ainda sem biblioteca, discutem o Orçamento do Estado, os desenhos políticos do futuro, os «cenários», em análises infinitas, todas estas coisas me parecem inúteis e irrelevantes, sem conteúdo histórico ou pertinência intelectual, não se vislumbrando em toda esta cacofonia uma ideia, uma filosofia, um futuro. A melancolia e a apatia começam a parecer-me melhor refúgio, confesso. Pelo menos neste sítio onde tudo corre sem sobressaltos e todos parecem desejar, somente, deixar-se ir e chegar. O leitor perdoará.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Lei da Rolha

MARCELO DE TELEGRAM
O que impressiona já não é a lei da rolha, mas sim a desfaçatez política de quem apregoa que a lei é igual parta todos. Obviamente, não é, sobretudo para quem tem eventualmente algo a esconder.

Uma coisa é Donald Trump, outra é Marcelo Rebelo de Sousa. 
É assim que a esquerda fandanga continua a gritaria sobre o controlo das redes sociais.Que o diga o Marcelo Rebelo de Sousa que ficou a salvo do escrutínio, segundo despacho do milionário presidente da Assembleia da República:

domingo, 8 de setembro de 2024

Milhares de pessoas terão sido assassinadas a tiro, catana, queimadas vivas…

O 7 de Setembro de 1974 em Moçambique tem muito de perturbante. Mas o facto de sabermos tão pouco sobre o que ali aconteceu nessa data também.                                                                                               

Milhares de pessoas terão sido assassinadas a tiro, catana, queimadas vivas… Talvez tenham sido três mil. Talvez mais. Talvez menos. Dificilmente sairemos do domínio das estimativas porque nunca houve a preocupação de saber o seu número ou as circunstâncias da sua morte. Eram brancas, negras, asiáticas, mestiças. 
Em Portugal, nos jornais, nas rádios e na televisão nunca houve dúvidas: tratou-se de uma “aventura colonial da última hora” por parte da “miuçalha branca” que ensombrou o “momento de júbilo”.

Comecemos pelo “momento de júbilo”? Estamos em Setembro de 1974. 

Ou seja, o que em Moçambique temiam, quer as minorias branca e oriental, quer os simpatizantes e dirigentes negros de vários partidos e movimentos nacionalistas, estava consumado: os moçambicanos, a quem menos de três meses antes Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial garantira um referendo para decidirem o futuro daquele território, iriam passar a viver numa república popular dirigida pela Frelimo. Como o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, declarara a 6 de Setembro ao chegar a Lusaka para firmar os acordos com a Frelimo: “a delegação portuguesa estava na Zâmbia para entregar o poder à Frelimo.” De facto era isso que estava a acontecer. É portanto este “o momento de júbilo”. E é aqui que começa a “última aventura colonial” protagonizada pela “miuçalha branca”.

A 7 de Setembro, o Rádio Club de Lourenço Marques é ocupado e passa a designar-se Rádio Moçambique Livre. Os ocupantes declaram-se contra o que definem como entrega de Moçambique à Frelimo. Entre os ocupantes do Rádio Club estão também líderes nacionalistas negros como Joana Simeão, Paulo Gumane e Uria Simango. Apelam à intervenção de Spínola, com quem alguns, na qualidade de membros da FICO (Frente Integracionista de Continuidade Ocidental), se tinham encontrado tempos antes no Buçaco. Aí, garantem, o Presidente da República ter-lhes-ia dito “Façam vocês qualquer coisa que mostre a vontade da Província, para eu vos apoiar.” Eles fizeram “qualquer coisa”. Mas em Setembro de 1974, com o Acordo de Lusaka já firmado, com Spínola cada vez mais fragilizado e obcecado com o futuro de Angola, era tarde demais para que o apoio do ainda presidente da República se pudesse fazer sentir. Os revoltos resistem até 10 de Setembro. Entretanto a violência explodira: violações, gente decepada, queimados vivos, linchados e vários desaparecidos.

Os acontecimentos do 7 de Setembro de 1974, a violência que os acompanhou e a vaga de repressão que lhe sucedeu marcam um antes e um depois: até ao final de Agosto de 1974, tinham deixado Moçambique 5 mil portugueses. Mas só nas últimas semanas de Setembro e primeiros dias de Outubro saem de Moçambique oito mil portugueses para a África do Sul. Em Lisboa começam a cair pedidos de transferência para a “metrópole” de professores, carteiros, funcionários dos caminhos-de-ferro, da aeronáutica, dos bancos. Em Dezembro, segundo revela Vítor Crespo, Alto-Comissário de Moçambique, em Lourenço Marques sobrava apenas um ginecologista e já nenhum ortopedista.

Simultaneamente a repressão cresce no território administrado por Portugal. O Alto-Comissário Vítor Crespo institui que questionar a representatividade da Frelimo é um crime contra a descolonização e um sinal de racismo. Militares e agentes de segurança portugueses desempenham um papel activo na detenção, interrogatório e entrega à Frelimo daqueles que se lhe opõem, nomeadamente de dissidentes da Frelimo e nacionalistas negros que participaram na revolta do 7 de Setembro. Por grotesca ironia a revolta em que os jornais só viam brancos não só teve a participação de dirigentes negros como estes pagaram com a vida o seu protagonismo nestes acontecimentos: Joana Simeão, Paulo Gumane e Uria Simango, além doutros dissidentes da Frelimo, seriam internados em campos de reeducação daquele movimento e queimados vivos mais tarde.. (No caso de Uria Simango a sua própria mulher, Celina, foi também morta.)

Mas a imprensa portuguesa em 1974 não tem dúvidas: no 7 de Setembro está-se perante uma “revolta dos colonos brancos”, uma “aventura colonial da última hora” protagonizada por “rebeldes brancos”, “miuçalha branca”, “grupúsculos”, “reaccionários”, “ultra reaccionários”, “racistas”, “colonialistas” … que ensombraram o “momento de júbilo” representado pela assinatura do Acordo de Lusaka.

Meio século depois o que surpreende não é que o 7 de Setembro de 74 em Moçambique tenha sido relatado assim mas sim a certeza de que hoje voltaria ser relatado assim. Porque, tal como aconteceu a propósito do 7 de Setembro de 74, não se trata tanto da imposição duma visão dos factos e do seu silenciamento mas sobretudo do poder de instituir o medo de perguntar. Do medo de ser rotulado. Do medo de passar para o lado dos controversos, que é meio caminho andado para passar a conservador e de conservador a reaccionário e de reaccionário a outra coisa qualquer já sem retorno social possível.

Por quanto tempo mais vamos ter de esperar para que se perca o medo de desmontar as efabulações sobre a escravatura como pecado do homem ocidental e branco que se tornaram uma espécie de mantra obrigatório?…

até quando o activismo vai impor o medo de perguntar?
Meio século depois quantos crimes foram necessários para chamar ditador a Maduro?
Ou o que vai ser necessário para que deixe de ser visto como um risco denunciar a ideologia de género nas escolas?
E por quanto tempo mais vamos ter de esperar para que se perca o medo de desmontar as efabulações sobre a escravatura como pecado do homem ocidental e branco que se tornaram uma espécie de mantra obrigatório?…


sábado, 7 de setembro de 2024

o apoio aos jovens, do ensino obrigatório ao superior segundo Costa!

O regresso de Costa, em Évora, revelou um primeiro-ministro parado no tempo, fazendo um discurso político como se estivesse no século XX, em que os canais de distribuição informação eram limitados e muitas vezes facilmente manipuláveis.
Os truques com os anúncios e a manipulação dos números já não convencem os cidadãos, designadamente os jovens – que não emigraram! –, pelo menos aqueles mais lúcidos e informados que não engolem as promessas variadas, aliás, algumas das quais reveladoras de uma enorme falta de imaginação. (RuiCostaPinto )

[para memória futura]
As novas medidas de apoio e a que jovens se destina o plano socialista para impedir a fuga das novas gerações serão
Estudar em Portugal, trabalhar em Portugal e viajar em Portugal para "conhecer a diversidade e beleza do país"?
O presidente do conselho de ministros anunciou, no encontro do Partido Socialista, que o Governo vai aprovar um conjunto de medidas de apoia aos jovens, a começar pelos estudantes do ensino obrigatório ao superior e até aos primeiros anos de trabalho, em Portugal.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

conquista de Mascate no Reino de Ormuz

Neste dia [5 de Setembro], ano de 1507, desembarcou Afonso de Albuquerque no porto de Mascate do Reino de Ormuz, e venceu a resistência que lhe fizeram mais de quatro mil inimigos, que muito bem guarneciam e defendiam a sua Baía e a si mesmos com fortes tranqueiras e bastante artilharia. Mas o nosso valeroso e intrépido Albuquerque, dividindo a sua pouca gente em três terços, intentou e conseguiu o seu desembarque e desbaratou e pôs em fugida, depois de uma brava e porfiada peleja de mais de quatro horas, aos inimigos, desalojando-os da praia e do lugar que entrou e senhoreou por oito dias, dando descanso aos nossos Portugueses e enriquecendo-os com o despojo da terra, a que depois mandou por fogo e à sua famosa Mesquita. Custou-lhe esta vitória a morte de seis Portugueses. Com os mais se fez à vela em dezasseis do mesmo mês para Soar, povoação da mesma costa e do mesmo Rei de Ormuz, e mais defensável por ter uma boa Fortaleza; mas como primeiro lhe tivesse chegado notícia do valor dos nossos Portugueses, se rendeu pacificamente e fez tributários a El-Rei de Portugal. Continuou o nosso Albuquerque a mesma conquista e foi demandar a Vila de Corfação, terra mais forte e regular, e última do domínio de Ormuz na Costa da Arábia, e não obstante estar muito bem provida de gente e artilharia, foi tal o medo que conceberam com a nossa chegada, que a desamparando a terra, foi entrada pelos nossos, saqueada e queimada.
(Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.)

domingo, 1 de setembro de 2024

O Príncipe

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