Neste dia [5 de Setembro], ano de 1507, desembarcou Afonso de Albuquerque no porto de Mascate do Reino de Ormuz, e venceu a resistência que lhe fizeram mais de quatro mil inimigos, que muito bem guarneciam e defendiam a sua Baía e a si mesmos com fortes tranqueiras e bastante artilharia. Mas o nosso valeroso e intrépido Albuquerque, dividindo a sua pouca gente em três terços, intentou e conseguiu o seu desembarque e desbaratou e pôs em fugida, depois de uma brava e porfiada peleja de mais de quatro horas, aos inimigos, desalojando-os da praia e do lugar que entrou e senhoreou por oito dias, dando descanso aos nossos Portugueses e enriquecendo-os com o despojo da terra, a que depois mandou por fogo e à sua famosa Mesquita. Custou-lhe esta vitória a morte de seis Portugueses. Com os mais se fez à vela em dezasseis do mesmo mês para Soar, povoação da mesma costa e do mesmo Rei de Ormuz, e mais defensável por ter uma boa Fortaleza; mas como primeiro lhe tivesse chegado notícia do valor dos nossos Portugueses, se rendeu pacificamente e fez tributários a El-Rei de Portugal. Continuou o nosso Albuquerque a mesma conquista e foi demandar a Vila de Corfação, terra mais forte e regular, e última do domínio de Ormuz na Costa da Arábia, e não obstante estar muito bem provida de gente e artilharia, foi tal o medo que conceberam com a nossa chegada, que a desamparando a terra, foi entrada pelos nossos, saqueada e queimada.
(Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.)