sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

o Chega do Ventura e os Pitonisas

[Foi assim com o CDS e porque estou farto de ler, ver e ouvir as pitonisas gramscianos da imprensa a que temos direito fica para memória futura]
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""... diz ter percebido, talvez demasiado tarde, que o líder do Chega é “populista” e “autoritária”. O desfecho, insiste, está traçado há muito. “Acho que André Ventura é oposição mas nunca será uma alternativa”"

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Quem vai decidir por nós?

O poder da Esquerda

Uma série de escândalos de grande, média e pequena corrupção, desde um primeiro-ministro que já ficou atrás das grades, até às notas e anedotas que circulam pelos gabinetes de S. Bento. E como se não bastasse, nas empresas, trocámos industriais e capitalistas portugueses por accionistas anónimos estrangeiros – chineses, espanhóis, americanos. Não temos um único banco nem uma única grande indústria nas mãos de portugueses e ninguém na classe política, nos media de referência, na oligarquia desta Terceira República parece muito preocupado com isso.
Quem são os responsáveis? Os governantes, que são quem manda, e os governados, que são quem vota.
Mas há uns mais responsáveis que outros. Quem governa Portugal, desde há quase 50 anos, é a Esquerda, com escassos intervalos de centro-direita, basicamente passados a tentar tapar os buracos da Esquerda.
É preciso ter isto presente e saber o que se quer e o que não se quer, para daqui a dois meses não haver equívocos sobre tudo ou quase tudo.
É que, ao contrário do que disse Bill Clinton a George Bush-pai (“It’s the economy, stupid!”), desta vez não é a economia. Ou não é só a economia, já que a economia nacional – excluindo a tributação, os ruinosos rasgos nostálgicos de sobre-estatização, o desinvestimento nos serviços públicos e a falta de incentivo à iniciativa privada nacional, que não são de somenos – é mais depressa decidida em Bruxelas e em Frankfurt do que em Lisboa. Como já não há economias socialistas de direcção central, aqui, a margem de decisão será só se a nossa vai ser mais ou menos socialista, mais ou menos capitalista, mais ou menos liberal, mais ou menos caótica, mais ou menos condicionada pela conjuntura internacional e decidida pela Comissão Europeia – e pelo BCE.
Assim, na escolha eleitoral, devem sobretudo pesar questões políticas, como a independência e a identidade nacionais e a sua defesa, o entendimento da História, a liberdade de expressão, os valores de referência. Queremos viver numa comunidade política independente, num Estado nacional, com fronteiras, numa Europa de nações, ou queremos a abolição dessas fronteiras no federalismo europeu, etapa e via para o globalismo selvagem?


Quem vai decidir por nós II

 

As questões “fracturantes”

E que valores queremos para a sociedade e para as famílias? Queremos descartar os velhos, oferecendo-lhes a morte? Evitar os nascituros, interrompendo-lhes voluntariamente a vida? Queremos o delirante encorajamento da ambiguidade e da transexualidade desde a infância por leis passadas à socapa por executivos em gestão?
Tudo isto tem sido obra da Esquerda, que deixou de se preocupar com aquilo que tradicionalmente a nobilitava – a justiça social e a causa dos trabalhadores, dos marginalizados, dos mais frágeis – para ir atrás de imaginativos “activismos” minoritários de entediadas elites urbano-depressivas. Numa sociedade onde, felizmente, ninguém é penalizado pela sua índole e pelos seus costumes, a maioria dos portugueses espera, pelo menos, não passar a ser perseguida pela sua, talvez pouco imaginativa, “normalidade” – esperança que poderá bem vir a ser vã.
E quanto à História? Vão continuar a chover subsídios aos historiadores e divulgadores da História nacional como uma crónica de esclavagismo e exploração, num masoquismo incontinente, pago pelos impostos de todos? E o Portugal do Estado Novo, vai ser contextualizado e olhado com verdade, no bem e no mal, ou vai continuar a ser divulgado como uma filial da Inquisição e do Terceiro Reich, responsável por todos os males, perante o angelical e impoluto regime que há 50 anos lhe sucedeu?
Este ano completam-se 500 anos sobre o nascimento de Camões e a morte de Vasco da Gama: que irão fazer para os celebrar os que designaram e financiaram uma comissão de festas para, de 2021 e até 2026, celebrar os 50 anos da revolução de Abril e do regime?
É em relação a estes pontos, éticos e ideológicos, que devemos medir e avaliar as agendas dos que se apresentam a voto nas eleições que se aproximam – julgando-os por isso e não pela simples enunciação, mais ou menos vocal, mais ou menos articulada, da sua maior ou menor vontade de combater o partido do governo. É tendo por eixo estes pontos que o eleitorado que se identifica com a Direita – ou mesmo com a não-Esquerda – deve orientar o seu voto, já que são eles que vão determinar a comunidade e a sociedade onde vamos viver – nós, os nossos filhos e os nossos netos.
O voto, o voto útil, já não deve servir só para recusar um mal maior, mas também combater males “subsidiários”, as tais questões fundamentais a que alguns responsáveis políticos escolhem chamar “questões de consciência”, deixando-as, numa cómoda ambiguidade, na mão dos representantes, para que decidam por nós segundo a sua inclinação pessoal.
Deveremos nós, os representados, que sabemos o que queremos e o que não queremos, passar uma procuração a deputados cuja opinião desconhecemos para que votem “em consciência” em questões fundamentais?
Se queremos viver numa comunidade mais segura e numa sociedade mais justa e melhor, não basta rejeitar o que está: temos o direito e o dever de exigir que nos apresentem propostas claras.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

[50 anos depois a Comunicação Social morreu! Venha a Imprensa!]

… o mais estranho é os alegados jornalistas e comentadores ainda não perceberem a diferença entre “comunicação social” e “imprensa” nem entre “fabrico” e “produção”. Por muitas notícias que “fabriquem” só há produção se o mercado as adquirir. E o mercado não é o Estado, são os consumidores.

[E agora] 
Perante as dificuldades, um grupo de comunicação social, chama o Estado.
Mas estamos no país onde foi o Estado, depois das nacionalizações de 1975, quem levou ao descrédito e à ruína a grande imprensa do século XX.
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Lembram-se ou ouviram falar de O Século? 
O Século foi o mais influente e próspero jornal diário que alguma vez existiu em Portugal. Até ao dia em que passou a ser propriedade do Estado. Ao fim de dois anos, fechava [por ordem de Manuel Alegre].

Como é possível, com esta história, falar da propriedade ou do financiamento públicos como remédio para a comunicação social?
(bs “Querem matar um jornal? Chamem o Estado” por Rui Ramos)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Partido CHEGA e André Ventura - Entrevista com o professor universitário Riccardo Marchi (ISCTE)

Enquanto especialista em direita radical portuguesa, Riccardo Marchi, justifica a estratégia de André Ventura — que considera “muito hábil” — com argumentos de eficácia.

Riccardo Marchi, após fazer o seu doutoramento sobre as fações extremas do regime do Estado Novo e de prolongar essa investigação estudando os movimentos na fase de transição democrática, a partir de 1980 a matéria-prima, se não desapareceu completamente, reduziu-se bastante. Com o advento do Chega, surge uma nova direita, populista e com escassa filiação nas direitas tradicionais. Para este professor italiano que vive em Portugal há décadas (a ligação original remonta a 1998, quando fez cá o Erasmus; atualmente está no ISCTE), a oportunidade materializou-se num livro intitulado “A Nova Direita Anti-Sistema — O Caso do Chega” (Edições 70), que já deu origem a uma polémica, com 67 intelectuais a criticarem publicamente a alegada “higienização académica do racismo e do fascismo do Chega” feita por Marchi. 
Para muita gente, André Ventura tornou-se conhecido originalmente como comentador televisivo, especificamente de futebol e enquanto benfiquista. Ao mesmo tempo, escrevia sobre assuntos criminais. Desporto e crime são temas clássicos dos tabloides em todo o mundo. Isso diz-nos alguma coisa sobre uma certa maneira de fazer política? Ele estava interessado na televisão principalmente para se tornar uma figura mediática, para transmitir determinadas ideias. Paralelamente, tentou fazer uma carreira no PSD, mas não acredito que tenha entrado na televisão só para fazer uma carreira política. 
Naqueles anos, entre 2003 e 2016, Ventura começa a operar em várias frentes, e em todas quer ser o melhor: como professor universitário, como escritor de livros, como comentador na televisão, como político... A propósito, acho que lhe caiu bastante mal ser despedido da CMTV. Ele gosta de comunicação. Era uma vertente que não queria largar. O que acha dessa intersecção entre política e futebol, que não se vê noutros países com a mesma intensidade? Com a mesma intensidade, não. Faz parte da cultura política portuguesa. O futebol, o Benfica e o Sporting, as redes de interesses, sempre foram muito fortes em Portugal, mesmo durante o Estado Novo... Isso não pode conduzir a deformações num sistema democrático? Bom, as coisas que me inquietam relativamente ao regime democrático em Portugal são muitas. Por exemplo, o facto de políticos importantes serem os principais comentadores políticos das televisões tem que se lhe diga. Ou um sistema eleitoral que protege os grandes partidos que estão aí desde 1974 e dificulta a entrada de outros no Parlamento. Nas últimas eleições, pela primeira vez, passámos a três deputados únicos, mas na história democrática foi difícil novos desafiadores entrarem. Houve o PRD, mas foi uma coisa rápida, e o Bloco de Esquerda, que conseguiu agregar partidos de esquerda radical que já existiam. Mas o sistema português é muito blindado, devido à lei eleitoral e do modo como são configurados os círculos eleitorais.

https://youtu.be/mwAYG9I1yjI?si=QWOiNkwTIlS1Gfns

os fascistas da extrema-esquerda!

O que é feito de Laura Cravo?

Laura Cravo, mulher de João Galamba, é quadro da CMVM e foi para as Finanças ao abrigo do regime de mobilidade.

A mulher do João Galamba, que estava ministro das Infraestruturas,  não quer continuar como coordenadora técnica no Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) do Ministério das Finanças, depois da polémica gerada em torno de uma putativa nomeação por parte do governo que, na realidade, nunca aconteceu.
"A renovação anual para 2023, que a Dra. Laura Cravo já manifestou que pretende que seja a última, está já instruída e em fase de autorização final", segundo esclarecimentos do diretor-geral do GPEARI, José Carlos Azevedo Pereira, enviados pelo gabinete de Fernando Medina às redações.
Num comunicado de três paginas, José Pereira, reiterou os argumentos usados pelo ministro das Finanças, no Parlamento, para rejeitar as acusações da direita, nomeadamente do Chega e do PSD, sobre uma eventual nomeação ou favorecimento de Laura Cravo por ser casada com o ministro das Infraestruturas.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

O Estado a que isto chegou!

no inicio uma interessante discussão entre comentadores!
...e depois o estado a que isto chegou?

sábado, 6 de janeiro de 2024

50 Anos depois...

A Esquerda habituou-se e habituou-nos a ser, ou pelo menos a parecer, o partido do povo, o partido da democracia, do progresso, da justiça social, da modernidade, de todas as coisas boas. Em Portugal, particularmente, este discurso não foi difícil de sustentar na segunda metade do século XX, sob o regime do Estado Novo, que proibia os partidos políticos e as liberdades democráticas.

É certo que o regime autoritário, nascido do pacto dos militares da Ditadura Nacional com Salazar, viera substituir uma democracia que tinha muito pouco de democrática; uma democracia instalada por um regicídio, em que votavam 7% dos cidadãos, só homens, e em que as eleições eram inevitavelmente ganhas por um partido – o Partido Democrático –, primeiro de Afonso Costa e depois de António Maria da Silva.

De qualquer modo, a partir dos anos 50, o regime estava em séria perda de apoio e popularidade, como mostrou o sucesso de rua da candidatura de Humberto Delgado – um populista vindo da ala mais radical e fascistizante do Estado Novo. Por essa época, as mudanças na Igreja Católica e o aparecer de novas gerações sem memória da “balbúrdia sanguinolenta” da Primeira República tornavam mais claras as grandes carências e desigualdades sociais do país, que os sucessivos governos progressistas também não tinham melhorado.

Salazar não procurava a popularidade. Nos anos trinta fizera algumas cedências de estilo em manifestações multitudinárias ao modo dos fascismos europeus, seus aliados na guerra de Espanha; mas, de resto, escolhia aquele estilo do “sábio”, do “eremita”, do “Professor”, longe das multidões. Apesar de haver uma acção importante na criação de infraestruturas, na luta contra o analfabetismo, nas bases da Educação popular e de estar em curso uma segunda revolução industrial, a sensação de muitos era a de viver num país pobre sob uma velha autocracia adormecida na ponta ocidental da Europa, apoiada pelos padres e pelos polícias.

Paradoxalmente, a guerra de África em 1961, a guerra que levaria, treze anos depois, à crise no corpo de oficiais e ao golpe militar de 25 de Abril, proporcionaria um tempo de renovação do Regime. Vencida a conspiração dos generais em Abril de 1961, a guerra reunia à volta do Governo uma vaga patriótica que ia dos republicanos coloniais à nova geração da direita nacional, a geração que, nos anos 60, ia enfrentar a Esquerda nas universidades e servir em África.

Após o desaparecimento de Salazar e a vinda de Marcelo Caetano, em 1968-74, a Esquerda continuou com sucesso a concentrar-se no poder cultural; e quando foi preciso encontrar uma ideologia legitimadora, escolheu identificar-se em bloco com “a Democracia”, independentemente das opções totalitárias, identificando a Direita com “a Ditadura”, quando não com os totalitarismos fascista e nacional-socialista. Há cinquenta anos que o faz.

Em 1974-75, as inventonas do 28 de Setembro e do 11 de Março neutralizaram a direita “ultramarinista”. Depois houve a manipulação pelos comunistas e esquerdistas de um MFA onde não abundavam as “mentes brilhantes” e o tímido aparecimento de uma direita da Esquerda que serviu de direita do Regime.

A poucos anos da queda final do comunismo na Rússia e na Europa Oriental, estivemos em risco de ter uma experiência comunista e esquerdista em Portugal; risco que deixou marcas, mas a que escapámos graças ao povo do Norte e aos pactos de Ialta. E, dirão alguns, também ao Dr. Soares; mas o Dr. Soares, como outros democratas, só acordou para o perigo totalitário quando viu que era a vítima seguinte. Antes disso, os “fascistas” estavam muito bem nas democráticas prisões de Abril, que conseguiram a proeza de, em Outubro de 1974, depois do 28 de Setembro, terem mais presos do que antes do golpe militar. Sem contar o pessoal da PIDE-DGS.

Hoje as coisas mudaram, na Europa e aqui. Só não mudou a patética reivindicação da Esquerda do monopólio da “Democracia”. E, no entanto, por diferentes razões – imigração agressiva e descontrolada, identidades nacionais ameaçadas, oligarquias partidárias instaladas, protesto – muitos eleitores europeus (supomos que todos eles xenófobos, homofóbicos e portadores das mais deploráveis e abjectas patologias) estão a votar democraticamente nos tais partidos da direita nacional populista, a que chamam de “extrema-direita”, “pós-fascistas” e de “direita radical”.

Aparentemente, os eleitores deixaram de se impressionar com os adjectivos com que, à esquerda, os arautos de todas as democráticas virtudes os continuam a mimar. De tal modo que em alguns países europeus os ditos partidos “de extrema-direita” já estão no governo e noutros deixou de se poder governar sem eles e muito menos contra eles. E tudo isto sem golpes de Estado, sem autoritarismos, em democracia.

Vamos a ver como vai ser por cá e pelo mundo no ano que agora começa.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Populismo: O novo bicho-papão

Na sequência das eleições de Donald Trump, de Jair Bolsonaro e do Brexit, bem como o crescimento de vários partidos de direita radical na Europa, assistimos a uma crescente vaga de intelectuais e figuras públicas a anunciar o “fim da democracia liberal”, ou pelo menos a sua deterioração. O populismo tornou-se a palavra do momento. Este termo passou a ser utilizado abundantemente por cronistas e comentadores que pretendem explicar o mundo, pelos actores políticos que tencionam atacar os adversários, e mesmo pelos cidadãos “normais” em conversas sobre política com familiares e amigos. O populismo tornou-se a grande explicação do mundo.

Pessoalmente, seria a favor de uma moratória à utilização do termo “populista”. No entanto, dada a ubiquidade do termo, sinto-me na obrigação de escrever esta crónica sobre populismo e apresentar uma série de estudos cujas conclusões deveriam colocar em causa a confiança que depositamos nesse conceito como explicador de tanta coisa no mundo de hoje.

No discurso público, comentadores, políticos e cidadãos frequentemente utilizam o termo “populismo” como eufemismo para radical ou extremo. Quando querem classificar uma pessoa ou um partido como sendo de direita radical, esquerda radical, extrema-esquerda e extrema-direita dizem que este é “populista”. É menos incomodativo chamar alguém “um populista” do que “um radical”. Mas é perfeitamente possível um partido (ou uma pessoa) ter uma ideologia radical e não ser populista. Da mesma forma, um partido pode perfeitamente ser altamente populista no discurso e ter uma ideologia centrista ou mesmo não ter nenhuma ideologia coerente. O populismo é, portanto, habitualmente tratado na literatura académica como sendo uma “thin ideology” (uma ideologia de espessura muito fina) que poderá ser combinado com uma qualquer ideologia política mais substancial, da esquerda à direita. Estas ideologias mais substanciais costumam denominar-se de “hosting ideologies” (ideologias anfitriãs), porque são o prato principal que é apenas adornado pela camada fina do “populismo”. Ainda assim, a maioria dos cientistas políticos considera que o populismo é uma ideologia, composta por alguns elementos ortogonais à tradicional divisão esquerda-direita: ideias anti-elitistas, anti-pluralistas e centradas num “povo bom” amaldiçoado por elites ou minorias corruptas. Embora esta definição de populismo como “thin ideology” tenha ganho força alguns académicos consideram até que o populismo não chega a ser uma ideologia, mas apenas um estilo discursivo, um modo de falar e fazer política, ortogonal a qualquer pensamento ou posicionamento. Talvez me situe entre as duas posições, porém o mais importante é que, em ambos os casos, é possível separar o grau de populismo de um partido das suas posições substantivas.


Tudo isto pode parecer uma discussão meramente académica e semântica sem qualquer interesse prático e político para a maioria das pessoas. Mas não é. A distinção entre o que é populismo e o que é a ideologia substantiva é absolutamente essencial se queremos perceber o eleitorado, a evolução das várias famílias partidárias, e encontrar potenciais soluções para reduzir o descontentamento da população e a diminuição do peso dos extremos na vida política.

Se as pessoas escolhem determinados partidos por causa da sua dimensão populista, isto significa que não concordam com as ideias e propostas políticas substantivas avançadas por esses partidos. Se for esse o caso, uma fatia considerável do eleitorado vota em determinado partido porque se sente descontente e impotente e utiliza o seu voto num partido anti-establishment para expressar esse descontentamento. No entanto, nesta versão dos factos, o estilo “populista” é uma espécie de feitiço mágico que seduz os eleitores menos instruídos e informados. O feitiço populista poderia, assim, levar os descontentes a votar “contra o seu próprio interesses”, isto é, em partidos com objectivos ideológicos, económicos e sociais diferentes dos objectivos dos descontentes que neles votam. Desta forma, os eleitores são “enganados”: votam em partidos achando que estes poderão resolver a sua má situação ou a má situação do país, mas esse voto não se traduz na melhoria das suas vidas. Frequentemente, os partidos anti-establishment acabam por não resolver nenhum dos problemas dos descontentes.

Uma outra opção é admitir que os eleitores não são parvos. É perfeitamente possível que eleitores que discordam de muitas das propostas políticas substantivas de partidos radicais e anti-establishment tenham a perfeita noção que não concordam totalmente com as propostas avançadas por esses partidos. Ainda assim, escolhem votar neles. Porquê? Porque decidem utilizar o seu voto de forma expressiva. Neste caso, como forma de expressar o seu descontentamento, mesmo que não acreditem que o seu voto terá qualquer consequência positiva ou instrumental. Ainda assim, na maioria destes casos, os eleitores estão geralmente minimamente informados sobre as posições ideológicas do partido no qual estão a votar e, apesar de poderem não concordar totalmente com elas, também não se sentem muito desconfortáveis com as propostas políticas subjacentes.

Claro que há ainda uma terceira opção. Muitos dos eleitores que votam em partidos de extrema-esquerda e extrema-direita podem realmente concordar, total ou parcialmente, com as propostas substantivas que esses partidos defendem. Com toda a conversa sobre o enorme poder do “populismo”, será que afinal de contas os eleitores não votam num partido por causa das suas mensagens populistas? É isso que nos tem dito a investigação mais recente sobre o assunto, realizada nos contextos partidários norte-americano e alemão. Os artigos tentam discernir o efeito da utilização de um estilo e linguagem populista do efeito da “ideologia anfitriã” (hosting ideology), qualquer que esta seja – da esquerda à direita. Os resultados são muito interessantes. Em geral, a investigação, realizada de forma totalmente separada por autores diferentes, encontra os mesmos resultados. Os eleitores não são sistematicamente afectados por mensagens populistas e escolhem o seu partido preferido baseado na ideologia e políticas públicas que esses partidos defendem e não por causa da utilização de uma retórica mais ou menos populista. Note-se que, em geral, os eleitores alemães são menos populistas que os americanos nas suas atitudes, mas ainda assim o efeito de um populismo “soft” é relativamente reduzido. O efeito da ideologia é muito superior ao do “populismo”, suposta causa explicativa de todos os males políticos da actualidade.

Naturalmente, o contexto português é marcadamente diferente dos contextos americano e alemão. Desde logo, enquanto nestes dois países os principais temas dos partidos mais populistas de direita tendem a centrar-se na questão da imigração, em Portugal esse discurso ainda não está consolidado. Apesar de algumas sugestões e tentativas, o Chega não parece ter como tema principal a imigração, mas sim uma mescla de vários temas. Penso que, actualmente, ainda não temos dados para saber por que razão os eleitores escolhem votar no Chega nem quais as suas posições políticas mais populares.

Pessoalmente, creio que a maioria dos eleitores não são estúpidos e não é possível manipular sistematicamente uma porção significativa do eleitorado, contra os seus próprios interesses. Pelo contrário, penso que aqueles que votam em partidos denominados “populistas” se dividem em dois grupos: aqueles que votam neles pela sua proximidade ideológica e aqueles que votam neles como forma expressiva de descontentamento, sem esperar que estes partidos resolvam grande coisa.