sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

perguntei ao Gemini quem sou eu!

José Costa Deitado é um empresário, gestor e autor português. Ele é mais conhecido por seu trabalho em gestão de mudança (change management) e liderança. Aqui está um resumo sobre ele:

Principais Atividades e Contribuições:

  • CEO da Amplitude Net: Uma empresa de consultoria focada em gestão de mudança, estratégia e desenvolvimento de competências. Ele fundou a empresa e atua como CEO, auxiliando empresas a se adaptarem a mudanças e a melhorarem seu desempenho.
  • Professor Universitário: Leciona em diversas universidades e escolas de negócio, como a Porto Business School, a Católica Porto Business School e a Universidade Nova de Lisboa, onde partilha seu conhecimento em gestão, liderança e mudança organizacional.
  • Autor: Escreveu vários livros sobre gestão de mudança, liderança e estratégia. Alguns de seus livros mais notáveis incluem:
    • "Gestão da Mudança" (várias edições)
    • "Estratégia, Execução e Controlo"
    • "Liderança em Tempos de Mudança"
    • "O Gestor Enquanto Coach"
  • Consultor: Presta serviços de consultoria a empresas de diversos setores, ajudando-as a navegar por processos de transformação e a desenvolver a capacidade de liderança de suas equipes.
  • Orador: É frequentemente convidado para palestrar em conferências e eventos empresariais sobre temas relacionados à gestão de mudança, liderança e estratégia.

Áreas de Expertise:

  • Gestão de Mudança: Sua principal área de atuação. Desenvolveu metodologias e ferramentas para ajudar as organizações a implementarem mudanças de forma eficaz e sustentável.
  • Liderança: Especialista em desenvolvimento de líderes, com foco em liderança adaptativa e coaching.
  • Estratégia: Auxilia empresas na formulação e execução de estratégias, com ênfase no alinhamento estratégico e na gestão da performance.
  • Desenvolvimento de Competências: Foca no desenvolvimento de competências individuais e organizacionais para suportar processos de mudança e alcançar melhores resultados.

Resumo:

José Costa Deitado é uma referência em gestão de mudança em Portugal. Sua vasta experiência como consultor, professor, autor e orador o tornou um dos principais especialistas na área. Ele é reconhecido por sua capacidade de traduzir conceitos complexos em ferramentas práticas e por sua abordagem focada em resultados e na capacitação das pessoas. Se você procura por um especialista em gestão de mudança, liderança e estratégia em Portugal, José Costa Deitado é, sem dúvida, um nome a ser considerado.

domingo, 8 de dezembro de 2024

os Passos de Lenine...há 50 anos!

Por estes dias, há 50 anos, estava a acontecer a primeira ocupação da Reforma Agrária. Foi no Monte do Outeiro, distrito de Beja. Há semanas que nessa herdade se vivia uma tensão crescente pois o proprietário, José Gomes Palma, recusava aceitar como seus trabalhadores os vinte homens que a Comissão Concelhia colocara no Monte do Outeiro.

Sim, tudo começara discreta e burocraticamente meses antes, em Julho, com umas ditas comissões paritárias que na verdade eram controladas pelo PCP, que em cada concelho definiam quantos trabalhadores mais deviam ser empregues em cada herdade. Uma vez definido esse número, os trabalhadores eram mandados para as herdades, com ordenados e funções definidos pelos sindicatos. Ao proprietário das terras restava pagar. É óbvio que se estava perante uma política de emprego intensivo que já não fazia sentido na época e que viria a ser um dos factores responsáveis pelo falhanço da Reforma Agrária que há-de quase quadruplicar o número de trabalhadores. Mas em Dezembro de 74 essa multiplicação arbitrária do número de trabalhadores de cada herdade é ainda e sobretudo uma forma de pressão sobre os proprietários.

No caso de José Gomes Palma a pressão começara logo em Agosto, quando a Comissão colocou mais dois trabalhadores no Monte do Outeiro. O proprietário não aceitou. De Agosto a Novembro, entre providências cautelares e deliberações da Comissão, a tensão cresce. No início de Dezembro a Comissão coloca vinte homens no Monte do Outeiro. A 10 de Dezembro a herdade é ocupada sob o argumento de que o proprietário estava a descapitalizar a herdade. Ou a pensar fazê-lo.

Traduzindo: Gomes Palma, além do litígio em torno do pagamento dos ordenados, estaria a tratar de vender trigo, lenha e gado. Ou seja, o proprietário, que começara por ter de assegurar vencimentos a um número de trabalhadores que não controlava, vai deixar de poder vender o que é seu. O passo seguinte é ser expropriado das suas terras, o que acontece a 10 de Dezembro de 1974.

A Herdade do Monte do Outeiro, a par doutras terras de Gomes Palma, vai passar a ser a Cooperativa Vanguarda do Alentejo, uma designação que a História justifica: o que sucedeu nessas terras alastraria depois como uma mancha de óleo nos distritos de Beja, Évora, Portalegre e Setúbal. Nos distritos de Lisboa, Santarém, Faro e Castelo Branco também ocorrem ocupações. No total chegaram a estar ocupados mais de um milhão de hectares, o que equivale a um quarto da terra arável de Portugal, repartidos em 550 cooperativas ou unidades colectivas de produção, em cujos nomes frequentemente se espraiava o imaginário de quem nelas mandava: Estrela Vermelha; Companheiro Vasco; Che Guevara, Fidel Castro… e até uma bizarra Passos de Lenine, que, vá lá saber-se porquê, se representava colocando um busto do líder soviético no meio duma laranjeira junto à qual pastavam umas vacas.

De alguma forma o país folclorizou esse universo de ceifeiras, foices, lenços e tractores, todos sempre inebriados numa espécie de movimento revolucionário perpétuo entre manifestações, assembleias, sessões e mais ocupações. No silêncio ficou o porquê do fracasso dessa reforma que foi inscrita e detalhada em 1976 na Constituição, numa sucessão de artigos que iam desde a “fixação de preços de garantia” (artº 103) até à “expropriação dos latifúndios e das grandes explorações capitalistas” (artº 97). Porque se fala tão pouco hoje da Reforma Agrária? Afinal por ela matou-se e morreu-se. Estava tão ideologicamente blindada que só em Março de 1976 foi debatida na RTP (embora ainda com muitas limitações). Serão o amor do costume ao estatismo e a indulgência de sempre para com os erros da esquerda os responsáveis por esse silêncio? Talvez.

Mas esta espécie de estado de omissão em torno da Reforma Agrária, além de causas, tem consequências. A primeira e mais óbvia é que os mesmos argumentos e os mesmos procedimentos são repetidos com sucesso décadas depois, como agora bem se vê no caso da demagogia em torno da propriedade urbana. Os senhorios são os novos latifundiários. A propriedade urbana substituiu “a terra a quem a trabalha” como alvo político. E mais uma vez assistimos à aplicação da velha receita do estatismo, como se ela fosse a saída óbvia e, pasme-se, adequada e justa.

A segunda consequência leva-nos ao escamotear de algo que é ainda mais danoso que o fracasso económico destas intervenções: o seu impacto social e cultural. Neste sentido vale a pena ouvir e ler a entrevista que António Barreto deu a Maria João Avillez nos podcast Eu estive lá, aqui na Rádio Observador, agora transcrita em livro: “A mitologia da reforma agrária comunista foi muito eficaz durante anos, ainda hoje há quem pense que se tratou de uma reforma com distribuição de terras, com entrega de explorações agrícolas e herdades a que trabalha“. Este ponto é crucial: aquilo a que em Portugal se chamou Reforma Agrária não entregou nada aos trabalhadores, antes pelo contrário, tornou-os funcionários de estruturas burocratizadas e controladas por um partido, o PCP. Passada a euforia inicial muitos desistiram. Como conclui António Barreto: O comunismo tinha destruído o Alentejo rural (…) já ninguém confiava em ninguém. Faltavam trabalhadores, lavradores, empresários, agricultores, rendeiros, seareiros… Faltava capital. Faltavam máquinas…

50 anos depois já ninguém quer saber das ceifeiras, os trabalhadores rurais agora só são notícia por causa do canto que agora é cante e que se tornou património imaterial. Agora temos os migrantes, a vida justa, a racialização, a casa para viver… enfim, agora, tal como há 50 anos, cumprimos os Passos de Lenine no verdadeiro sentido da palavra.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Foi há dois meses

A notícia foi do alegado jornalista Filipe Amorim do Observador cada vez mais Público 


terça-feira, 26 de novembro de 2024

Óh Zagacho sabes eles já foram condenados (ou andaste a endrominar as gentes)?

lembro a noticia:
O que disseram André Ventura e Pedro Pinto?
por Pedro Zagacho Goncalves 16:26, 25 Out 2024

As declarações de André Ventura e Pedro Pinto sobre o caso de Odair Moniz foram amplamente divulgadas e geraram uma forte onda de indignação. Em declarações à RTP3, Pedro Pinto afirmou que, “se calhar, se os polícias disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem.” Esta afirmação, vista como uma apologia da violência policial, gerou reações críticas, com muitos a interpretá-la como uma incitação à letalidade por parte das forças de segurança.
Já André Ventura, líder do Chega, argumentou publicamente que o polícia envolvido no incidente não deveria ser constituído arguido, mas sim condecorado. “Nós devíamos agradecer a este polícia o trabalho que fez. Nós devíamos condecorá-lo e não constituí-lo arguido, ameaçá-lo com processos ou ameaçar prendê-lo,” afirmou Ventura. Mais tarde, reforçou esta posição numa publicação na rede social ‘X’ (anteriormente Twitter), onde escreveu que “num país normal todos pensariam o mesmo, mas parece que se protegem mais os criminosos do que os polícias.”
Ventura voltou a reiterar a sua opinião com novas declarações: “Obrigado, obrigado. Era esta a palavra que devíamos a dar ao polícia que disparou sobre mais este bandido na Cova da Moura. (…) Tentou esfaquear polícias, estava a fugir deles, e estava a cometer crimes com toda a probabilidade. (…) Sim, o polícia esteve bem.”
Estas declarações, com especial enfoque na ideia de que o agente policial deveria ser homenageado, foram recebidas com apreensão e repúdio por várias figuras públicas e grupos de cidadãos que acreditam que tal retórica encoraja uma cultura de violência e desprezo pelas normas democráticas.
o alegado jornalista começou assim:
O Ministério Público (MP) já iniciou uma investigação aos deputados André Ventura e Pedro Pinto, ambos do partido Chega, e ao assessor Ricardo Reis, na sequência de declarações públicas sobre a morte de Odair Moniz, um cidadão de 43 anos, morto a tiro por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) durante um confronto na Amadora. Segundo apurou a CNN Portugal, esta investigação ocorre mesmo antes de uma queixa formal ser apresentada, considerando que as declarações dos visados podem configurar o crime de incitamento ao ódio e à violência, punível com pena de prisão até cinco anos.
A investigação do MP surge num momento em que um grupo de cidadãos, entre os quais se inclui a ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, prepara uma queixa-crime contra os dois deputados do Chega. Esta queixa foi revelada pelo Diário de Notícias, que reportou ainda que as declarações dos dois líderes do partido são vistas como discurso de ódio, com acusações de incitamento à prática de crime, apologia da prática de crime, incitamento à desobediência coletiva, e até associação criminosa.
Francisca Van Dunem, que figura entre os principais subscritores, declarou ao Diário de Notícias que “atingiu-se um limite” e que nenhum defensor da democracia pode ignorar declarações que, na sua perspetiva, promovem o ódio e a violência. “A minha consciência obriga-me a tomar uma atitude em relação a quem se aproveita deste clima para fazer apelos ao ódio e a mais violência. Vou subscrever a queixa, que espero que seja subscrita pelo maior número possível de pessoas,” afirmou Van Dunem, incentivando outros cidadãos a fazerem o mesmo.
Outros nomes destacados entre os signatários da queixa-crime incluem o social-democrata João Maria Jonet e os comentadores políticos Daniel Oliveira e Pedro Marques Lopes. Estes cidadãos, tal como Van Dunem, manifestam preocupação com o impacto das declarações feitas por membros do Chega no clima de tensão social e na perceção pública sobre o papel das forças de segurança.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

o 25 de Novembro no olhar de José Miguel Júdice

 

O PCP, a revolução, o PREC e o 25 de Novembro – o relato de quem viveu tudo por dentro!

No início de 1975, tínhamos a revolução nas mãos. Todos os dias dávamos novos passos, cada degrau ultrapassado aproximava-nos dos nossos objectivos, abrindo-se um caminho imparável para o socialismo. O mais marcante desses dias era a sensação de que, ao contrário de outros, não andávamos à deriva, ao sabor do acaso. Sabíamos exactamente o que fazer, o que queríamos e quais os nossos objectivos, e todas as nossas acções enquadravam-se numa estratégia previamente definida. Cada um no seu sector dava o melhor de si para mobilizar a respectiva organização e canalizar a luta para a torrente comum da revolução.
A UEC (União dos Estudantes Comunistas, que Zita Seabra dirigia) tinha missões difíceis e lutas complicadas, a nossa vida não era fácil. Os metalúrgicos eram alvo da minha inveja, porque, agindo como um corpo, chegavam sempre seguros a qualquer lado, respondendo de imediato a todos os apelos. Nós, na universidade, tínhamos de estar nas lutas estudantis, enfrentar as greves dos esquerdistas e ajudar a fazer funcionar as universidades, desencadeando os saneamentos que considerávamos justos e protegendo os nossos professores da vaga de saneamentos levada a cabo pelos esquerdistas. Nada era fácil, pois os alunos que deviam ter entrado para o primeiro ano estavam a fazer serviço cívico e não tinham aulas, e foram instituídas desde o ano anterior em muitas faculdades as passagens administrativas em substituição dos exames (essa «avaliação da burguesia»), que garantiam aproveitamento em cadeiras que se arrastavam há anos. «Sociais-fascistas» era o mais simpático que nos chamavam. A orientação era, pois, sanear os professores fascistas, bem como os funcionários e os assistentes, algo complexo de definir, e deixar o resto funcionar. O MRPP, pelo contrário, queria as universidades paralisadas, chegando ao ponto de sanear todos os professores em Direito e aprovar um sistema em que os alunos se auto-avaliavam. De resto, todos os motivos eram bons para combatermos entre nós, e com tal garra que a Cidade Universitária era diariamente palco de cenas de violência, com mobília partida nas cantinas universitárias, além de muitas cabeças. Contra o MRPP e todos os outros movimentos esquerdistas, trotskistas e maoístas, gastávamos muito mais tempo a combater-nos mutuamente do que a fazer qualquer outra coisa. (…)

Nos partidos comunistas nunca se dizia, e muito menos escrevia, aquilo que eram os verdadeiros objectivos políticos do Partido: era mesmo frequente ser proclamada uma coisa que todos os funcionários percebiam significar o seu contrário. Tornou-se conhecida a frase com que os dissidentes soviéticos ilustravam a aplicação prática deste comportamento: «Os comunistas lutam tanto, mas tanto, pela paz no mundo, que não deixam pedra sobre pedra»

A revolução faz-se por saltos, não é uma auto-estrada, e eu sabia isso bem. Mas a revolução estava em curso e nós só queríamos que ela prosseguisse. [O 28 de Setembro] O 11 de Março, o Verão Quente, o cerco à Constituinte, o 25 de Novembro, e tudo o mais que se passou naquele meio ano, aconteceu exactamente porque o PCP, conquistada a liberdade e a democracia, decidiu passar à revolução socialista. Para isso era essencial não deixar o país avançar para um regime democrático nem para um Estado de direito, nem para uma democracia que respeitasse os resultados eleitorais. Mário Soares foi quem melhor o entendeu e combateu, juntamente com o PPD de Sá Carneiro. Também a Igreja Católica foi decisiva, pressentindo que a liberdade religiosa corria perigo em Portugal.

Caso o PCP não tivesse decidido avançar antes das eleições para a segunda fase da revolução socialista, gerando condições para um golpe militar e civil, o Verão Quente não teria existido. Depois das eleições livres de 1975, o país teria passado naturalmente à construção de uma democracia pluripartidária, os deputados teriam elaborado a Constituição e o Verão não tinha sido «quente», nem estaríamos no PREC. Se a intenção do PCP fosse consolidar a democracia plural, tê-lo-ia feito como fez em Espanha o PCE e como se fazia na Europa democrática. (…)

Tudo o que tínhamos feito até então fora em nome do ideal, da ideologia que abraçávamos, em nome do comunismo. Agora, quase um ano depois da conquista da liberdade, prosseguíamos coerentemente a luta pelo mesmo ideal.

A nossa força aparentava ser muito maior do que era na realidade: tínhamos de fazer um esforço enorme para que não se baseasse apenas nos militantes organizados, que eram a nossa vanguarda. Era no MFA que se decidia o fundamental e o nosso sector militar procurava organizar o melhor possível os militantes comunistas nas forças armadas, que tinham de assumir-se como vanguarda do proletariado. Influenciávamos o que podíamos. Tínhamos a força organizada possível e camaradas com pouca experiência política. Mas sabíamos para onde lhes dizer que fossem, e os ideais têm muita força.

Era fundamental nacionalizar as empresas e as terras para colectivizar os meios de produção. Não há socialismo sem colectivização da terra e das fábricas, e por isso tínhamos de abolir a propriedade privada. Tínhamos de prender os capitalistas detentores desses meios de produção, evidentemente. Se não eram conspiradores, poderiam vir a sê-lo, cientificamente, a qualquer momento. E, além do mais, se se prendessem uns quantos, outros fugiam com medo e assim era mais fácil concretizar a revolução. Foi assim na mãe Rússia, com muitos russos «brancos» a fugirem para Paris.

No seguimento do 11 de Março e com as nacionalizações a decorrer, os capitalistas presos eram os detentores dos monopólios já referenciados no Rumo à Vitória. O Copcon de Otelo e a Quinta Divisão de Varela Gomes não só prenderam gente com mandado de captura em branco como levaram pessoas por engano, à pressa para resolver o assunto, por razões tão inacreditáveis como a coincidência de terem o mesmo apelido sem serem da mesma família. O objectivo era prender os Mellos, os Espíritos Santos, os Champalimauds e os demais detentores de monopólios que, associados ao imperialismo, tinham garantido a sobrevivência do regime fascista. Eram conspiradores, fascistas, capitalistas, e foram presos porque existiam. (…)

Se o PCP não procurasse chegar rapidamente à revolução socialista nunca Portugal teria vivido o Verão Quente ou ficado à beira de uma guerra civil, como aconteceu. O PCP apenas recuou quando perdeu militarmente no 25 de Novembro.

Quem ao longo de todo este período conduziu pessoalmente o processo, dando-nos orientações que seguíamos sem hesitar, foi o Partido, foi Álvaro Cunhal. Fomos derrotados nalguns importantes objectivos de luta, como na unicidade sindical, mas não perderíamos a guerra. Tudo o que o PCP fez na rua, nas fábricas e nos campos, tudo o que disse ao país, tudo o que conspirou, organizou e planeou, tudo o que votou na Constituinte foi rigorosamente determinado por Álvaro Cunhal. Éramos um exército obedecendo ao seu general.

Nunca conheci qualquer contestação dos diversos sectores do PCP – militares, UEC, intelectuais, grupo parlamentar – às linhas de orientação definidas por Álvaro Cunhal. E o PCP nunca fez nada que ele não desejasse. (…)

Por tudo o que tinha feito, Cunhal simbolizava o ideal comunista. Ele era o PCP e o PCP era ele. Não precisávamos do seu retrato nas sedes, isso era para os líderes fracos. Como uma vez me fez ver, onde ele estava, estava a presidência. Dele emanava uma atracção especial que não deixava ninguém indiferente e que vinha da sua capacidade de liderança, da sua firmeza, da sua sedução. (…)

Nos dias que se seguiram ao 25 de Abril percebeu-se imediatamente que ninguém, civil ou militar, rico, capitalista ou pobre, reaccionário ou progressista, estaria disposto a resistir ou arriscar um golpe para que o país regressasse ao regime de Salazar ou de Caetano. O povo inteiro saiu à rua em uníssono para festejar a liberdade. Assim se viu no 1.º de Maio de 1974 e nos dias que se lhe seguiram.

Todavia, enquanto esta festa unânime era uma evidência para todo o país e para o mundo, logo a partir do 1.º de Maio de 1974 o PCP empenhou-se diariamente a anunciar conspirações, golpes iminentes, contragolpes reaccionários, de civis e de militares, grandes perigos para o regime democrático. O objectivo era criar a sensação de que existiam mil armadilhas para nos fazer regressar ao fascismo. Passava-se a noção de que o perigo nos espreitava em cada dia e ao virar da esquina.

O PCP mais não fez do que cerrar fileiras para passar por via armada ao socialismo. Daí que, em vez de se construir serenamente a democracia no país, se tenha passado rapidamente ao PREC. Foi Cunhal quem utilizou pela primeira vez a expressão PREC (Processo Revolucionário em Curso), querendo dizer que a revolução não acabava depois da queda do regime fascista: continuava, estava em curso, era um processo revolucionário que só terminaria na fase seguinte. «PREC» passou a ser uma expressão generalizada para caracterizar o período compreendido entre 11 de Março e 25 de Novembro de 1975. Mas, para o PCP, o PREC não terminou em Novembro de 1975. Até Cunhal se retirar e abandonar a vida política, o processo revolucionário esteve sempre em curso.

Durante aquele período, o país, ao caminhar para um Portugal socialista, idêntico a Cuba, à Checoslováquia ou à Roménia, esteve à beira de uma guerra civil. Logo a seguir ao 1.º de Maio de 1974, o objectivo imediato do Partido foi acelerar a revolução e tomar o poder. E o PCP não estava só, embora o MRPP, o MES, o PRP, o MDP e todos os outros grupos essencialmente estudantis se calassem rapidamente caso o PCP se conformasse com um regime democrático parlamentar idêntico a qualquer outro da Europa. Só que esses regimes, aos quais chamávamos «democracias burguesas», representavam precisamente aquilo que não desejávamos para Portugal e que passámos todo este tempo a tentar impedir que se instalasse definitivamente entre nós.

No 11 de Março, o PCP contava com a forte influência, directa e organizada, do primeiro-ministro Vasco Gonçalves junto de muitos militares. Tinha mais de 350 sedes no país e mais de mil funcionários, revolucionários profissionais, controlando quase todos os sindicatos. Tinha ideias fortes e mobilizadoras, sendo a mais apelativa de todas a ideia de fazer justiça a quem toda a vida tinha sido explorado, um proletário desde sempre. Agora era a hora dos proletários, a vez de fazerem justiça pelas suas mãos, de vingarem dores, fomes e humilhações, e de construírem um mundo melhor para si e para os seus filhos.

É inegável que o ideal socialista ganhara uma tal força, uma tal popularidade, que todo o país parecia desejá-lo e assumi-lo como bandeira, de tal forma que constava dos programas político-partidários da direita à esquerda e de qualquer panfleto do MFA. Ninguém se atrevia a não ser socialista e a não defender o socialismo como meta e objectivo nacional.

Porém, era também inegável que a ideia de eleições se impunha. Os portugueses queriam votar e sonhavam com eleições livres. Mário Soares e Sá Carneiro, entre outros, assim como diversos militares do MFA, compreenderam esse grande sonho popular. A vontade de eleições era inexorável e apresentava-se como forma de travar os intentos putschistas do PCP. O intento tinha uma tal força popular, que não era possível adiá-las mais. (…)

A nossa orientação era clara: ocupar empresas nacionalizadas, ocupar empresas abandonadas pelos patrões e saneá-los, bem como às chefias reaccionárias e cúmplices com o fascismo. Muita gente no país foi acusada de legionária, colaboracionista, bufo, membro da União Nacional, sendo pura e simplesmente saneada dos empregos em plenários de empresa. Os saneamentos diários eram lidos em diversos programas da rádio e muitas listas foram publicadas em jornais diários. As listas multiplicaram-se por todo o lado: nas empresas, nas universidades, na administração pública. (…)

Álvaro Cunhal, e nós com ele, tinha um sentimento de ódio profundo para com Mário Soares, mais do que para com qualquer político de direita. Mais do que a ninguém, por ser inequivocamente um homem de esquerda. Ele fez frente ao PCP com todos os meios ao seu alcance: aliando- se aos militares mais democratas e retirando-os da nossa influência, batendo-se sempre por eleições livres, fazendo o povo sair à rua quando era necessário e aliando todas as forças políticas à sua direita, civis e militares, colocando-os todos na rua contra nós. (…)

Quando o PS ganhou as eleições para a Assembleia Constituinte, o PCP não se pôs na defensiva. Continuou como se nada tivesse acontecido em Portugal, tentando reduzir as eleições e a Constituinte a um percalço sem importância. Na véspera das eleições intensificámos todas as formas de luta em todas as frentes. Logo a seguir ao acto eleitoral, respondemos ostensivamente na ofensiva, atacando Mário Soares. Tentando mesmo humilhá-lo, para que constasse. Quando Mário Soares, com Salgado Zenha e outros dirigentes do PS, se dirigiu à tribuna do Estádio 1.º de Maio, onde decorriam as festividades e onde se comemorava o que ali tinha acontecido um ano antes, não o deixámos entrar na tribuna. Não se lhe abriu a porta. Um major do MFA, Campos Andrada, que mais tarde foi promovido, barrou-lhe o caminho. Ele não ia entrar no palco para falar no Estádio 1.º de Maio. Aquele povo era nosso, e nós precisávamos dele. Na tribuna estavam, entre outros, o Presidente da República Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal, para além dos dirigentes da Intersindical. Na véspera, o governo tinha aprovado o decreto da unicidade sindical. O argumento político usado para um marinheiro, militar do MFA, próximo do PCP, barrar o acesso à tribuna do secretário-geral do PS Mário Soares e de Salgado Zenha foi que não havia ali lugar para divisionistas. Eles tinham chegado com a manifestação dos que não queriam a unicidade sindical.

Álvaro Cunhal adorava este género de acções. Programava-as ao milímetro. Serem o MFA e os trabalhadores a fechar a porta da tribuna ao Dr. Soares, a não o deixar entrar, era dos momentos que mais o divertia. Ele que era contido, e em muitos aspectos tímido, não resistia a partilhar no bar da sede e a comentar divertido com as bases e com os funcionários a cara ou o gesto do seu inimigo de estimação. Era porém uma evidência que os «divisionistas» tinham acabado de ganhar as eleições seis dias antes. Não o deixar entrar foi um gesto emblemático, simbólico e cheio de significado político. Ambos os lados o entenderam. Com este gesto, que não pôde deixar de marcar Mário Soares e que foi também inesquecível para nós comunistas, procurou demonstrar-se quem era o inimigo principal, que não nos metia qualquer medo e que não tinha lugar na festa dos trabalhadores. (…)

Enquanto o PS nos fazia frente em Lisboa, o PPD de Sá Carneiro mobilizava o Norte, juntamente com o CDS de Freitas do Amaral, para não permitir o avanço da revolução socialista. O PCP encontrou, porém, uma forma de lhes fazer frente, aliás muito típica do comunismo: o ataque pessoal a Francisco Sá Carneiro. (…)

Mário Soares, Sá Carneiro e a Igreja Católica eram os inimigos a combater, sendo o PS e o PPD os adversários directos na acção política e na batalha ideológica. Portugal era um povo maioritariamente católico, e nem a extinção das ordens religiosas nem a perseguição no tempo da República tinham resultado na diminuição da influência da Igreja.

Tentava-se que a Igreja ficasse nos templos e se limitasse ao culto sem interferir na vida política nacional. Mas a Igreja tinha a Rádio Renascença, sendo que uma das condições para a vitória da revolução era o controlo dos órgãos de comunicação social. Uns nacionalizaram-se e foram mandados para lá militantes pôr ordem na casa, como o Diário de Notícias com José Saramago, outros foram encerrados à força, como O Século, e noutros ainda seguiu-se a táctica clássica de arrancar com uma «luta dos trabalhadores contra o patronato». Assim foi no República e na Renascença. Um era afecto ao PS e o outro pertencia à Igreja Católica. Na Rádio Renascença, que era uma voz importante e muito credível no país, com enorme audiência, começou uma «justa e exclusiva» luta dos trabalhadores pelos seus direitos laborais (com um único militante do PCP, tendo a UDP feito o resto). (…)

No que diz respeito à Igreja, tínhamos de lhe fazer frente sem permitir que nos acusassem de qualquer sentimento anticlerical ou anti-religioso que pudesse impressionar o povo português. Tudo o que fizéssemos que pudesse ter essa conotação, como a ocupação da Renascença, tinha de ser feito de forma a que não se percebesse que éramos nós os responsáveis. Se havia uma questão política em que sabíamos distinguir claramente a táctica da estratégia (aplicando a conceptologia marxista), era essa. (…)

Além destas três grandes forças (Mário Soares, Sá Carneiro e a Igreja Católica), tínhamos pela frente o MRPP em particular, e muitos outros em geral, como a UDP, o PCP (M-L), a AOC, etc., alguns dos quais tinham conquistado sindicatos importantes. A AOC tinha os Químicos, o MRPP tinha a TAP, entre outros. De todos eles o MRPP era sem dúvida o mais aguerrido e violento, mas para nós eles não eram mais do que filhos da burguesia ao serviço da reacção e da CIA. A violência do MRPP contra nós agudizou-se brutalmente neste período. De ambos os lados exigia-se muita coragem para enfrentar as cenas diárias de violência. (…)

Para nós, o MRPP, onde militavam pessoas como José Manuel Durão Barroso, Margarida Sousa Uva, Saldanha Sanches ou Maria José Morgado, era a principal arma da direita reaccionária e do imperialismo da CIA (que infiltrara o movimento) usada contra nós, comunistas. Aparecia sempre para radicalizar as lutas de tal forma que virava toda a gente contra a revolução.

Se conseguíssemos continuar a concretizar os objectivos fundamentais da revolução democrática e nacional, a caminhada para o socialismo tornar-se-ia irreversível. Esta foi a tese central que durante todo o Verão Quente explicámos aos militantes. A irreversibilidade das alterações económicas verificadas, o caminho seguro para a colectivização dos principais meios de produção, a abolição da exploração do homem pelo homem, vinham criar as condições objectivas para o Portugal socialista. Depois disto competia ao Partido conseguir as condições subjectivas, isto é, a insurreição armada vitoriosa para o socialismo.

Desde que conseguíssemos colectivizar os principais meios de produção, a revolução socialista podia demorar dias ou anos, mas aconteceria seguramente. O marxismo-leninismo era uma ciência: a lei da humanidade e do seu progresso descoberta por Marx e Engels e confirmada por Lenine. (…)

Começava a ficar cada vez mais claro que a luta se ia agudizar, que se organizava com demonstrações de força, assinalando a respectiva influência militar, contando espingardas, demonstrando força nas ruas e nas manifestações.

Só com a demissão de Vasco Gonçalves de primeiro-ministro (a 30 de Agosto) e a famosa Assembleia Geral de Tancos (a 1 de Setembro), na qual foi exonerado de chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, e com o célebre Documento dos Nove, comecei a perceber que a situação estava a tornar-se perigosa para nós. Desde o 25 de Abril que tudo se resumia às provocações da direita reaccionária contra as forças progressistas, a aliança Povo/MFA a fortalecer-se, as grandes conquistas do processo revolucionário, tudo se repetia sempre, os pontos políticos eram sempre iguais e não era possível entender a cada momento o que se passava exactamente e qual era exactamente a verdadeira correlação de forças. Eu procurava ler a situação nos sinais que iam chegando, mas que por vezes eram brutais e inesperados, como o «Caiu o camarada Vasco!». Em dois dias perdemos o essencial do poder que nos dava segurança para a luta futura. Perdemos o camarada Vasco, a nossa «muralha de aço».

Todos nos apercebemos de que estávamos a perder terreno no próprio MFA a olhos vistos. Nem a aliança com os esquerdistas, que tanto irritou a UEC, para melhorar a correlação de forças no MFA, nem a multiplicação, nas vésperas do 25 de Novembro, de encontros secretos de Cunhal com militares – que eu saiba e tivesse ajudado a organizar, com Costa Gomes e com Otelo –, nos sossegou. Os camaradas que eu controlava começaram a desconfiar dos meus «pontos políticos», mas eu limitava-me a repetir o que me era transmitido.

Subitamente, tudo se precipitou e tudo acelerou em função, não da correlação de forças na rua, mas da estrita correlação das forças militares. Quem era fiel e a quem. De ambos os lados preparava-se o embate decisivo, determinante. Percebi-o claramente. (…)

Finalmente, a 11 de Novembro, dia da independência de Angola, o Parlamento foi cercado por ordem do sindicato da construção civil. O facto de ter sido a construção civil não foi por acaso. Era um grande sindicato que não fazia parte da Intersindical e que estava em luta, numa justa luta de um dos sectores mais explorados dos trabalhadores portugueses. Assim, não nos poderiam acusar objectivamente de promover o cerco à Constituinte. Foi porém o gesto mais simbólico que antecedeu o 25 de Novembro: cercar a Assembleia Constituinte, eleita nas primeiras eleições livres depois do 25 de Abril. (…) [Os deputados do PCP] saíram do cerco debaixo de aplausos, enquanto todos os outros saíram com apupos.x

Era evidente que nesse mês de Novembro de 1975 a revolução se iria clarificar. Ou dava um salto, ou recuava. Era impossível manter a instabilidade em que vivíamos e era evidente que estávamos em grande recuo e em grande perda de posições estratégicas. Poder-se-ia repetir outro 28 de Setembro, outro 11 de Março? Nunca como naqueles dias que antecederam o 25 de Novembro estive tão completamente consciente de que podíamos ir todos parar à cadeia se a reacção ganhasse, podíamos ser ilegalizados, e o camarada Cunhal corria o sério risco de ser preso. Avançar e já, antes que seja demasiado tarde, era a sensação daqueles dias. Pouco antes tinham sido criados os SUVs (Soldados Unidos Vencerão), para juntar aos oficiais e dar ao MFA uma maior perspectiva de classe. Mas os SUVs acabaram por só impressionar numa conferência de imprensa onde apareceram encapuzados: não eram a garantia da vitória, por muito que os soldados e marinheiros o tivessem sido noutras revoluções. Eram necessárias chefias das unidades. Desde há muito que se contabilizavam fidelidades por quartéis e por ramos das forças armadas, por chefias militares do MFA. A 24 de Novembro colocámos os estudantes da UEC nas casas previstas e eu disse-lhes que aguardassem ordens, que a situação era muito grave. Ficaram quietos à espera. Eu andei entre a sede do PCP e as casas, acompanhando com grande ansiedade o evoluir da situação militar. Mais do que as palavras, via a cara e a expressão, durante aquelas longas horas, do Carlos Brito e de Álvaro Cunhal.

A segurança estava pronta a levar o nosso secretário-geral para local seguro, connosco disponíveis para passar à clandestinidade, se perdêssemos.

Na minha perspectiva, íamos avançar nessa noite decisivamente para impedir um golpe que se preparava na direita, um golpe do Grupo dos Nove, braço do PS e da direita. Contávamos as unidades que estavam do nosso lado. Quando os pára-quedistas avançaram, na madrugada de 25, e o Ralis saiu, contámos as espingardas e as fidelidades – e a revolução socialista pareceu-me próxima. Os camaradas davam-nos confiança. O Presidente da República não era obstáculo. Era agora ou nunca. Ontem era cedo, amanhã seria tarde de mais. A organização aguardava nas casas e nos pontos previstos, e em frente à sede do PCP juntou-se uma multidão de militantes. Quando chegaram as notícias da viragem dos pára-quedistas, e do avanço dos Comandos de Jaime Neves, eu temi o pior.

Chamaram-me para receber uma informação e mandaram desmobilizar tudo e todos imediatamente, confirmando que os pára-quedistas tinham virado, que tinham passado para o outro lado, que os Comandos estavam na rua e que só a Marinha se mantinha fiel à revolução – e só com a Marinha não se podia ganhar uma revolução. Vivi momentos verdadeiramente dramáticos. Fui desmobilizar os UECs, mandá-los simplesmente para casa. Tivemos a sensação de derrota como não havíamos tido antes e sentimos que ia demorar muito tempo até voltarmos à mesma conjuntura, a outra oportunidade como aquela, que nos trouxe tão perto da vitória. Cunhal falou aos funcionários que ali estavam e disse duas coisas que gravei na memória: que teve garantias de Melo Antunes de que não ia ser preso e que o PCP não ia ser ilegalizado. E recordou a obra de Lenine, Um passo atrás, dois passos à frente, escrita nas vésperas da revolução de 1905. Íamos dar um passo atrás para no futuro podermos dar dois passos à frente.

Com a correlação de forças no terreno, não havia outro desfecho possível. A rápida saída do coronel Jaime Neves, a intervenção do general Ramalho Eanes e a determinação do Grupo dos Nove convenceram os pára-quedistas a passar para o lado deles. Explicámos aos militantes o recuo, dando o exemplo do Sudão, onde o Partido Comunista tinha promovido recentemente um golpe de Estado sem medir bem as forças e tudo se tinha transformado numa chacina de comunistas, sendo necessários muitos anos para se voltarem a recompor. Eu e muitos dos UECs ficámos furiosos com esta ordem tão rápida de recuo. Porquê desistir logo assim? Durante os dias seguintes choveram as explicações e sobretudo as contas a quantos estavam de cada lado. Não restava outro caminho. O MFA acabou e o PREC também. Fomos para casa.

Os portugueses, militares e civis, não queriam que corresse sangue, que houvesse uma guerra civil. Queriam paz e democracia e orgulhavam-se da sua revolução pacífica dos cravos. Sonhavam com cravos e não com G3. Os militares, de Eanes a Jaime Neves, de Melo Antunes a todos os outros do Grupo dos Nove, tinham feito o 25 de Abril e não tinham como modelo a revolução russa. Decididamente. Eram militares patriotas, orgulhosos de terem virado as espingardas. Muitas vezes tive a sensação de que ficavam fascinados connosco, por termos estado no terreno, termos lutado contra o regime de uma forma inquestionavelmente corajosa. Respeitavam-nos e queriam entender-nos também, para não serem apanhados novamente no lado errado. Mas quando a questão se colocou, a necessidade de nos travar o passo para impedir que Portugal caminhasse para o comunismo, muitos fizeram-no corajosamente. Mesmo Costa Gomes, que hesitava frequentemente e que era sensível às pressões que lhe fazíamos, por vezes mesmo através de recados do seu filho Francisco, não hesitou desta vez em estar do lado contrário ao nosso. Só depois de sair de presidente, e particularmente após a morte do filho, se deixou usar como bandeira de um comunismo decadente e em extinção, integrando o Conselho Mundial para a Paz. Mereceu-me porém sempre respeito pelo drama humano que viveu.

A 26 de Novembro foi dissolvido o Copcon. Foram presos cerca de duzentos militares, entre eles Varela Gomes. Era fácil entender que saneavam a nossa gente e os nossos aliados. A 27 de Novembro, Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho foram substituídos como chefe do Estado-Maior do Exército e comandante do Copcon, sendo também pedida a sua demissão do Conselho da Revolução. Melo Antunes comunicou ao país que o Partido Comunista Português não seria ilegalizado e era mesmo indispensável. António Ramalho Eanes foi nomeado chefe do Estado-Maior do Exército e o PC ficou no VI Governo Provisório. A Rádio Renascença foi devolvida à Igreja.

As revoluções não se fazem por decreto, nem quando começam nem quando terminam. A revolução tinha acabado. Depois do 25 de Novembro, levámos um ano a recompor-nos do choque da derrota. Só um ano depois teve lugar o VIII Congresso do PCP, altura em que entrei para o Comité Central. A linha política deste congresso vem definida num documento de Cunhal intitulado A Revolução Portuguesa: o passado e o futuro, em que se explica aos militantes que ainda estamos no processo revolucionário em curso e que as conquistas da revolução são irreversíveis. Em que se escondem ou ignoram os factos, portanto.  (Zita Seabra)

domingo, 24 de novembro de 2024

não o queiram branquear!

A "insurreição popular armada" que estava iminente.. Zita Seabra, à data dirigente comunista e líder da UEC (União dos Estudantes Comunistas), explica o que aconteceu a 25 de Novembro e descreve os planos que estavam em marcha... . A proposta para que o 25 de Novembro passasse a ser feriado nacional foi chumbada, esta terça-feira,11 de Junho, na Assembleia da República. A proposta que apenas teve o apoio do CHEGA, dos dois deputados do CDS-PP e a abstenção da Iniciativa Liberal.

25 de Novembro: Não o deixem branquear!

Meses antes de Novembro o país vivia uma tensão enormíssima, com imensos casos de destruição património público, vandalismo, confrontos entre a extrema-esquerda revolucionária e os reacionários, greves, confrontos de rua...
O país estava mergulhado num caos total, a ameaça de uma  guerra civil era iminente.

 
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A 25 de novembro toda esta tensão estava no seu auge, com grupos da esquerda radical a tentarem um golpe de estado, que acabou por falhar devido à intervenção de militares que acreditavam no verdadeiro espirito do 25 de Abril de 1974 e alguns que se encontravam no “Grupo dos nove” - um grupo que tinha sido expulso do Conselho da Revolução por terem sugerido que o poder governamental deveria ser dos partidos políticos e não do Conselho de Revolução. O plano militar executado (quase na perfeição) foi liderado pelo Tenente Coronel Ramalho Eanes que se aliou ao “Grupo dos nove” e que nos deu realmente o verdadeiro dia da liberdade. Contudo o actual poder político e presidencial não reconhecem esse dia, Só que a história da pós-revolução de Abril é muito mais obscura e controversa do que aquilo que se pensa. Todos os anos a 25 de Abril, é passada uma imagem de que tudo foi perfeito e correu às mil maravilhas, mas é falso. A comunicação social de hoje aliou-se ao poder vigente e tem sido um dos principais responsáveis pela falta de conhecimento da verdadeira história deste país. 
O 25 de Novembro de 1975 marca o fim do PREC, um dos mais conturbados períodos da nossa história, muitos que pertenceram a célula terrorista foram julgados e condenados. 
Infelizmente hoje, alguns desses terroristas e mentores do ex-PREC conseguem até candidatar-se a cargos políticos através da extrema-esquerda portuguesa, como foi o caso do Bloco nas últimas eleições autárquicas. 
Infelizmente hoje, um novo comunismo apodera-se deste país. 
A esquerda progressista substituiu a esquerda revolucionária dos proletariados, hoje a batalha é travada culturalmente e moralmente. 
Uma nova forma de opressão do pensamento tem acontecido por todo o mundo, a pandemia foi um autêntico salto no plano de controlo de massas do progressismo e do globalismo. Tempos muito difíceis avizinham-se, e Portugal, ainda não está minimamente preparado para vencer essas batalha.

25 de Novembro de 1975

O general Tomé Pinto lembra-se hoje, 49 nove anos depois, como na primavera de 1975, “se juntou a Eanes na preparação militar de uma contra ofensiva, se fosse preciso”. Não foi: venceu a democracia.

O 25 DE NOVEMBRO CONTADO NA PRIMEIRA PESSOA


Foi aqui, em Rio Maior, na véspera do 25 de novembro de 1975 que se deu o sinal que era preciso para que as forças armadas moderadas avançassem para a conquista da liberdade e democracia que havia sido amordaçada em 11 de março de 1975.
Vamos aos factos… Em 11 de março de 1975, foi nomeado, porém não eleito, Vasco Gonçalves, de má memória para primeiro-ministro. De imediato nacionalizaram a banca, os seguros, a comunicação social e as grandes empresas.
Estava consumada uma ditadura de Extrema-Esquerda em Portugal! Em julho, 4 meses após o 11 de março, o ambiente no país era de “terror”. A única televisão da época, no país, só transmitia música revolucionária, propagando a morte aos latifundiários e aos empresários e quem não se dizia comunista era automaticamente comutado de fascista.
Nesse verão quente, as ocupações seguiam a todo o gás. Os proprietários eram expulsos das suas terras, os empresários fugiam para o Brasil, as fábricas eram ocupadas, todas as cooperativas a sul do Tejo estavam nas mãos do Partido Comunista bem como as ligas de pequenos e médios agricultores. Estas ligas, dominadas pelo Partido Comunista, vinham ocupando as estruturas agrárias e incluindo os grémios da lavoura.
É neste ambiente de “terror” e medo que é marcada a tomada do Grémio da Lavoura de Rio Maior pela liga de Alpiarça para o dia 13 de julho de 1975, ao meio-dia. À hora marcada estavam à porta do grémio mais de 400 agricultores para impedir a sua ocupação. Alguns ocupantes vinham armados e foram apreendidas espingardas, houve escaramuças, foi um pandemónio!
A sede do Partido Comunista (PCP) e da Frente Socialista Popular (FSP) foram destruídas em Rio Maior.
À noite, desse dia, eram milhares e milhares de pessoas que se juntavam aos agricultores para protestaram conta a situação que se vivia no país. Na noite dentro, já ninguém ousava arredar pé, tendo sido necessário a intervenção das tropas de Caldas da Rainha para convencer a multidão a dispersar.
Sem grande espanto, os jornais diários empenharam-se afincadamente em lançar uma campanha contra a vila de Rio Maior, não só contra os agricultores, mas também contra toda a população da vila.
Mas os riomaiorenses não se deixaram abater! Em reação a estes acontecimentos, intersetavam as carrinhas que vinham de Lisboa com jornais destinados ao centro e norte de Portugal, retirando os exemplares para a estrada e destruindo-os. Isto durou mais de uma semana!
Dois dias após o 13 de julho, relatava o Diário do Ribatejo: “nos incidentes em Rio Maior foram destruídas as sedes do PCP e da FSP.”; “as ruas encontravam-se apinhadas de gente vinda de todo o lado do concelho e das localidades vizinhas.”; “Rio Maior quer a verdade na informação.”; “milhares de exemplares do Diário de Lisboa e do Diário Popular, rasgados na sua chegada à vila.”; “o governador civil vai deslocar-se a Rio Maior acompanhado de várias entidades militares para tentar serenar a população.”; “as sedes do PCP estão a ser todas destruídas de Rio Maior até ao norte.”
Meira Burguete escreve no seu livro: “os partidos políticos vêm a Rio Maior em busca de apoio. A 13 de agosto, precisamente 1 mês a seguir ao 13 de julho, o Partido Socialista vem fazer um comício a Rio Maior e apoiar os agricultores. Veio também o CDS – Partido Popular e o Partido Social Democrata.”.
À Associação dos Agricultores (AARM), chegam de todas as partes do país, centenas de telegramas a felicitar os agricultores de Rio Maior a sua tomada de posição. Perante estes acontecimentos, a AARM queria um Secretariado Nacional de Agricultores presidido pelo Eng. José Casqueiro, para divulgarem os passos a dar face ao descalabro que o país enfrentava e é com a conivência dos militares moderados que é marcada para Rio Maior, no dia 24 de novembro, uma manifestação a nível nacional, onde estiveram presentes mais de 50 mil agricultores.
Nesta grande manifestação, é que foi aprovado o Caderno Reivindicativo com 13 pontos e o corte das estradas de Lisboa ao Porto, Porto Alto, linha de comboio do Oeste e ainda outras vias secundárias com o fim de pressionar o governo à aprovação das reivindicações dos agricultores.
Terminada esta grande manifestação, o representante dos agricultores, Eng. José Casqueiro é abordado por dois elementos do Conselho da Revolução que lhe pedem para irem a uma representação de agricultores a Belém, para dialogarem com os conselheiros.
Partiram de Rio Maior quatro agricultores, o Eng. José Casqueiro, Luís Madeira, Guilherme Jacinto e eu, o Nazaré Gomes. Essa reunião durou até às 6 da manhã e foinos prometido que o governo iria analisar as nossas pretensões e que ia ser discutido no governo nos próximos dias.
Quando saímos de Belém, encontrámos o meu saudoso e amigo Jaime Neves, que estava no início da Calçada da Ajuda, com quem troquei algumas palavras e onde me disse que estava ali para intercetar material militar que vinha de Angola. Horas depois vim a saber que já estava em marcha o 25 de novembro onde finalmente nos foi restituído a liberdade e a democracia que nos tinha sido prometida no 25 de abril de 1974.
Joaquim Nazaré Gomes

 

 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

sábado, 16 de novembro de 2024

O jornalismo está a suicidar-se!

A razão de ser do jornalismo é a formação de uma cidadania bem informada, com confiança na informação que recebe.
É essa confiança que muito do actual jornalismo está a comprometer, como vimos [antes nas eleições portuguesas de Março] e nas dos EUA este Novembro (José Manuel Fernandes)
mas o mundo não é o que gostaríamos que fosse.
O problema, sublinho, não é os jornalistas, os analistas e os comentadores serem contra ou a favor de Donald Trump, o problema é quererem transformar, nas suas reportagens e análises, o mundo naquilo que gostariam que fosse.
Mas o mundo não é o que gostaríamos que fosse. E ouvindo os enganados e enganadores explicarem, depois do embate com a realidade, porque é que se enganaram é de crer que vão continuar enganados. (Jaime Nogueira Pinto)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

MAGA versus TAON

Mais que MAGA (Make America Great Again ), TAON (Tornar a América odiada novamenteé o lema da futura presidência. 
Trump parece apostado em liderar uma América odiada por burocratas corruptos em Washington e por grupos terroristas espalhados pelo mundo

Anedota Guterres
O secretário-geral das Nações Unidas pode começar a fazer contas às vida. A torneira é capaz de fechar para os seus projetos em co-autoria com o Hamas, com destaque para a UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente. É possível que Trump ache pouca graça a continuar a financiar uma instituição em que o Irão tem moral para votar resoluções contra Israel.
Os Ricardos Costas da vida
Saiu a sorte grande aos meios de comunicação social tradicionais! Mais quatro anos a encher tempo de antena com o maluquinho do Trump e os “maluquinhos do Trump”. É aproveitar enquanto ainda há maluquinhos que recolhem a sua “informação”na mesma comunicação social que, por toda a Europa ocidental, garantia que a eleição de uma candidata mais comunista que Bernie Sanders era o que a América e o mundo mais precisava.
Os activistas marxistas
Vão odiar ainda mais Trump (se é possível… Claro que é! Esta gente tem sempre mais um espacinho para ódio), porque embora adorem políticas identitárias e que cada um expresse a sua identidade, não admitem que isso tenha de ser feito por intermédio de um cartão com nome e fotografia, no momento de votar. E Trump quer tornar obrigatório o cartão de eleitor. E o partido democrata quase só ganhou estados onde não tem de se mostra cartão de eleitor. É fazer as contas.
As celebridades
Parece que embora a campanha da Kamala Harris tenha angariado mil milhões de dólares, está agora a pedir ajuda para colmatar prejuízos, à conta da contratação de vedetas como Beyoncé, Cardi B e Megan Thee Stallion. Se calha perguntarem ao ex-presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, o que pensa disto, é provável que responda como respondeu em 2017 a propósito, também, de Portugal e dos fundos europeus: “Não se pode gastar todo o dinheiro em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda.” Em mulheres é indiscutível que Kamala gastou bom dinheiro. Quanto ao álcool não posso garantir. Até porque há apenas suspeitas sobre o/a proprietário/a da cocaína descoberta, há uns meses, na Casa Branca.
O lema TAON serve também para marcar a diferença do mandato de Trump para os anos Biden-Harris, porque se com Trump tivermos um movimento TAON, isso contrastará imenso com a sensação que tivemos durante quatro anos cada vez que ouvíamos Biden ou Harris e pensávamos: “há aqui qualquer coisa que TAOFF”.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Quais são os estados que vão decidir se ganha Trump ou Biden?

Pequenas variações percentuais no voto nos estados chave podem ser a diferença entre perder por muito, por pouco, ganhar a tangente ou até ter uma grande vitória no Colégio Eleitoral. 

Wisconsin, Michigan e Pensilvânia e, numa segunda linha, Nevada, Arizona e Geórgia. Estes estados são os mais prováveis serem aqueles que decidirão entre a reeleição do incumbente Joe Biden e o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Ganhar estes estados é crucial para vencer a eleição presidencial de 5 de novembro, independentemente do que as sondagens digam sobre o voto popular.

Para ganhar as eleições para à Casa Branca não basta ser o candidato mais votado, é preciso vencer o Colégio Eleitoral, o conjunto dos 538 eleitores escolhidos por cada estado com base no número de senadores (2 para todos) mais o número de congressistas de cada um (desde apenas um nos estados menos populosos a 51 na Califórnia) e ainda três para o distrito federal de Washington. Pode acontecer o candidato mais votado no voto popular perder a eleição, como aconteceu a Hillary Clinton em 2016 e a Al Gore em 2000, duas eleições muito renhidas. Em 2020, o democrata Joe Biden ganhou tanto o voto popular (por 4,5 pontos percentuais) como o colégio eleitoral, mas as margens nos estados decisivos que lhe deram a vitória foram muito curtas. Com menos 1 ponto percentual de diferença face ao rival republicano Donald Trump teria perdido.

Tirando no Maine e no Nebraska, onde alguns grandes eleitores são selecionados por base nos resultados nos distritos do Congresso e outros com base nos resultados no todo do estado, os grandes eleitores dum determinado estado deverão todos votar no candidato mais votado naquele estado. Basta um voto a mais no estado decisivo, e a eleição está ganha, com pelo menos 270 grandes eleitores vence-se a nível nacional.

Há dois tipos de estados nas eleições, os estados seguros (ou garantidos), onde a eleição está decidida quase à partida, com base no histórico eleitoral e nas sondagens, havendo os estados azuis, onde se espera que seja o Partido Democrata a ganhar, e os estados vermelhos, onde se espera que ganhe o Partido Republicano, e depois existem os swing states ou estados oscilantes, que oscilam de eleição para eleição, ou se espera que possam oscilar, entre os dois partidos. Claro que depois na realidade existem estados que não se esperando que sejam renhidos também não podem ser dados como garantidos para nenhum dos campos, mas estrategicamente é melhor para as campanhas dos candidatos focarem-se nos estados não seguros que têm mesmo de ganhar. Demasiada ambição pode ser contraproducente, mais até do que uma estratégia defensiva quando se está com alguma vantagem no mapa. Neste momento, como está o cenário?

Em 2020 houve 17 estados ganhos com uma margem de no máximo cerca de 10%, sendo extremamente difícil de imaginar com as condições atuais algum dos estados ganhos por bem mais que 10% a mudar de mãos. Mesmo que apareçam algumas sondagens a indicarem corridas renhidas noutros lugares, nesta fase do campeonato devemos olhar mais para as médias das últimas eleições, ainda mais quando as deste ano são uma repetição do duelo de 2020. Embora os estados mais renhidos este ano até possam ser outros.

Começando pelo oeste americano, os três estados da costa (Califórnia, Oregon e Washington) não deverão ser renhidos e continuarão a ser fortemente democratas. Mesmo que Trump reduza as margens de vitória de Biden neles, o que é provável, o que pode ajudar Trump a ganhar pela primeira vez o voto popular, um sonho dele. No oeste mais interior, a caminho do Midwest, vemos um norte fortemente republicano, com poucas hipóteses de passar de mão, mais a sul o Colorado e Novo México, outrora estados oscilantes, só mudariam para a cor vermelha numa grande vitória de Trump, tornando-os assim extremamente improváveis de serem estados decisivos.

O mesmo não pode ser dito do Nevada e do Arizona, estados do sudoeste, com uma grande população de origem hispânica, que foram ganhos por pouco e muito pouco por Biden em 2020. Estes dois fazem parte do conjunto de estados mais provável de decidir a eleição. Neste momento, de acordo com as sondagens, Trump parece estar bem posicionado para os vencer. Mas estes não chegam.

Mais para o interior, o gigante Texas com os seus 40 grandes eleitores, deverá continuar republicano, embora nos anos 2016 a 2020 tenha ficado mais renhido. Com tantos grandes eleitores, poderia ser tentador à campanha de Biden tentar ganhá-lo. Mas, dada a força de Trump e o seu crescente apoio entre os hispânicos, o estado não será decisivo, e também provavelmente, pouco renhido em novembro.

Indo agora para a metade leste americana, onde estão concentrados a maioria dos grandes eleitores, o sul deverá continuar republicano, com Trump a reforçar provavelmente a Flórida com os seus 30 grandes eleitores, um tradicional estado oscilante, que desta vez será muito difícil de ganhar pelos democratas. As sondagens também indicam um iminente regresso da Geórgia à coluna vermelha.

Mais a norte, junto à costa, o mapa deverá continuar quase todo azul, com Biden com vitórias muito prováveis em quase todos estes estados, embora seja expectável uma melhoria da performance de Trump em estados muito populosos como Nova Iorque e Nova Jérsia, mas que continuará insuficiente para os fazer mudar de cor. Na Nova Inglaterra (Massachusetts, Connecticut, Rhode Island, New Hampshire, Vermont e Maine) espera-se que Biden continue em primeiro.

O mesmo não se pode dizer dos estados dos Grandes Lagos e arredores que em 2016 foram cruciais para dar uma vitória inesperada a Donald Trump. O Iowa e o Ohio muito dificilmente voltarão para os democratas. Segundo as sondagens, Trump não estará mais forte do que em 2020 nos estados que ao irem do campo republicano de volta para o campo democrata foram decisivos para Biden ganhar: o Wisconsin, o Michigan e a Pensilvânia. Mas estes foram tão renhidos nas duas últimas eleições que pequenas variações a favor de Trump podem-no pôr de volta à Casa Branca.


Se o debate foi decisivo, Trump já as perdeu.

Se o debate entre Trump e Harris.for decisivo para as eleições de Novembro, o ex-presidente já as perdeu. Apresentou-se mal preparado, se é que o chegou a ser, com um discurso difuso e perdido a falar essencialmente no passado, e com alguns disparates inadmissíveis, como a sugestão de que se os democratas ganhassem os norte-americanos acabariam todos a comer cães e gatos. 
E isto perante uma candidata medíocre, que ocupou uma posição do mais alto nível numa administração que deixa o mundo a ferro e fogo. Trump e os republicanos não conseguiram ajustar-se à saída de jogo de Biden. Vão pagar caro por isso. (Rui Albuquerque)


Foi um frente a frente intenso, onde Kamala surpreendeu Trump com postura agressiva. Adversário ripostou, mais eficaz na imigração e na economia. Eleitores de base ficaram satisfeitos — e os outros? (Cátia Bruno)