Foi aqui, em Rio Maior, na véspera do 25 de novembro de 1975 que se deu o sinal que era preciso para que as forças armadas moderadas avançassem para a conquista da liberdade e democracia que havia sido amordaçada em 11 de março de 1975.
Vamos aos factos… Em 11 de março de 1975, foi nomeado, porém não eleito, Vasco Gonçalves, de má memória para primeiro-ministro. De imediato nacionalizaram a banca, os seguros, a comunicação social e as grandes empresas.
Estava consumada uma ditadura de Extrema-Esquerda em Portugal! Em julho, 4 meses após o 11 de março, o ambiente no país era de “terror”. A única televisão da época, no país, só transmitia música revolucionária, propagando a morte aos latifundiários e aos empresários e quem não se dizia comunista era automaticamente comutado de fascista.
Nesse verão quente, as ocupações seguiam a todo o gás. Os proprietários eram expulsos das suas terras, os empresários fugiam para o Brasil, as fábricas eram ocupadas, todas as cooperativas a sul do Tejo estavam nas mãos do Partido Comunista bem como as ligas de pequenos e médios agricultores. Estas ligas, dominadas pelo Partido Comunista, vinham ocupando as estruturas agrárias e incluindo os grémios da lavoura.
É neste ambiente de “terror” e medo que é marcada a tomada do Grémio da Lavoura de Rio Maior pela liga de Alpiarça para o dia 13 de julho de 1975, ao meio-dia. À hora marcada estavam à porta do grémio mais de 400 agricultores para impedir a sua ocupação. Alguns ocupantes vinham armados e foram apreendidas espingardas, houve escaramuças, foi um pandemónio!
A sede do Partido Comunista (PCP) e da Frente Socialista Popular (FSP) foram destruídas em Rio Maior.
À noite, desse dia, eram milhares e milhares de pessoas que se juntavam aos agricultores para protestaram conta a situação que se vivia no país. Na noite dentro, já ninguém ousava arredar pé, tendo sido necessário a intervenção das tropas de Caldas da Rainha para convencer a multidão a dispersar.
Sem grande espanto, os jornais diários empenharam-se afincadamente em lançar uma campanha contra a vila de Rio Maior, não só contra os agricultores, mas também contra toda a população da vila.
Mas os riomaiorenses não se deixaram abater! Em reação a estes acontecimentos, intersetavam as carrinhas que vinham de Lisboa com jornais destinados ao centro e norte de Portugal, retirando os exemplares para a estrada e destruindo-os. Isto durou mais de uma semana!
Dois dias após o 13 de julho, relatava o Diário do Ribatejo: “nos incidentes em Rio Maior foram destruídas as sedes do PCP e da FSP.”; “as ruas encontravam-se apinhadas de gente vinda de todo o lado do concelho e das localidades vizinhas.”; “Rio Maior quer a verdade na informação.”; “milhares de exemplares do Diário de Lisboa e do Diário Popular, rasgados na sua chegada à vila.”; “o governador civil vai deslocar-se a Rio Maior acompanhado de várias entidades militares para tentar serenar a população.”; “as sedes do PCP estão a ser todas destruídas de Rio Maior até ao norte.”
Meira Burguete escreve no seu livro: “os partidos políticos vêm a Rio Maior em busca de apoio. A 13 de agosto, precisamente 1 mês a seguir ao 13 de julho, o Partido Socialista vem fazer um comício a Rio Maior e apoiar os agricultores. Veio também o CDS – Partido Popular e o Partido Social Democrata.”.
À Associação dos Agricultores (AARM), chegam de todas as partes do país, centenas de telegramas a felicitar os agricultores de Rio Maior a sua tomada de posição. Perante estes acontecimentos, a AARM queria um Secretariado Nacional de Agricultores presidido pelo Eng. José Casqueiro, para divulgarem os passos a dar face ao descalabro que o país enfrentava e é com a conivência dos militares moderados que é marcada para Rio Maior, no dia 24 de novembro, uma manifestação a nível nacional, onde estiveram presentes mais de 50 mil agricultores.
Nesta grande manifestação, é que foi aprovado o Caderno Reivindicativo com 13 pontos e o corte das estradas de Lisboa ao Porto, Porto Alto, linha de comboio do Oeste e ainda outras vias secundárias com o fim de pressionar o governo à aprovação das reivindicações dos agricultores.
Terminada esta grande manifestação, o representante dos agricultores, Eng. José Casqueiro é abordado por dois elementos do Conselho da Revolução que lhe pedem para irem a uma representação de agricultores a Belém, para dialogarem com os conselheiros.
Partiram de Rio Maior quatro agricultores, o Eng. José Casqueiro, Luís Madeira, Guilherme Jacinto e eu, o Nazaré Gomes. Essa reunião durou até às 6 da manhã e foinos prometido que o governo iria analisar as nossas pretensões e que ia ser discutido no governo nos próximos dias.
Quando saímos de Belém, encontrámos o meu saudoso e amigo Jaime Neves, que estava no início da Calçada da Ajuda, com quem troquei algumas palavras e onde me disse que estava ali para intercetar material militar que vinha de Angola. Horas depois vim a saber que já estava em marcha o 25 de novembro onde finalmente nos foi restituído a liberdade e a democracia que nos tinha sido prometida no 25 de abril de 1974.
Joaquim Nazaré Gomes