Uma empresa recém-criada, sem volume de negócios, recebe quase 250 mil euros de fundos europeu, acaba-se o periodo dos fundos e vai à falência. Para onde foi o dinheiro? Não sabemos.
Há dias assim. No meu último post aqui no Facebook apelei à criação de um portal com informação detalhada sobre o destino dos fundos europeus. A Agência para o Desenvolvimento e Coesão teve a gentileza de me responder que uma base de dados semelhante já existe. Eu abri a base de dados e, de facto, está lá informação sobre o beneficiário e o montante atribuído, assim como outras informações menos relevantes. Falta, claro, muita informação sobre o destino dos fundos, o critério para serem atribuídos e o plano de negócios para esses fundos. Mas o mais engraçado ainda está para vir...
Abri a base de dados, fiz um pequeno filtro para ver um exemplo de uma empresa que recebeu fundos. Foi, literalmente, escolhida à sorte, eu podia ter facilmente clicado no nome acima ou abaixo. A empresa chama-se "Alexandre Chaves, Unipessoal" e recebeu cerca de 247 mil euros. O projecto financiado decorreu de 1 de Abril de 2017 a 31 de Março de 2020. Por curiosidade, fui investigar a empresa nas bases de dados online e aqui fica a curiosa história desta empresa que levou 247 mil euros de fundos:
- Foi fundada a 13 de Setembro de 2016 por um cidadão residente no Brasil (um tal Alexandre Mendes Chaves)
- A 15 de Setembro de 2016, 2 dias depois, o Alexandre Chaves demite-se da empresa. No mesmo dia, um Alexandre Costa Primo Jaleco torna-se gerente da empresa.
- Seis meses depois de ser fundada com um capital social de 250 euros, a empresa recebe um fundo europeu de 247 mil euros para internacionalização (que sorte, uma empresa que tinha acabado de ser criada já a internacionalizar-se)
- Logo após o início do projecto financiado, a empresa comunica a mudança de gerência ao estado português (a tal que tinha acontecido em Setembro, mas ainda não comunicada)
- Em Março de 2020 acaba o tal projecto de internacionalização financiado por fundos europeus.
- Em Maio de 2020 a empresa entra em insolvência.
Uma empresa recém-criada, sem volume de negócios, recebe quase 250 mil euros de fundos europeu, acaba-se o periodo dos fundos e vai à falência. Para onde foi o dinheiro? Não sabemos.
Isto foi literalmente o primeiro caso que me apareceu à frente. Demorei 5 minutos a obter esta informação e nem quero tentar saber quem são estas pessoas (até pode ser tudo legítimo ou, pelo menos, legal). Se havia dúvidas sobre a necessidade de haver transparência com os fundos europeus... (por Carlos Guimarães Pinto no FaceBook)