uma excelente exposição de Jaime Nogueira Pinto no Observador sobre
a Direita Moderna! Acima de tudo um texto académico talvez demasiado longo para
o leitor comum! Fica aqui o pedaço que diz respeito a Portugal! Se tiver tempo ou
se, sem tempo, tiver interesse: LEIA!
Esta definição de
Direita agrada-me:
«Respeita a
religião, a memória colectiva, a família. Tem uma concepção orgânica da
sociedade; valoriza a pessoa e as suas liberdades mas não sacraliza o
individualismo e o arbítrio. Por isso, embora veja na iniciativa privada e no
mercado livre a melhor forma de dinamizar a economia e criar riqueza, sustenta
que há uma ética de justiça e de solidariedade que, em nome do interesse
colectivo, deve corrigir as desigualdades mais profundas e proteger os grupos
mais débeis, reforçando a coesão nacional. Sendo pela liberdade económica, está
longe dos dogmas ultra-liberais.[.]
Em síntese, a
direita é tendencialmente nacionalista em política, liberal-solidarista em
economia e conservadora em costumes.»
A Direita em Portugal!
A partir do fracasso da
República dos Democráticos, da reacção militar do 28 de Maio e do Estado Novo,
a direita governou autoritariamente Portugal por quase meio século. Quando a
esquerda chegou ao poder, pelo golpe militar do 25 de Abril, a esquerda mais
radical – poderosa em termos de activismo de rua e de influência no MFA – tratou
de neutralizar e eliminar a direita que existia. De resto, a esquerda tinha, há
muito, a hegemonia cultural, uma vez que Salazar, ao centralizar e monopolizar
o pensamento político da direita e ao domesticar a sua própria área política,
fora secando intelectualmente as direitas, facilitando, paradoxalmente, o
domínio da esquerda na cultura. Fosse como fosse, quando do golpe militar de
Abril, a direita que existia ainda tinha visões alternativas à descolonização,
ideias políticas e alguma capacidade de mobilização de quadros e de militantes.
A sua neutralização fez-se
manipulando e aproveitando os golpes de 28 de Setembro de 1974 e de 11 de Março
de 1975 e com o silêncio de Pilatos do PPD-PSD e do CDS, que depois aceitaram o
Pacto MFA-Partidos para sobreviver. Eram uma direita conveniente à esquerda e,
por isso, tolerada. Tinham um eleitorado de direita mas, ideologicamente, não
tinham valores de direita, além do anti-comunismo e de uma vaga defesa da
economia liberal.
O que é estranho é que, mais
de 45 anos sobre o 25 de Abril e quase 44 anos sobre o 25 de Novembro, a
direita partidária ainda esteja nesse registo assustadiço, preferindo ser ou
dizer-se de centro, de centro-direita ou até de centro-esquerda.
Isto ainda é mais
extraordinário num tempo em que a direita, nas suas várias formulações, cresce
e se multiplica por toda a parte, por reacção ao domínio de um ultraliberalismo
e de uma globalização sem limites, conscientemente servidos ou
inconscientemente viabilizados pela ideologia da chamada “Nova Esquerda”,
Portugal deve ser hoje o país
mais à esquerda da Europa Ocidental e o que tem mais representações
parlamentares de extrema-esquerda: a comunista, a bloquista, e as do populismo
radical – planetário, animalista, racial e sexual.
Como reconstruir em Portugal
uma direita que seja idealista e realista; uma direita que, respeitando o tempo
passado, seja deste tempo? Como consolidar aqui uma direita que não seja uma
amálgama de slogans ocos, nem se sinta obrigada a apresentar
constantes atestados de bom comportamento perante o sistema e a sua retórica,
adoptando servil e acriticamente as categorias impostas pela semântica da
esquerda doméstica do séc. XX? Como mobilizar uma direita nacional que não se
molde à imagem caricatural que a esquerda faz dela nem se perca em chavões
importados, roncantes e patrioteiros, alheios à realidade do nosso
passado, presente e futuro?
Estamos num tempo de reacção
e a reacção começa pela negação do estabelecido e envolve uma certa
radicalidade. Por isso, e porque as sínteses vêm depois das antíteses, só muito
dificilmente se chegará agora à síntese.
Desde 2016 que, na Europa e
nas Américas, as direitas ganham referendos e eleições, elegendo governos e
partidos populares e abalando o que parecia sólido e inamovível. Estas direitas
são identitárias e são nacionais e, quer sejam mais conservadoras ou mais
liberais em costumes, respeitam a propriedade e a liberdade económica,
pondo-lhes limites de interesse nacional e de justiça social. Não negam o
projecto europeu mas querem uma Europa das Nações, com base nas soberanias
nacionais e na tradição cristã europeia, e não uma federação ou confederação de
interesses económico-financeiros, em que os grandes – países e corporações
–mandam, com a cumplicidade de elites periféricas, cuja ambição máxima é serem
procônsules ou mesmo capatazes dos seus próprios povos.
Sem pretender excluir outras
famílias ideológicas que também cabem na direita e sem nunca descurar as nossas
especificidades históricas e culturais, são, aparentemente, estas as linhas de
identificação à direita capaz de responder aos presentes desafios. Até porque,
como o conceito é relacional, será esta a direita passível de se integrar no
movimento das direitas nacionais e populares que agora contesta a hegemonia
política do bloco central e o domínio cultural de uma esquerda também renovada.