domingo, 10 de novembro de 2019

a Direita em Portugal!


uma excelente exposição de Jaime Nogueira Pinto no Observador sobre a Direita Moderna! Acima de tudo um texto académico talvez demasiado longo para o leitor comum! Fica aqui o pedaço que diz respeito a Portugal! Se tiver tempo ou se, sem tempo, tiver interesse: LEIA!

Esta definição de Direita agrada-me:
«Respeita a religião, a memória colectiva, a família. Tem uma concepção orgânica da sociedade; valoriza a pessoa e as suas liberdades mas não sacraliza o individualismo e o arbítrio. Por isso, embora veja na iniciativa privada e no mercado livre a melhor forma de dinamizar a economia e criar riqueza, sustenta que há uma ética de justiça e de solidariedade que, em nome do interesse colectivo, deve corrigir as desigualdades mais profundas e proteger os grupos mais débeis, reforçando a coesão nacional. Sendo pela liberdade económica, está longe dos dogmas ultra-liberais.[.]
Em síntese, a direita é tendencialmente nacionalista em política, liberal-solidarista em economia e conservadora em costumes.» 
A Direita em Portugal!
A partir do fracasso da República dos Democráticos, da reacção militar do 28 de Maio e do Estado Novo, a direita governou autoritariamente Portugal por quase meio século. Quando a esquerda chegou ao poder, pelo golpe militar do 25 de Abril, a esquerda mais radical – poderosa em termos de activismo de rua e de influência no MFA – tratou de neutralizar e eliminar a direita que existia. De resto, a esquerda tinha, há muito, a hegemonia cultural, uma vez que Salazar, ao centralizar e monopolizar o pensamento político da direita e ao domesticar a sua própria área política, fora secando intelectualmente as direitas, facilitando, paradoxalmente, o domínio da esquerda na cultura. Fosse como fosse, quando do golpe militar de Abril, a direita que existia ainda tinha visões alternativas à descolonização, ideias políticas e alguma capacidade de mobilização de quadros e de militantes.
A sua neutralização fez-se manipulando e aproveitando os golpes de 28 de Setembro de 1974 e de 11 de Março de 1975 e com o silêncio de Pilatos do PPD-PSD e do CDS, que depois aceitaram o Pacto MFA-Partidos para sobreviver. Eram uma direita conveniente à esquerda e, por isso, tolerada. Tinham um eleitorado de direita mas, ideologicamente, não tinham valores de direita, além do anti-comunismo e de uma vaga defesa da economia liberal.
O que é estranho é que, mais de 45 anos sobre o 25 de Abril e quase 44 anos sobre o 25 de Novembro, a direita partidária ainda esteja nesse registo assustadiço, preferindo ser ou dizer-se de centro, de centro-direita ou até de centro-esquerda.
Isto ainda é mais extraordinário num tempo em que a direita, nas suas várias formulações, cresce e se multiplica por toda a parte, por reacção ao domínio de um ultraliberalismo e de uma globalização sem limites, conscientemente servidos ou inconscientemente viabilizados pela ideologia da chamada “Nova Esquerda”,
Portugal deve ser hoje o país mais à esquerda da Europa Ocidental e o que tem mais representações parlamentares de extrema-esquerda: a comunista, a bloquista, e as do populismo radical – planetário, animalista, racial e sexual.
Como reconstruir em Portugal uma direita que seja idealista e realista; uma direita que, respeitando o tempo passado, seja deste tempo? Como consolidar aqui uma direita que não seja uma amálgama de slogans ocos, nem se sinta obrigada a apresentar constantes atestados de bom comportamento perante o sistema e a sua retórica, adoptando servil e acriticamente as categorias impostas pela semântica da esquerda doméstica do séc. XX? Como mobilizar uma direita nacional que não se molde à imagem caricatural que a esquerda faz dela nem se perca em chavões importados, roncantes e patrioteiros, alheios à realidade do nosso passado, presente e futuro?
Estamos num tempo de reacção e a reacção começa pela negação do estabelecido e envolve uma certa radicalidade. Por isso, e porque as sínteses vêm depois das antíteses, só muito dificilmente se chegará agora à síntese.
Desde 2016 que, na Europa e nas Américas, as direitas ganham referendos e eleições, elegendo governos e partidos populares e abalando o que parecia sólido e inamovível. Estas direitas são identitárias e são nacionais e, quer sejam mais conservadoras ou mais liberais em costumes, respeitam a propriedade e a liberdade económica, pondo-lhes limites de interesse nacional e de justiça social. Não negam o projecto europeu mas querem uma Europa das Nações, com base nas soberanias nacionais e na tradição cristã europeia, e não uma federação ou confederação de interesses económico-financeiros, em que os grandes – países e corporações –mandam, com a cumplicidade de elites periféricas, cuja ambição máxima é serem procônsules ou mesmo capatazes dos seus próprios povos.
Sem pretender excluir outras famílias ideológicas que também cabem na direita e sem nunca descurar as nossas especificidades históricas e culturais, são, aparentemente, estas as linhas de identificação à direita capaz de responder aos presentes desafios. Até porque, como o conceito é relacional, será esta a direita passível de se integrar no movimento das direitas nacionais e populares que agora contesta a hegemonia política do bloco central e o domínio cultural de uma esquerda também renovada.