quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

o fim do “selffie made man”!

O ciclo mudou e com ele o tom e o registo: O rosa virou grisalho, os sorrisos amareleceram... 
A habilidade e a pratica do flip-flop politico de Rebelo de Sousa sempre me surpreenderam! Voltará a surpreender-me?
1. “Dizes sempre mal dele, que coisa”!
Dizer mal “do Marcelo” é hoje algo de quase brutalmente dissonante, entre o inadmissível e o absurdo. Não é suposto. Não se faz. Na rendição apatetada do país ao Chefe do Estado, “demissões” não são pura e simplesmente concebíveis.[...]
A verdade é que o observei, vi-o agir, trabalhei com ele e para ele, conheço-lhe a excepcionalidade da inteligência, tirei-lhe muitas fotografias com palavras, confessei-o, alcancei a dimensão exacta da sua ambição, retive, para a vida, a certeza da sua solidão. Sei quem ele é. [...]
e o que nele aprecio – e indubitavelmente aprecio – não coincide com a forma como encarna e pratica a função presidencial.
2. Ao abraçar continuamente o país inteiro Marcelo está a fazer de Portugal um orfanato. Ao distribuir afectos a eito, transforma-o num sítio de gente oficialmente infeliz que necessita permanentemente de mimo e consolo.  Ao fazer-se fotografar e abraçar (cláusulas sempre incluídas nas deslocações) com quem lhe aparece à frente, infantiliza o gesto e relativiza o símbolo do abraço. Nem o país está moribundo, nem saiu duma guerra, nem necessita de ser constantemente redimido ou consolado. [...]
É certo que tudo isto lhe trazia um palco exclusivo – prioridade número um – e assegurava tropas (para o que der e vier). Um português feliz e selfizado é um soldado disponível. E não estão aí sondagens iguais às da Coreia do Norte a comprovar o acerto presidencial? [...]
3. Marcelo praticou demasiada cumplicidade governamental, elogiou demais, comentou demais, enredou-se demais em questões que não eram “suas” e  alertou de menos para algumas opções – leis, reversões, cativações, decisões – que ele sabe que objectivamente não podem deixar de vir a prejudicar o futuro nacional. Fê-lo, disse ele, em nome da “estabilidade”: o seu custo compensará o prejuízo de algumas opções tomadas e que poderiam não ter sido exactamente as mesmas?
Depois veio o Verão, morreram cento e tal pessoas. O confronto que daí resultou com o colossal falhanço do Estado e a leveza dos governantes, avisou-o. O ciclo mudou e com ele o tom e o registo. O rosa virou grisalho, os sorrisos amareleceram. »
4. Sim houve uma nítida marcha atrás na demarche do Presidente e no desenho do seu mandato: melhor que ninguém sabe que o segundo acto será diferente, mesmo que mais difícil e não totalmente previsível.
Há outro mapa politico com a chegada de Rio ao leme de um PSD dividido e cansado; há o calendário eleitoral que vai começar a apertar, alterando forçosamente o ritmo e o rumo das coisas da político; há o aumento de nível de exigências da extrema esquerda, acelerada pelo receio  -real – de um bloco central.
Em caso de casamento ao centro, ao menos não se poderiam queixar da pródiga herança socialista recebida.
E há sobretudo um governo que mesmo que não pareça – distraído como anda com o auto elogio permanente das suas performances – nos surge meio bloqueado: escassseia o investimento público, nada se faz para favorecer ou sequer incentivar o investimento privado; escasseia o trabalho nalgumas áreas governamentais; escasseia – piora – a real procura de uma economia sustentada: chega a ser absurdo o contentamento com o turismo como fonte de riqueza quando não passa de produtor de empregos com baixa qualificação.
E há impostos a aumentar todos os dias, uma carga fiscal que começa a ser tão desencorajadora quanto aterradora.
Como pensa o Presidente da República – agora menos azougado, mais tranquilo com o seu palco e as suas tropas e por isso mais entretido com o “macronismo” à portuguesa – actuar face a tudo isto no levantar do pano sobre o acto dois da sua peça presidencial?

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

o “milagre” que nos tem sido vendido...

Os problemas de fundo da nossa falta de competitividade permanecem e não têm solução à vista. Continuamos sem crescer mais termos anuais do que a média da Zona Euro — veremos os números finais do PIB de 2017 mostram o contrário –, estamos ainda mais atrás da Espanha — que tem taxas de crescimento anuais acima dos 3% desde pelo menos 2016. Mas persistimos em enfiar a cabeça na areia e não olharmos de frente para os problemas estruturais que temos em termos demográficos, em termos de sustentabilidade da nossa Segurança Social ou até a viabilidade económico-financeira do nosso Estado Social.
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Vem isto a propósito do quase ‘milagre’ económico do Governo de António Costa com contas públicas aparentemente controladas — e com boas novas a caminho já na próxima semana do Instituto Nacional de Estatística sobre os números finais do crescimento do PIB em 2017. 
Esse ‘milagre’, contudo, arrisca-se a ser uma fantasia pelas mesmas razões que levaram à falta de sustentabilidade dos ciclos económicos de Guterres e Sócrates.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Defender a legalização da prostituição é defender os Harvey Weinstein nacionais....

Pelos vistos, é um abuso alguém pedir sexo em troca de favores, mas já não o é se for em troca de dinheiro.
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1. O escândalo dos abusos sexuais em Hollywood trouxe à luz do dia uma realidade conhecida mas que o mundo teimava em ignorar: que no cinema, como em outras indústrias onde jovens bonitos se cruzam com homens poderosos, havia um sensação de impunidade por parte de quem tem poder para solicitar sexo em troca de favores.
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2. Em Portugal tem surgido de tempos em tempos propostas sobre a legalização da prostituição. Regra geral os apoiantes deste tipo de legislação têm sido os mesmo que muito se manifestam contra os abusos sexuais como os revelados agora pelo escândalo em Hollywood. [...]

Pelos vistos, é um abuso alguém pedir sexo em troca de favores, mas já não o é se for em troca de dinheiro. (in “Legalizar o Harvey Weinstein nacional” por José Maria Seabra Duque)