Era a última campanha do velho
Cunhal e, por isso, pedi ao Paulo Portas para ir ver. E lá fui na “caravana”
(um método de propaganda hoje felizmente em desuso) pelo arquipélago comunista
no Alentejo e margem sul. Tudo se passou na melhor ordem e nos jantares, que as
militantes faziam, até se comia bem. Durante os comícios, a assistência
conversava sobre a única questão que verdadeiramente a levara ali: o Álvaro.
Estava o Álvaro mais magro? mais gordo? mais cansado? mais fresco? com um ar mais
velho? com um ar mais novo? A missa que o dito Álvaro recitava no palanque não
a interessava nada. Aquilo parecia uma família que vinha visitar o avô, ninguém
queria saber de política ou do partido que putativamente a representava. No
Seixal, se não me engano, houve um convívio. As senhoras puseram as mesas e
trouxeram as bebidas e os bolos. Por acaso uma delas resolveu falar comigo,
depois de um naco de doce de ovos. Perguntou qual seria o resultado do PC:
11 por cento, 15 por cento? Respondi que 8 ou 9 por cento. Ela choramingou: “Ai
que desgosto que isso vai dar ao Álvaro!”.
.
Muita gente se intriga com a
durabilidade dos Comunistas. Não os percebem.
Primeiro são poucos (pela última
contagem, 50 000) — num país pequeno, em terras pequenas, nos bairros em que
nasceram e cresceram.
Segundo, vivem entre si: o partido não gosta que os
militantes tenham amigos fora de casa.
Terceiro, o grau de endogamia é muito
alto. Entre os mais velhos (que são quase todos) a família chega de facto a ser
uma família. E com isto, claro, vem uma grande dose de nepotismo, de compadrio,
de protecção e de complacência.
Os comunistas não deixam o Partido (com
maiúscula).
Não admira. Quando saiu do PCF, por causa da invasão da Hungria,
Claude Roy disse: “Fiquei sozinho”, ou coisa equivalente. Vinte anos mais tarde
François Furet diria a mesma coisa.