sexta-feira, 19 de setembro de 2025

a rendição diplomática de Rangel, do Governo e de Marcelo

Quer no método, quer na substância, quer na coerência, a decisão de reconhecer o Estado da Palestina nesta conjuntura é um erro grave que fragiliza Portugal e corrói a credibilidade da sua política externa.
O episódio começou da pior forma: não foi o Governo português a anunciar a decisão, mas sim o Palácio do Eliseu, como se Lisboa fosse um satélite de Paris, incapaz de afirmar a sua própria voz. É diplomática e institucionalmente insólito que um país soberano se deixe anunciar por outro. Portugal fica diminuído, tratado como apêndice e não como Estado com política externa própria.
A substância é ainda mais grave. Reconhecer a Palestina neste contexto significa inscrever na nossa história diplomática um precedente perigoso: confundir causa política com terrorismo. A mensagem transmitida ao mundo é inequívoca — que o massacre de 7 de Outubro, o mais bárbaro ataque contra judeus desde o Holocausto, pode ser entendido como acto fundador de um Estado. É o sangue de inocentes transformado em moeda diplomática.
Alguns dirão que o gesto é simbólico, um sinal de solidariedade com o sofrimento palestiniano, ou que Portugal apenas se alinha com tendências internacionais. Mas nada disso resiste à análise: a solidariedade não pode ser confundida com a legitimação da violência, e seguir Paris ou Bruxelas sem respeito pelos critérios nacionais é abdicar da soberania em troca de aplausos fáceis.
A incoerência é total. O Governo estabeleceu critérios claros: libertação dos reféns, desarmamento do Hamas, reconhecimento de Israel, reforma da Autoridade Palestiniana, eleições livres e desmilitarização do futuro Estado. Nenhum destes pontos está cumprido. Nenhum.
E, ainda assim, Portugal avança — não porque os pressupostos foram verificados, mas porque Paris decidiu que era hora. Esta rendição não é só incoerência: é traição às linhas que o próprio Executivo traçou.
A tudo isto soma-se o silêncio do Presidente da República. Marcelo, que tantas vezes reclama autoridade moral e política, opta agora por calar. Mas o silêncio também fala: neste caso, legitima o gesto do Governo, confirmando a secundarização de Portugal e a submissão diplomática.

Paris manda. Marcelo cala-se. O Governo trai a palavra dada. E Paulo Rangel deixa de ser chefe da diplomacia para ser simples ministro obediente. 
O resultado é um só: uma humilhação  e a perda da credibilidade externa conquistada em décadas de esforço.