Há muito que se perdeu, em Portugal, a fronteira entre jornalismo e militância. Mas o caso de Filipe Santos Costa, promovido pela CNN Portugal a “comentador”, depois de ter sido legalmente impedido de exercer o jornalismo, merece atenção especial. Não só pela incoerência institucional que representa, mas porque revela a profundidade da degradação ética no espaço mediático português.
Santos Costa foi considerado pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalista incompatível com o exercício da profissão, por ter prestado serviços remunerados ao Partido Socialista enquanto mantinha actividade jornalística. Um conflito de interesses óbvio, que pôs em causa a independência que a profissão exige.
Contudo, expulso da profissão enquanto tal, Santos Costa ressurgiu pouco depois na CNN Portugal — não como jornalista, mas agora como comentador político. A função, contudo, pouco mudou: continua a usar o seu espaço de antena para atacar a Direita, com especial fixação no partido CHEGA e em André Ventura.
A desculpa? “Comentador” já não é “jornalista”, e como tal não se aplica a mesma exigência de imparcialidade. Mas isto é uma falácia. A neutralidade política deve ser princípio básico de qualquer voz com estatuto público em televisão generalista, sob pena de transformar o comentário em propaganda e o canal num braço da velha máquina partidária.
Numa democracia madura, jornalistas e comentadores são obrigados a respeitar uma ética comum: a da separação entre opinião e partidarismo, entre liberdade editorial e alinhamento político. Sem isso, o jornalismo transforma-se em arma — e o público em alvo.
Santos Costa representa bem o que se tornou prática nos media portugueses: uma elite que perdeu a vergonha de usar o microfone como púlpito ideológico. O problema não é ele — o problema é quem o mantém ali.
A responsabilidade recai agora sobre a direcção editorial da CNN Portugal, que continua a dar palco a um agente político sob disfarce de analista. É uma escolha consciente, que compromete a credibilidade do canal e expõe a falta de pluralismo na imprensa televisiva.