O “wokismo”, que durante anos se apresentou como a vanguarda cultural e moral do Ocidente, encontra-se hoje em queda acelerada. As empresas que o promoveram sofreram prejuízos colossais, o regresso de Donald Trump ao poder nos EUA confirmou a saturação social e, de desilusão em desilusão, a retórica das “microagressões”, das “pessoas que menstruam” e das “reparações históricas” tornou-se alvo de escárnio generalizado. A causa “woke” está moribunda.
Mas a esquerda tem a notável capacidade de regenerar-se. Quando um ciclo ideológico se esgota, logo inventa outro. O substituto do “wokismo” já está à vista: chama-se “palestinianismo”. Este consiste em transformar o conflito israelo-palestiniano numa cruzada moral unilateral, onde Israel é diabolizado como “nazista” e “genocida”, enquanto o Hamas, organização terrorista que governa Gaza com mão de ferro, é tratado como vítima.
A lógica é a mesma do identitarismo anterior: indignação seletiva, instrumentalização de vítimas, manipulação mediática e ignorância conveniente. Massacres em África, no Médio Oriente ou na Ásia não geram protestos. Só Gaza, porque ali a morte pode ser atribuída a Israel — ainda que com falsificações grotescas. O duplo critério é evidente.
Na verdade, a esquerda sabe que Israel é uma democracia e que Gaza é um refúgio de assassinos. Sabe que as comparações com o Holocausto são insultuosas para a memória das vítimas e que a demografia de Gaza cresce em vez de encolher. Mas prefere a má-fé, porque o objetivo não é a justiça: é atacar a civilização ocidental naquilo que ela tem de mais simbólico e resiliente — o Estado de Israel.
A novidade, porém, é o alargamento da frente de ataque. Ao contrário do “wokismo”, o “palestinianismo” consegue unir setores da esquerda radical a franjas da extrema-direita antissemita, “skinheads”, fascistas marginais, sociais-democratas decadentes e até libertários confusos. O ódio a Israel tornou-se um cimento comum, capaz de apagar contradições ideológicas. O perigo está justamente nessa convergência: de uma nova máscara pode surgir um velho monstro.