Sou cientista
fármaco-epidemiologista formado em Harvard e a trabalhar em Oxford. Na
resolução de problemas gosto de factos em vez de ilusionismo. Não é com
propaganda que salvamos vidas. O Gráfico do final do dia de 14 de abril (fonte
infra), baseado nos mesmos dados compilados na melhor faculdade de saúde
pública mundial (Johns Hopkins) e inspirado pelo jornal Financial
Times, normalizado pelo tamanho da população (por milhão de habitantes),
mostra os seguintes factos epidemiológicos:
Portugal é um dos piores
países do mundo em número de casos confirmados de doentes infectados com
Covid-19, tendo quase 1700 casos por cada milhão de habitantes; não muito longe
da Itália, EUA ou França (se comparado ao mesmo dia 38 pós-primeiro caso em
cada país). Só a Espanha é dramaticamente pior no número de infectados. Quase
todos os outros países Europeus e a maioria dos quase 200 países do mundo têm
menos infectados confirmados.
Em número de mortes por
milhão de habitantes, infelizmente com cerca de 50 mortos por cada milhão de
habitantes, somos também dos mais letais países por Covid-19 no
mundo, embora não tão tragicamente no cimo da tabela como no número de
casos. Aqui não só a Espanha mas seis outros países europeus estão
significativamente piores que Portugal com 50% a 250% mais mortes por milhão de
habitantes. No entanto, estamos logo no segundo pelotão dos mais perigosos,
muito pior que a maioria dos países europeus. Estamos, por exemplo, bastante
mais perto das mortes nos EUA que da República Checa. Temos 200% (!) mais
mortes por milhão de habitantes que a República Checa (dia 14 de Abril que é o
dia 16 após a primeira morte na República Checa com 13.4 mortes por milhão
versus o dia 16 de Portugal em que havia 27.3 mortes por milhão). Em relação
aos EUA temos somente cerca de 30% menos mortes (71,4 versus 49 mortes por
milhão de habitantes, 22 dias após a primeira morte em cada país, hoje em
Portugal, ontem nos EUA).
Até o Brasil parece estar
bastante melhor que Portugal com muito menos mortes por milhão de habitantes,
cerca de 300% (!) menos
mortes por milhão. No dia 12 após a primeira morte, o
Brasil tinha 6,3 mortos por milhão, Portugal tinha 20,3 mortos por milhão de
habitantes.
É crucial em epidemiologia ou
ciência levar em conta esta diferença de tamanho da população dos países como
fiz acima e apresentar dados normalizados, em casos por milhão de habitantes.
Isto porque até as crianças da escola primaria aprendem na matemática que o
número de casos (ou no caso da escola primaria, número de objetos) não se divide
por valores absolutos para distorcer a realidade, mas de acordo com o tamanho
dos países (por milhão de habitante, ou, na escola primaria, pelo tamanho de
cada grupo por quem se dividem os objetos – o meu filho de 5 anos sabe fazer
essas contas).
Feito este esclarecimento
factual e apresentados os dados epidemiológicos acima como devem ser, estando a
saúde e vida dos meus compatriotas em jogo e porque sou um farmacologista e
epidemiologista (fármaco-epidemiologista) formado na Harvard University e na London
School of Hygiene and Tropical Medicine, respectivamente as melhores faculdades
nestas áreas da América e da Europa, devo concluir do exilio Inglês algo
crucial para Portugal. Isto por amor profundo às Ciências, à Saúde, à Verdade,
a Portugal e aos meus compatriotas, onde tenho tantos queridos amigos e
familiares ainda mais queridos, incluindo os mais próximos com mais de 70 anos.
Os portugueses estão entre os
povos mais afectados e em maior risco do mundo em casos confirmados de
infectados de Covid-19 e mortes no mundo pelo SARS-Cov-2, considerando o
tamanho da população.
Não pensava portanto ver
vários órgãos da comunicação social nacional serem tão ignorantes (ou pior) e
descerem tão baixo, pondo em perigo vidas ao apresentarem sobretudo números
absolutos sem os normalizar pelo tamanho da população. Estão assim a
desinformar gravemente, por leviandade ou deliberadamente. A esconder factos
terríveis e mortais, quando está em risco a vida dos Portugueses.
Estou pois aterrorizado e
repugnado com o comportamento cientificamente de idade das trevas, desrespeito
pela verdade irresponsável e leviano de certa comunicação social portuguesa
tipo Impresa SIC/Expresso (e até do inenarrável New York Times das notícias
falsas ou ideológicas ao elogiar Portugal sem verificar estes factos).
Tais falsas noticias
baseiam-se em apregoar a toda a hora números absolutos não normalizados por
população, mentindo que a situação é “globalmente muito positiva em Portugal,
somos dos melhores” (citação no telejornal da SIC deste Domingo), ou, como é
sugerido repetidamente no Expresso, com muitos melhores lideres (Presidente e
PM) e melhores resultados que os outros países.
Alardeiam, erradamente face
aos casos confirmados e resultados normalizados pelo tamanho da população, que
a situação é muito melhor e mais bem gerida em Portugal que nos outros países,
incluindo EUA e Brasil. Isto quando, factualmente, em mortes por milhão de
habitantes, o primeiro destes países está só um pouco acima de Portugal (EUA
com 30% mais mortes) e o segundo bastante abaixo (Brasil com 300% menos
mortes).
Jornalistas da SIC sempre
elogiados pelo Presidente da República ou primeiro-ministro e vice-versa andam
assim, sem nada questionar, a desinformar os portugueses que um pais pequeno
com 30 vezes menos população que outros países está muito melhor. Isto apenas
porque em valores absolutos também tem menos casos de Covid-19. Claro e
obviamente que temos menos casos absolutos que os EUA, por exemplo, pois também
temos muitos menos habitantes: só 10 milhões em vez de 330 milhões!
É aterrador que os suspeitos
habituais de subserviência governativa da comunicação social portuguesa, bem
como as fracas autoridades de saúde do meu pais, sejam cúmplices por leviandade
ou maldade, com propaganda política, não factual nem epidemiológica, pondo em
risco a vida dos portugueses.
Isto dá irresponsavelmente à
população um sentido de falsa segurança não baseado nos números epidemiológicos
correctamente normalizados. Os cidadãos são levados a pensar, erradamente, que
estão mais seguros em Portugal que na maioria dos outros países. Isto quando o
nosso é um dos países do mundo mais perigosos em relação à infecção (Top 5 do
mundo) e morte por Covid-19 (Top 10 no mundo inteiro).
Pedro Caetano é MPH (Harvard),
PgDip (Oxford), PgDip (London), MS (Michigan), PharmD (Ohio State), MBA
(ESSEC), MBA (Mannheim), PhD (Michigan); Ex-Professor de Farmacologia e
Epidemiologia na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Lisboa: Atual
Director Global da Industria Farmacêutica baseado no condado de Oxford, Reino
Unido.