sexta-feira, 27 de setembro de 2019

ainda há muito por esclarecer

O país vive um dos momentos mais graves do regime democrático. O presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas não pode ficar amuado, calado, nem acantonado em Belém. .
Não é possível esquecer o que se passou na Comissão Parlamentar de Inquérito a Tancos. Mesmo quando alguns querem afastar a vergonha da campanha eleitoral. Agora, Bloco de Esquerda e PCP começam a revelar grande inquietação: desde Catarina Martins a ziguezaguear em relação a Tancos a Jerónimo de Sousa a sacudir a água do capote.
De Tiago Barbosa Ribeiro nem uma reacção... De Carlos César só o mesmo vazio eloquente... E o SMS de Azeredo Lopes pesa como chumbo, enquanto o António Costa, cada vez mais acossado, chancela a lenga-lenga passada do PS quando está a braços com a Justiça. Resta o olhar embaraçado da generalidade das pessoas na rua, cuja indignação por vezes é verbalizada aqui e ali, à medida que se vai sabendo uma parte do que se passou em Tancos. ( por RuiCostaPinto no Mais Actual)
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Em Outubro de 2018 o primeiro-ministro deixava no ar uma espécie de profecia. “Um dia haveremos de saber o que é que cada um sabia sobre esta história de Tancos”, dizia António Costa. Esse dia foi esta quinta-feira, quando o Ministério Público divulgou o seu despacho de acusação a 23 pessoas, entre as quais altas figuras das Forças Armadas e o ex-ministro Azeredo Lopes. Nesse dia, haja ou não haja condenações, ficou provado que um assalto de criminosos de pacotilha destinado a entrar no anedotário nacional deu origem a uma grave crise de regime. Meter no mesmo saco armas, mentiras e jogos de poder e acrescentar à história manobras de intoxicação envolvendo o Presidente da República é um sintoma grave de degenerescência dos assuntos públicos.  
O rebentamento de uma mina com este potencial explosivo a escassos dias das eleições pode influenciar os resultados, o Governo deve explicações ao país sobre o que aconteceu. Não se trata de ceder ao populismo especulativo para insinuar que se o ministro sabia o chefe do Governo também sabia ou devia saber – todos os factos que conhecemos sugerem o contrário. 
Trata-se, sim, de saber como foi possível um membro do Governo ocultar informação sensível que, acusa a procuradoria, tinha acumulado sobre a encenação de Tancos entre o final do Verão de 2017 e Dezembro de 2018. Com o país a indignar-se com o roubo das armas e a indignar-se ainda mais quando soube do deplorável drama da encenação da sua “descoberta”, é fundamental saber como foi possível o Conselho de Ministros andar um ano a conviver com uma mentira. E saber também o que perguntou o primeiro-ministro ao seu ministro sobre o caso e que respostas lhe foram dadas. ( in“Tancos: ainda há muito por esclarecer” por Manuel Carvalho)