Paulo Pinto, da Divisão de Previsão
Meteorológica, Vigilância e Serviços Espaciais do IPMA, conta que já trabalha
com radares meteorológicos há cerca de 25 anos e nunca viu imagens como aquelas
que lhe apareceram no computador a 15 de outubro.
Recordando que os radares só detetam
nuvens de fumo mesmo muito grandes, explica que já perceberam que ao início da
tarde os radares, num espaço muito curto de duas horas, entre as 13h30 e 15h30,
deram sinais do surgimento de uma dezena dessas plumas com origem em incêndios,
algo claramente fora do comum e antes do furacão Ophelia se aproximar de
Portugal Continental.
Outra incógnita que continua em
aberto passa pela razão que levou duas dessas grandes nuvens de fumo a mais do
que duplicarem de repente de tamanho na zona de Vouzela, de 4 ou 5 quilómetros
de altura para 10 ou mesmo 12 quilómetros, a uma altitude onde andam os aviões
comerciais em velocidade de cruzeiro.
Paulo Pinto explica que estas alturas
são claramente anormais para uma pluma de fumo, tendo-se repetido, por exemplo,
também, na nuvem de Pedrógão Grande a 17 de junho, ainda não se tendo percebido
o que motivou a intensificação tão forte do fumo naquela zona e àquela hora.
No entanto, das análises de algumas
horas que já fez às imagens de radar o meteorologista explica que não
encontraram sinais de qualquer downburst como o que aconteceu em Pedrógão,
apesar de ser possível que tenha acontecido um outro fenómeno raro com origem
no fogo: um pirocumulonimbo, sendo já certo que aconteceu um
pirocúmulo em consequência da intensificação do incêndio.
Paulo Pinto admite que o muito calor
daquele dia a meio do outono, a seca, os terrenos extremamente secos, a secura
da massa de ar e até o vento do furacão Ophelia que andava próximo da costa
portuguesa ajudam a explicar o que aconteceu a 15 de outubro, mas não explicam
tudo.
"Foi uma situação muito invulgar
a proliferação de tantos incêndios com tantas plumas tão grandes numa área de
200 a 300 quilómetros de Sul para Norte", sendo que as condições
meteorológicas, já analisadas, explicam apenas parte daquilo que aconteceu.
Recorde-se que há uma semana o
parlamento anunciou que a Comissão Técnica Independente que investigou o
incêndio de Pedrógão Grande também vai avaliar o que se passou nos incêndios
florestais de outubro, um trabalho que começa a ser feito em janeiro.
Nos incêndios mais de 30 grandes
incêndios que começaram a 15 de outubro e se prolongaram até dia 16 arderam
cerca de 200 mil hectares, quase tanto como em todo o resto de um ano que já
estava a ser muito mau.