Temos de admitir todas as
possibilidades. E uma delas, é a de um território onde o poder venha a assentar
na rua e nos referendos selvagens do chavismo — uma Venezuela na costa mediterrânica da Península.
Veremos se habilidades análogas não
instalam outra na costa atlântica.
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Para começar, não há um problema
entre a Catalunha e a Espanha. Há um problema de políticos falhados que, em
risco de perder o seu poder na Catalunha, onde não têm a maioria, recorrem ao
mais velho de todos os truques: uma guerra de independência contra o governo de
Madrid. [...]
O actual problema começou com a
queda queda da aliança nacionalista, Convergencia i Unió, que governou a
Catalunha nos anos 80 e 90. A CiU juntava os equivalentes locais do PSD e do
CDS. Em 2003, venceu as eleições, mas os socialistas catalães, numa manobra à
António Costa, aliaram-se à esquerda separatista para tomar o governo. Por fim,
uma parte da CiU, entretanto dissolvida, decidiu dar um salto igual para se
apossar do poder, e também ela se ligou à extrema-esquerda (como se o PSD, para voltar ao
governo, propusesse uma geringonça ao BE e ao PCP) . A base desta nova aliança foi a
separação de Espanha, que os socialistas catalães, comprometidos com o partido
em Madrid, não tinham podido oferecer. As habilidades à António Costa tornaram
assim a extrema-esquerda no árbitro da política catalã, e fizeram do
separatismo a agenda do governo local.[...].
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Muita gente pergunta porque não
pode acabar tudo com uma amena votação à escocesa.
É não perceber o que se passa.
O referendo interessa aos
separatistas, não como meio de dar voz aos cidadãos, mas precisamente porque,
segundo a Constituição o referendo é ilegal.
Os separatistas suspeitam que, numa
população de origens variadas, lhes falte a maioria. Por isso, o objectivo não
é contar votos, mas criar uma situação de confronto na rua, em que o Estado
seja obrigado, ou a ceder, perdendo a autoridade, ou a recorrer à força,
deixando o separatismo clamar que não há democracia.
Nesta estratégia, as esquerdas
revolucionárias são fundamentais, como técnicos da luta de rua (a kale
borroka, como se diz no País Basco).
Este é o maior golpe contra a democracia
em Espanha desde a conspiração militar de 23 de Fevereiro de 1981.