domingo, 1 de outubro de 2017

A venezualização da Catalunha (com Portugal em vista?)

Como é que isto pode acabar?
Temos de admitir todas as possibilidades. E uma delas, é a de um território onde o poder venha a assentar na rua e nos referendos selvagens do chavismo — uma Venezuela na costa mediterrânica da Península.
Veremos se habilidades análogas não instalam outra na costa atlântica.
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O problema da Catalunha não é diplomático. É político: este independentismo oportunista de políticos fracassados está a corroer o Estado de direito, a substituir o debate pela intimidação, o compromisso pelo ódio, os procedimentos regulares pelo golpismo, o voto pela rua, a lei pelo arbítrio. Talvez os governantes de Barcelona imaginem que controlam o processo. Mas esta é a hora de todos os aventureiros, a começar pelas esquerdas revolucionárias. Ainda não são o governo, mas o governo, embora dirigido pelos conservadores e liberais da ex-CiU, dependerá cada vez mais dos métodos e das organizações da extrema-esquerda, à medida que se agrave a crise institucional. Foi assim que, na guerra civil de 1936-1939, os comunistas chegaram a ter tanta influência no campo republicano. Um dia, talvez os revolucionários possam dispensar os habilidosos da ex-CiU.
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Para começar, não há um problema entre a Catalunha e a Espanha. Há um problema de políticos falhados que, em risco de perder o seu poder na Catalunha, onde não têm a maioria, recorrem ao mais velho de todos os truques: uma guerra de independência contra o governo de Madrid. [...]
O actual problema começou com a queda queda da aliança nacionalista, Convergencia i Unió, que governou a Catalunha nos anos 80 e 90. A CiU juntava os equivalentes locais do PSD e do CDS. Em 2003, venceu as eleições, mas os socialistas catalães, numa manobra à António Costa, aliaram-se à esquerda separatista para tomar o governo. Por fim, uma parte da CiU, entretanto dissolvida, decidiu dar um salto igual para se apossar do poder, e também ela se ligou à extrema-esquerda (como se o PSD, para voltar ao governo, propusesse uma geringonça ao BE e ao PCP) . A base desta nova aliança foi a separação de Espanha, que os socialistas catalães, comprometidos com o partido em Madrid, não tinham podido oferecer. As habilidades à António Costa tornaram assim a extrema-esquerda no árbitro da política catalã, e fizeram do separatismo a agenda do governo local.[...].
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Muita gente pergunta porque não pode acabar tudo com uma amena votação à escocesa.
É não perceber o que se passa.
O referendo interessa aos separatistas, não como meio de dar voz aos cidadãos, mas precisamente porque, segundo a Constituição o referendo é ilegal.
Os separatistas suspeitam que, numa população de origens variadas, lhes falte a maioria. Por isso, o objectivo não é contar votos, mas criar uma situação de confronto na rua, em que o Estado seja obrigado, ou a ceder, perdendo a autoridade, ou a recorrer à força, deixando o separatismo clamar que não há democracia.
Nesta estratégia, as esquerdas revolucionárias são fundamentais, como técnicos da luta de rua (kale borroka, como se diz no País Basco)
Este é o maior golpe contra a democracia em Espanha desde a conspiração militar de 23 de Fevereiro de 1981.