“ (…) Inês César, 25 anos,
socióloga, é a mais recente aquisição da empresa municipal Gebalis, que a
contratou à junta de freguesia de Alcântara, onde a jovem dera nas vistas na
temporada 2016/17. O facto de ambas as instituições serem socialistas apenas prova
a atenção que o PS dedica à formação e ao desenvolvimento de valores
emergentes. O parentesco da dra. Inês com o presidente do partido apenas prova
que o contributo dos Césares para o progresso nacional está longe de se
esgotar.
Luísa, mulher de Carlos e reformada
da coordenação dos Palácios da Presidência (uma coisa relevantíssima lá dos
Açores, suponho), dispôs-se – sem concurso público que a senhora não é de
perder tempo – a abdicar do sossego para coordenar a “estrutura de missão” para
a criação da Casa da Autonomia (outra coisa lá dos Açores, nascida por proposta
da coordenação dos Palácios da Presidência). Francisco César, filho de Carlos e
de Luísa, é deputado regional, eleito pela primeira vez em lista encabeçada
pelo pai, que lhe elogia, naturalmente babado, a “militância cívica” e a
“sensibilidade”. Rafaela, mulher de Francisco e nora de Carlos e de Luísa, é
chefe de gabinete da secretária regional adjunta para os Assuntos da
Presidência, posto cuja enganadora insignificância não a impede de auferir
justíssimos três mil e setecentos euros mensais. Horácio, irmão de Carlos,
cunhado de Luísa e tio de Francisco, também saiu da reforma, após carreira
incansável ao serviço da comunidade, para ser adjunto no falecido gabinete de
João Soares. Patrocínia, mulher de Horácio e cunhada de Carlos e de Luísa, é
assessora do Grupo Parlamentar do PS e brilha em simultâneo na junta de
freguesia do Lumiar. E agora é Inês, sobrinha de Carlos, filha de Horácio e de
Patrocínia e prima de Francisco, a despontar para o espírito missionário que
abençoou aqueles genes. Antes, já existira o avô de Carlos (e bisavô de
Francisco, etc.), que este confessou à “Sábado” ter sido presidente de junta,
além do bisavô e do tio-bisavô de Carlos, dirigentes do Partido Socialista de Antero
de Quental. Isto que se saiba, dado que a modéstia dos virtuosos (ou a falta de
espaço) é capaz de obstar à divulgação de todos os casos. (…)
Se a consciência social e o amor à
família configuram nepotismo, vou ali e não volto. Não quero viver numa sociedade
subjugada à má-fé, que, ao invés de agradecer a oportunidade, se irrita por
patrocinar uma família notável. O que vale é que os noticiários ligaram pouco
ao assunto e preferiram concentrar-se nos – alerta para chavão – verdadeiros
problemas dos portugueses. Os quais, a acreditar nos noticiários, não são
nenhuns. (…)