sábado, 17 de junho de 2017

Aos Césares o que é dos Césares

“ (…) Inês César, 25 anos, socióloga, é a mais recente aquisição da empresa municipal Gebalis, que a contratou à junta de freguesia de Alcântara, onde a jovem dera nas vistas na temporada 2016/17. O facto de ambas as instituições serem socialistas apenas prova a atenção que o PS dedica à formação e ao desenvolvimento de valores emergentes. O parentesco da dra. Inês com o presidente do partido apenas prova que o contributo dos Césares para o progresso nacional está longe de se esgotar.
Luísa, mulher de Carlos e reformada da coordenação dos Palácios da Presidência (uma coisa relevantíssima lá dos Açores, suponho), dispôs-se – sem concurso público que a senhora não é de perder tempo – a abdicar do sossego para coordenar a “estrutura de missão” para a criação da Casa da Autonomia (outra coisa lá dos Açores, nascida por proposta da coordenação dos Palácios da Presidência). Francisco César, filho de Carlos e de Luísa, é deputado regional, eleito pela primeira vez em lista encabeçada pelo pai, que lhe elogia, naturalmente babado, a “militância cívica” e a “sensibilidade”. Rafaela, mulher de Francisco e nora de Carlos e de Luísa, é chefe de gabinete da secretária regional adjunta para os Assuntos da Presidência, posto cuja enganadora insignificância não a impede de auferir justíssimos três mil e setecentos euros mensais. Horácio, irmão de Carlos, cunhado de Luísa e tio de Francisco, também saiu da reforma, após carreira incansável ao serviço da comunidade, para ser adjunto no falecido gabinete de João Soares. Patrocínia, mulher de Horácio e cunhada de Carlos e de Luísa, é assessora do Grupo Parlamentar do PS e brilha em simultâneo na junta de freguesia do Lumiar. E agora é Inês, sobrinha de Carlos, filha de Horácio e de Patrocínia e prima de Francisco, a despontar para o espírito missionário que abençoou aqueles genes. Antes, já existira o avô de Carlos (e bisavô de Francisco, etc.), que este confessou à “Sábado” ter sido presidente de junta, além do bisavô e do tio-bisavô de Carlos, dirigentes do Partido Socialista de Antero de Quental. Isto que se saiba, dado que a modéstia dos virtuosos (ou a falta de espaço) é capaz de obstar à divulgação de todos os casos. (…)
Se a consciência social e o amor à família configuram nepotismo, vou ali e não volto. Não quero viver numa sociedade subjugada à má-fé, que, ao invés de agradecer a oportunidade, se irrita por patrocinar uma família notável. O que vale é que os noticiários ligaram pouco ao assunto e preferiram concentrar-se nos – alerta para chavão – verdadeiros problemas dos portugueses. Os quais, a acreditar nos noticiários, não são nenhuns. (…)