domingo, 13 de julho de 2025

O CHEGA: Muito para além da caricatura de liberais e social-fascistas

O Partido CHEGA veio provocar uma grave perturbação nas cabeças que apenas conseguem pensar em aritmética binária — 0 ou 1, sim ou não — e não concebem a existência de um terceiro dígito, um terceiro vector político, que poderíamos chamar de “nim” ou “talvez”.

Na realidade, o partido de André Ventura veio romper com a estrutura conservadora da alternância a dois, entre PSD e PS, expondo os limites de um sistema político que se tornou viciado na rotatividade e incapaz de responder a exigências de renovação real.
O CHEGA é de Direita Conservadora nas políticas de identidade, mas assume posições socialistas ou social-democratas em muitas matérias económicas. Se aplicarmos o verdadeiro sentido da expressão social-democracia segundo a ciência política — e não o uso adulterado a que estamos habituados — encontraremos no CHEGA muitas propostas que recordam a encíclica "Das Coisas Novas", texto fundador da doutrina social da Igreja.
A emergência do CHEGA representa, pois, não uma simples cópia da direita populista europeia, mas uma originalidade portuguesa com traços distintos. O país percebeu esta novidade e confiou nela, mas os “influencers” e os influenciáveis — em muitos casos profundamente ligados às estruturas montadas após a revolução de Abril — continuam presos à velha grelha de leitura ideológica, onde tudo deve caber entre o bem e o mal, entre fascistas e democratas, entre esquerda “progressista” e direita “reacionária”.
Este novo realinhamento político e cultural está em marcha e, embora a comunicação social tradicional o tente caricaturar, a clarificação está em curso. Aos poucos, vai-se percebendo que o CHEGA força os restantes partidos a posicionarem-se de modo mais honesto: o PS como partido social-democrata da Segunda Internacional; o PSD como partido democrata cristão, hoje perdido entre a nostalgia cavaquista e a hesitação liberal.

Mas vejamos exemplos concretos da componente social do CHEGA, frequentemente ignorada ou deturpada:
- Propõe um salário mínimo superior ao do PS;
- Recomenda um aumento da carga fiscal sobre a banca, algo que aproxima as suas propostas às do BE e do PCP;
- Apresenta uma proposta de aumento de pensões mais ambiciosa do que a dos socialistas, tendo-se mesmo abstido na votação parlamentar para permitir a sua aprovação.
Ou seja, a “direita radical” que muitos se apressam a demonizar apresenta em certas áreas, propostas que estão à esquerda do PS.

Tal como sucede em vários países europeus, também em Portugal a clivagem não é entre “extrema-direita” e “direita moderada”, mas sim entre quem quer manter o regime tal como está e quem quer verdadeiramente mudá-lo — com voz, identidade e autoridade política.