O ministro das Infraestruturas desafia a autoridade do titular das Finanças, seu colega no Conselho de Ministros, com críticas destemperadas.
Demite-se o director financeiro da TAP após escassos três meses em funções.
Demite-se o director clínico do Hospital de Setúbal em protesto contra a situação de rotura nas urgências.
Um banqueiro condenado a dez anos de pena de prisão - por crimes de fraude fiscal qualificada, abuso de confiança e branqueamento de capitais - foge para o estrangeiro, perante a total passividade da juíza titular do processo. Enquanto a inócua ministra da Justiça, fiel à sua imagem de marca, fala em «desconforto» .
Três magistradas, alegando pretextos vários, recusam julgar um perigoso gangue denominado Hells Angels.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras reteve mais de 3 milhões e meio de euros de fundos comunitários para acolher refugiados em Portugal, entre Janeiro e Setembro.
O Governo remete o País para a cauda dos Estados comunitários em redes móveis de quinta geração: na União Europeia, só Portugal e Lituânia ainda não dispõem de serviços comerciais 5G.
O ministro da Economia limita-se a exprimir «preocupação», como faria qualquer de nós.
Cento e cinco dias depois, continuamos sem saber a que velocidade seguia a viatura do ministro da Administração Interna que atropelou mortalmente o trabalhador Nuno Santos na A6, perto de Évora.
Eis, em poucas linhas, um retrato do País oficial.
Nada lisonjeiro. Mesmo nada.
(in “Um retrato do País oficial“ por Pedro Correia no Delito de Opiniao)