Bem pode o governo aprovar 10, 20 ou 30 estratégias nacionais de combate à corrupção que mais depressa nos livramos da Covid-19 do que ensinamos todo um povo a fazer contratos e negócios sem necessidade de “uma palavrinha” ou de dar uma “atenção” para olear o procedimento.
" Na passada semana, a Polícia Judiciária contou-nos uma bem ilustrativa história do estado da Nação em matéria de corrupção. Não é que, com as autárquicas no horizonte, um sujeito teve uma ideia genial: fazer-se passar por titular de cargo de político e aliciar empresários com promessas de decisões políticas favoráveis aos seus interesses em obras públicas. Papalvos, alguns dos ditos homens de negócios lá fizeram a contribuiçãozinha especial, o tal imposto oculto que não aparece nos balanços, nem nas declarações fiscais.
O indivíduo foi detido em flagrante quando recebia das mãos de um desses empresários dez mil euros. Segundo a Judiciária, “estima-se que o valor global recebido através deste estratagema ultrapasse a centena de milhares de euros, proveniente de várias empresas”. O burlão, ainda de acordo com a Judiciária, pedia dinheiro aos seus interlocutores “como meio de assegurar o favorecimento das empresas em obras a lançar ou na execução dos programas"
«É neste caldo de cultura que os fundos europeus - a tal “bazuca” das boas e não como as que estavam armazenadas nos paióis de Tancos - vão aterrar durante os próximos meses.
E também daqui a uns meses, todos nós teremos histórias para contar daquilo que será uma autêntica louca corrida aos fundos europeus. Uns serão, tal como os empresários da história do burlão, apressados, atabalhoados, enquanto outros mostrarão todo o seu fino recorte técnico corruptivo com pareceres, estudos e afins, essenciais para a obtenção de uma decisão formalmente inatacável.
… e daqui a uns 20 anos, alguém publicará um estudo, concluindo que a corrupção no pós-pandemia é a grande responsável pelo atraso estrutural de Portugal. Nada de novo, portanto». (Carlos Rodrigues Lima Subdirector da Sábado)