A cada novo tweet, Trump
levanta um pouco o véu sobre o golpe que está em cima da mesa da sala oval.
Vencer a pugna eleitoral respeitando as regras democrático-burguesas está, para
já, fora dos planos dos republicanos. Podem resumir-se a quatro as linhas de
ataque, possivelmente cruzadas, com que o partido republicano conjura o roubo
das eleições.
Ir a votos e não aceitar o
resultado
Trump avisou que a contagem
dos votos poderá demorar «anos». Há meses que o presidente procura
descredibilizar o acto eleitoral de Novembro lançando suspeitas sobre alegados
planos democratas para cometer uma fraude através do voto por correspondência.
O hiato entre a contagem e a publicação dos resultados pode permitir-lhe uma
jogada para se perpetuar no poder.
Incriminar Biden na véspera
das eleições
O procurador-geral, William
Barr, antecipa a divulgação dos resultados da investigação Durham para a
véspera das eleições, uma «surpresa de Outubro», que pode comprometer o
candidato democrata, Joe Biden, envolvendo-o directamente numa teia de
complexas acusações criminais.
Adiar ou suspender o
escrutínio
Trump já o pediu
publicamente: adiar as eleições por não estarem reunidas as condições de
segurança. Para fazê-lo, contudo, não basta ao presidente declarar o estado de
emergência porque os serviços postais não conseguem lidar com o voto por
correspondência: Trump precisaria de justificar esta decisão com um clima de
caos, terror e excepção. Concorre para esta via a recente decisão de reduzir o
número de testes à COVID-19, uma opção eleita depois de se concluir que a
pandemia está a afectar principalmente os Estados governados pelo Partido
Democrata. Outra solução seria um conflito internacional ou mesmo um ataque
terrorista, real ou de falsa bandeira.
Fraude no dia 3 de Novembro
O magnata-em-chefe
anunciou a criação de uma milícia com 50 mil «vigilantes eleitorais» para
policiar, intimidar e intervir nas mesas de voto que lhe são desfavoráveis.
Esta «vigilância» poderá ser a antecâmara de uma intervenção paramilitar
semelhante à que vimos nas semanas anteriores. Nos Estados governados por
republicanos, milhares de assembleias de voto estão a ser encerradas nas zonas
com mais imigrantes e negros, dificultando o exercício do voto também através
da exigência de mais documentação.
Biden débil, em todos os
sentidos
Perante a perspectiva real de
um golpe, a impotência do Partido Democrata reflecte-se na debilidade política
e cognitiva do seu candidato. Joe Biden não é apenas fraco, confuso e lento
quando fala. Também o é política e moralmente, no seu percurso tão colado às
mesmíssimas opções da administração Trump no favorecimento dos privilégios e
das desigualdades, na guerra imperialista e na recusa de conceder ao povo
estado-unidense direitos básicos de saúde, educação e habitação. O único mérito
facilmente reconhecível em Biden é não ser Trump. E só isso não basta para
impedir um golpe. (por António Santos no “Avante”)