Entre Junho e Setembro, quem visitar o jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, pode visualizar um contentor marítimo que encerra por trás de uma vitrina aquilo que é definido como sendo uma “obra de arte participativa e colectiva” e que tem em Márcio Carvalho o seu coordenador, um “artista” cuja apresentação numa página de “internet” diz ser oriundo “de uma família multirracial composta por angolanos e portugueses” e que se propõe a “desenhar um mapa dos monumentos, memoriais e nomes de ruas de Lisboa relacionados com o colonialismo português (…) para romper com a hierarquia subjacente…”. Esta linguagem aparentemente intrincada e inócua, esconde, porém, um intuito obsessivo e militante, materializado num ajuste de contas com o passado histórico português.
Assim que acedemos ao sítio “web” de Márcio Carvalho é sugerido um outro sítio intitulado “Who do We Come to H(a)unt”, ou traduzindo para a língua de Camões, um jogo de palavras que significa “Quem viemos caçar/assombrar”. No dito sítio também surge o nome de Márcio Carvalho como autor do projecto, onde este afirma que “Querendo ou não, herdamos estátuas, monumentos e memoriais que ainda hoje existem nas nossas cidades, comemorando governantes coloniais e imperiais, traficantes de escravos e outros homens responsáveis pela repressão de povos e comunidades ao redor do globo. O derrube de estátuas de hoje está a criar um grande movimento contra o racismo e outras injustiças, empoderando minorias e remodelando o pensamento colectivo”.
O percurso desconstrucionista deste “artista” politicamente envolvido é extenso e voltamos a encontrá-lo no “ReMapping Memories Lisboa – Hamburg: Lugares de Memória (Pós)Coloniais”, um projecto do Goethe-Institut Portugal, apoiado pela EGEAC, Museu de Lisboa e a associação Buala, dedicada esta à “reflexão, crítica e documentação das culturas africanas”, por sua vez apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa. Este projecto tem por alvo diversos locais da capital, entre os quais se encontram a estátua do Padre António Vieira, o Padrão dos Descobrimentos ou o Monumento aos Combatentes do Ultramar, património que é definido como sendo “lugares da memória colonialista” e, face aos quais, os autores do mencionado projecto exigem a “descolonização do espaço público”.
Já em 2018 Márcio Carvalho havia encabeçado o projecto “Demythologize that History and Put it to Rest” (Desmitificar essa história e colocá-la a jazer), tendo nessa ocasião profanado a estátua do rei D. Carlos, frente ao Palácio da Ajuda, tapando a cabeça da estátua com uma caixa preta, enquanto mulheres africanas tocavam batuques, intitulando tal acção como o “segundo regicídio”.