domingo, 26 de fevereiro de 2023

A inflação cai mas os preços sobem. Estranho?

UMA EXCELENTE EXPLOCAÇÃO
Para desmontar a aparente contradição precisamos de duas coisas: primeiro, entender o significado de cada indicador; depois, ter presentes os vários conceitos usados regularmente para catalogar a evolução de indicadores e séries estatísticas.
A inflação já é, por si, um indicador de variação dos preços. Por isso é que se expressa sempre numa percentagem que traduz a evolução de um cabaz de produtos e serviços que pode ser medida de várias formas: homóloga, mensal, média anual, etc.
O cálculo da inflação parte sempre, por isso, da observação dos preços. Estes são recolhidos (o INE recolhe 120 mil preços por mês) e trabalhados estatisticamente para acabarem representados num único número: o Índice de Preços no Consumidor (IPC).
A inflação é, então, a expressão da evolução do IPC num determinado período.
Hoje, o INE divulgou os dados preliminares da inflação de Novembro e escreveu o seguinte: “A taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) terá diminuído para 9,9% em Novembro”.
Portanto, a inflação homóloga foi de 9,9% em Novembro - os preços aumentaram 9,9% entre
Novembro/21 e Novembro/22 - e foi mais baixa do que no mês anterior, que tinha sido de 10,1%. A inflação caiu, mas os preços não caíram. Estão é a aumentar a um ritmo menor.
Sendo por si a expressão de uma variação, queda da inflação não pode ser confundida com queda dos preços. Algumas analogias. A minha filha cresceu 7 cms no ano passado e 4 cms este ano. A miúda não está a encolher. Continua a aumentar, mas menos.
A inflação são os acréscimos de altura. E os preços são a altura que a criança tem em cada momento.
Outra analogia. Um automóvel vai a 100 kms/h e abranda para 70 kms/h. Não está a recuar, continua a seguir em frente, embora a uma velocidade menor. A inflação é a velocidade e os preços são kms percorridos.
Portanto, quando a inflação diminui mas sem mantém positiva, isso significa que os preços estão a abrandar. Mas não estão a cair. Os preços continuam a aumentar, embora a um ritmo menos do que no período com que estamos a comparar.
Se houver uma queda de preços - comprar agora mais barato do que no passado - então a taxa de inflação passa a ser negativa. Aconteceu em 2009 e 2014, por exemplo. Nesses anos, o IPC variou -0,8% e -0,3%, respectivamente. Isso quer dizer que a inflação foi de -0,8% e -0,3%.
Mantendo-se a inflação positiva, isso quer dizer que os preços estão sempre a aumentar, embora possam aumentar mais depressa quando a inflação sobe e mais devagar quando a inflação desce. Importa então distinguir aumentos de acelerações e quedas de abrandamentos.
Se a inflação aumenta, então os preços estão a subir mais depressa (analogia do carro: continuam a seguir em frente e com maior velocidade). Se a inflação cai, então os preços estão a subir mais devagar (continuam a seguir em frente mas com menor velocidade).
Muitas vezes, olhando para um gráfico conseguimos identificar os vários períodos em função da inclinação da curva. Mais inclinada = mais depressa e vice-versa. Uma ilustração (com o meu péssimo jeito para a coisa).
Espero que tenha sido útil.
(um trabalho de Paulo Ferreira no Twiter)