quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Quais são os estados que vão decidir se ganha Trump ou Biden?

Pequenas variações percentuais no voto nos estados chave podem ser a diferença entre perder por muito, por pouco, ganhar a tangente ou até ter uma grande vitória no Colégio Eleitoral. 

Wisconsin, Michigan e Pensilvânia e, numa segunda linha, Nevada, Arizona e Geórgia. Estes estados são os mais prováveis serem aqueles que decidirão entre a reeleição do incumbente Joe Biden e o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Ganhar estes estados é crucial para vencer a eleição presidencial de 5 de novembro, independentemente do que as sondagens digam sobre o voto popular.

Para ganhar as eleições para à Casa Branca não basta ser o candidato mais votado, é preciso vencer o Colégio Eleitoral, o conjunto dos 538 eleitores escolhidos por cada estado com base no número de senadores (2 para todos) mais o número de congressistas de cada um (desde apenas um nos estados menos populosos a 51 na Califórnia) e ainda três para o distrito federal de Washington. Pode acontecer o candidato mais votado no voto popular perder a eleição, como aconteceu a Hillary Clinton em 2016 e a Al Gore em 2000, duas eleições muito renhidas. Em 2020, o democrata Joe Biden ganhou tanto o voto popular (por 4,5 pontos percentuais) como o colégio eleitoral, mas as margens nos estados decisivos que lhe deram a vitória foram muito curtas. Com menos 1 ponto percentual de diferença face ao rival republicano Donald Trump teria perdido.

Tirando no Maine e no Nebraska, onde alguns grandes eleitores são selecionados por base nos resultados nos distritos do Congresso e outros com base nos resultados no todo do estado, os grandes eleitores dum determinado estado deverão todos votar no candidato mais votado naquele estado. Basta um voto a mais no estado decisivo, e a eleição está ganha, com pelo menos 270 grandes eleitores vence-se a nível nacional.

Há dois tipos de estados nas eleições, os estados seguros (ou garantidos), onde a eleição está decidida quase à partida, com base no histórico eleitoral e nas sondagens, havendo os estados azuis, onde se espera que seja o Partido Democrata a ganhar, e os estados vermelhos, onde se espera que ganhe o Partido Republicano, e depois existem os swing states ou estados oscilantes, que oscilam de eleição para eleição, ou se espera que possam oscilar, entre os dois partidos. Claro que depois na realidade existem estados que não se esperando que sejam renhidos também não podem ser dados como garantidos para nenhum dos campos, mas estrategicamente é melhor para as campanhas dos candidatos focarem-se nos estados não seguros que têm mesmo de ganhar. Demasiada ambição pode ser contraproducente, mais até do que uma estratégia defensiva quando se está com alguma vantagem no mapa. Neste momento, como está o cenário?

Em 2020 houve 17 estados ganhos com uma margem de no máximo cerca de 10%, sendo extremamente difícil de imaginar com as condições atuais algum dos estados ganhos por bem mais que 10% a mudar de mãos. Mesmo que apareçam algumas sondagens a indicarem corridas renhidas noutros lugares, nesta fase do campeonato devemos olhar mais para as médias das últimas eleições, ainda mais quando as deste ano são uma repetição do duelo de 2020. Embora os estados mais renhidos este ano até possam ser outros.

Começando pelo oeste americano, os três estados da costa (Califórnia, Oregon e Washington) não deverão ser renhidos e continuarão a ser fortemente democratas. Mesmo que Trump reduza as margens de vitória de Biden neles, o que é provável, o que pode ajudar Trump a ganhar pela primeira vez o voto popular, um sonho dele. No oeste mais interior, a caminho do Midwest, vemos um norte fortemente republicano, com poucas hipóteses de passar de mão, mais a sul o Colorado e Novo México, outrora estados oscilantes, só mudariam para a cor vermelha numa grande vitória de Trump, tornando-os assim extremamente improváveis de serem estados decisivos.

O mesmo não pode ser dito do Nevada e do Arizona, estados do sudoeste, com uma grande população de origem hispânica, que foram ganhos por pouco e muito pouco por Biden em 2020. Estes dois fazem parte do conjunto de estados mais provável de decidir a eleição. Neste momento, de acordo com as sondagens, Trump parece estar bem posicionado para os vencer. Mas estes não chegam.

Mais para o interior, o gigante Texas com os seus 40 grandes eleitores, deverá continuar republicano, embora nos anos 2016 a 2020 tenha ficado mais renhido. Com tantos grandes eleitores, poderia ser tentador à campanha de Biden tentar ganhá-lo. Mas, dada a força de Trump e o seu crescente apoio entre os hispânicos, o estado não será decisivo, e também provavelmente, pouco renhido em novembro.

Indo agora para a metade leste americana, onde estão concentrados a maioria dos grandes eleitores, o sul deverá continuar republicano, com Trump a reforçar provavelmente a Flórida com os seus 30 grandes eleitores, um tradicional estado oscilante, que desta vez será muito difícil de ganhar pelos democratas. As sondagens também indicam um iminente regresso da Geórgia à coluna vermelha.

Mais a norte, junto à costa, o mapa deverá continuar quase todo azul, com Biden com vitórias muito prováveis em quase todos estes estados, embora seja expectável uma melhoria da performance de Trump em estados muito populosos como Nova Iorque e Nova Jérsia, mas que continuará insuficiente para os fazer mudar de cor. Na Nova Inglaterra (Massachusetts, Connecticut, Rhode Island, New Hampshire, Vermont e Maine) espera-se que Biden continue em primeiro.

O mesmo não se pode dizer dos estados dos Grandes Lagos e arredores que em 2016 foram cruciais para dar uma vitória inesperada a Donald Trump. O Iowa e o Ohio muito dificilmente voltarão para os democratas. Segundo as sondagens, Trump não estará mais forte do que em 2020 nos estados que ao irem do campo republicano de volta para o campo democrata foram decisivos para Biden ganhar: o Wisconsin, o Michigan e a Pensilvânia. Mas estes foram tão renhidos nas duas últimas eleições que pequenas variações a favor de Trump podem-no pôr de volta à Casa Branca.


Se o debate foi decisivo, Trump já as perdeu.

Se o debate entre Trump e Harris.for decisivo para as eleições de Novembro, o ex-presidente já as perdeu. Apresentou-se mal preparado, se é que o chegou a ser, com um discurso difuso e perdido a falar essencialmente no passado, e com alguns disparates inadmissíveis, como a sugestão de que se os democratas ganhassem os norte-americanos acabariam todos a comer cães e gatos. 
E isto perante uma candidata medíocre, que ocupou uma posição do mais alto nível numa administração que deixa o mundo a ferro e fogo. Trump e os republicanos não conseguiram ajustar-se à saída de jogo de Biden. Vão pagar caro por isso. (Rui Albuquerque)


Foi um frente a frente intenso, onde Kamala surpreendeu Trump com postura agressiva. Adversário ripostou, mais eficaz na imigração e na economia. Eleitores de base ficaram satisfeitos — e os outros? (Cátia Bruno)

eleições americanas

 


um pedido no FeiceBuque...

 


terça-feira, 5 de novembro de 2024

O artista anteriormente conhecido por prof. Marcelo!


Na quinta-feira, em Florença, o prof. Marcelo participou numa conferência sobre o “futuro da União Europeia”. Aí, amanhou uns palpites acerca das próximas “presidenciais” americanas em benefício dos elementos da audiência que ainda não tinham adormecido ou escapado da sala. Para Sua Excelência, cito quase com exactidão, a vitória de Biden será boa para a Europa e a vitória de Trump será boa para a Rússia. No mesmo dia, dois ou três jornais portugueses noticiaram o episódio em rodapé. Eu dediquei o meu programa na Rádio Observador ao dito. Que eu saiba, fui caso único. Ninguém, e sublinho a palavra, comentou as declarações do homem que formalmente desempenha as funções de presidente da República.

Das duas, uma. Ou a generalidade do abundante “comentariado” concorda com o prof. Marcelo ou o prof. Marcelo já atingiu um grau de inimputabilidade que desmotiva as críticas e embaraça os críticos. Se gostaria de acreditar na segunda hipótese, inclino-me para a primeira. É que há por aí gente que não evita avaliar o que lhe aparece à frente. Às vezes avalia, até com simpatia, o candidato do Livre às “europeias”, uma personagem tão burlesca que é impossível não ter sido concebida de propósito. E quem leva a sério o comediante do Livre, que a bem ver nem existe, não deve deixar de levar a sério o comediante de Belém. E, muito provavelmente, de achar pertinentes as suas “considerações”.

Entretanto, no mundo dos adultos onde o “comentariado” não entra e que a famosa “bolha mediática” não reflecte, as “considerações” do prof. Marcelo envergonham. Envergonhar não é sinónimo de surpreender. Estamos a falar da criatura que começou a presidência com uma viagem a Cuba para homenagear o
Carniceiro de Havana e que, há menos de uma semana, lamentou em nome do povo português a morte do Carniceiro de Teerão. Pelo meio, vão oito anos e tal dedicados a arrastar a figura do chefe de Estado, e com frequência o próprio Estado, por um lamaçal sem fim. Embora as afirmações em Florença não desmereçam esse valoroso percurso, não há maneira de as pessoas decentes se habituarem ao lamaçal. A vergonha é imensa, e só a falta dela explica o silêncio que se seguiu.

Vale a pena explicar as razões, da vergonha que não do silêncio? A título de higiene, esclareço que nada disto pressupõe a veneração de Trump, de resto um espécime pouco venerável. O critério são os factos. E um facto assaz evidente é o de que o representante oficial de uma nação soberana não pode aliviar-se de opiniões alusivas às escolhas democráticas de uma nação soberana diferente. A coisa piora quando as opiniões em causa não possuem qualquer vínculo à realidade e obedecem a vozes que ecoam na cabecita do prof. Marcelo ou nas redacções do Público e do Expresso.

Com que então o sr. Putin prefere Trump a Biden para realizar os seus sonhos imperiais? Claro que sim, e por isso é que esperou que Trump saísse da Casa Branca para invadir a Ucrânia, como em 2014 não esperara que Trump entrasse na Casa Branca para anexar a Crimeia. Com os democratas no poder, de Obama a Biden, o sr. Putin não brinca. Nem o sr. Putin nem, acrescente-se dois meros exemplos, os amáveis taliban e os senhores que tutelam o Ministério da Saúde de Gaza, vulgo o popular Hamas. Trump, é sabido, iniciou a IIIª Guerra Mundial e, se reeleito, prepara-se para iniciá-la de novo. Com Biden, incapaz de se calçar sozinho, a paz reina, na Europa e no planeta inteiro. Planeta que, aliás, é plano. E de cujos céus os aviões despejam químicos para aniquilar a humanidade. E os homens, que nunca foram à Lua, conseguem menstruar se o desejarem com força. E a força de todos libertará a “Palestina” do genocídio e do apartheid.

O prof. Marcelo, que fizera uma carreira estimável nas variedades televisivas, jamais se distinguiu pela sofisticação intelectual excepto na perspectiva dos pasmados que lhe admiravam os truques: produzir baixa intriga e fingir ler baixa literatura. Porém, a situação em que se exibe desde 2016, e receio que com tendência de agravamento nos últimos tempos, é de outro nível. Artistas medíocres temos com fartura, em concertos pagos por autarquias e em lugares de aparente responsabilidade. Infelizmente, a simples mediania já não contém o prof. Marcelo, que a cada oportunidade pulveriza recordes de inconveniência e devaneio. Por mais do que um motivo, compreende-se que o prof. Marcelo veja em Biden uma inspiração, mas era escusado inspirar-se tanto. O homem, em suma, não está bem. E um país em que as classes política e jornalística, para usar um horrendo termo em voga, “normalizam” as respectivas acções não está muito melhor.

Restam dois anos, e não se vislumbra quem, divino ou terreno, possa ajudar o prof. Marcelo a terminar o mandato, antes que sem ajuda ele termine com tudo em redor. A dignidade não é para aqui chamada.

domingo, 3 de novembro de 2024

Afinal o que está a acontecer com a violência na periferia urbana de Lisboa?

Afinal o que está a acontecer com a violência na periferia urbana de Lisboa?  
Este sábado foi assim: 


Na noite de quinta para sexta os incidentes tiveram lugar nos Moinhos da Funcheira, Amadora: 10 encapuzados atiraram pedras e petardos contra carros e a porta dum prédio. Na quarta, um sem-abrigo foi esfaqueado junto ao Colombo… 
Mas já não há problema algum
É lá um assunto entre eles e que só afecta as pessoas que vivem nesses sítios. Desde que não haja consequências políticas tudo está bem.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

in memoriam!

 eram nove horas da manhã do Dia de Todos os Santos!


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Será que Trump ganha ...e a gajada anda a enganar a gentes?

    De acordo com as sondagens, Donald Trump e Kamala Harris têm 50% de hipóteses de ganhar. Muitos europeus não conseguem compreender: como é que os americanos podem eleger Donald Trump, um homem que mente descaradamente, que foi condenado por múltiplos crimes, que, como empresário, faliu várias vezes, que rejeita a democracia americana ao continuar a afirmar que ganhou as eleições de 2020. Como é que os americanos podem ignorar tão graves defeitos de carácter e elegê-lo presidente? Os americanos não são ingénuos em relação a Trump, reconhecem os seus traços de personalidade, mas muitos votarão nele de qualquer forma, pelas razões que a seguir se descrevem e que reforçam a convicção de que ele ganhará as eleições.

  • Donald Trump é o candidato do Partido Republicano, a maioria dos americanos identifica-se visceralmente com um partido político, seja ele Republicano ou Democrata. Votarão no candidato desse partido, independentemente de gostarem dele ou não. 32% de todos os eleitores identificam-se como republicanos, outros 16% são tendencialmente republicanos e a maioria destas pessoas não consegue imaginar-se a votar num candidato democrata. Seria contra a sua própria identidade. Ambos os partidos nos EUA têm uma base de eleitores com que podem contar.
  • Muitos eleitores tradicionalmente republicanos não gostam de Trump, mas odeiam ainda mais a candidata democrata, estão convencidos de que a sua eleição representa uma grande ameaça aos seus pontos de vista e esperança para o país. O partidarismo negativo é talvez o fator mais forte que une os americanos a um partido e os leva a ultrapassar qualquer relutância que possam ter em votar no candidato do seu próprio partido;
  • O estado da economia e das finanças pessoais de cada um é a questão mais importante que determina a decisão de voto dos americanos, e a maioria deles pensa: “as coisas estavam melhores com Trump”. Os dados indicam que essa avaliação está correta, se não tivermos em conta o impacto da COVID. Devido à inflação, o rendimento médio das famílias americanas diminuiu cerca de 0,7% durante a Administração Biden-Harris, ao passo que durante os quatro anos da Administração Trump, antes da COVID, o rendimento médio das famílias aumentou cerca de 10%. Embora a taxa de inflação tenha diminuído, os preços não ficaram inferiores ao que eram antes do aumento significativo registado nos últimos quatro anos. Mais de dois terços das famílias americanas têm rendimentos que mal cobrem as suas despesas mensais. Muitos destes eleitores culpam a administração Biden-Harris pelas suas dificuldades financeiras;
  • A classe média abandonada. Desde que a agenda da globalização se tornou a política de todas as administrações dos EUA, a partir de 1980, o crescimento da economia dos EUA beneficiou os muito pobres e, mais ainda, os muito ricos, enquanto a classe média assistiu a décadas de estagnação, cuja culpa atribui aos seus governos. Apesar de a Administração Biden-Harris ter procurado implementar políticas que favorecem a classe média, estas ainda não entraram plenamente em ação, e Trump conseguiu magistralmente posicionar-se como o réu daqueles que foram ignorados pelos sucessivos governos, o único líder não convencional que pode mudar as coisas para melhor;
  • A América e grande parte do mundo ocidental estão no meio de uma onda populista, o descontentamento com o establishment e com quem quer que esteja no poder é elevado. Como Vice-Presidente, Harris está claramente identificada com a administração em exercício, assumindo a responsabilidade pelas causas do descontentamento, enquanto Trump se posiciona como o outsider que pode mudar as coisas;
  • Política de identidade. O Partido Democrata é visto por muitos americanos como tendo uma agenda elitista e “woke”. Trump conseguiu representar uma agenda anti-woke e anti-elitista com a qual muitos eleitores americanos se identificam;
  • Muitos americanos brancos e do sexo masculino, em especial os que não têm formação universitária, estão a passar por uma crise de identidade, com receio de que, à medida que o país se vai diversificando, estejam a perder o seu papel dominante. Trump, refinou uma mensagem racista e misógina, respondendo exatamente às necessidades desta parte da população, assegurando-lhes que fará regressar o país a um nostálgico “antes”, tornando a “América grande de novo”;
  • Os americanos conhecem melhor Trump. Harris teve tão pouco tempo para ser vista como uma candidata presidencial, que muitos americanos ainda não se sentem confortáveis com a sua capacidade de assumir este papel de liderança, enquanto Trump tem sido a figura política dominante na política dos EUA nos últimos dez anos:
  • Harris é uma mulher não branca, estarão os americanos preparados para a eleger como Presidente? Embora a América tenha progredido enormemente em termos de preconceitos contra os negros e mulheres, estes factores podem ainda desempenhar um papel importante numa eleição renhida;
  • Trump beneficiou de uma corrente de simpatia após duas tentativas de assassinato contra ele, o que reflecte uma possível mudança na dinâmica desta eleição;
  • Por último, quem duvidar da capacidade de Donald Trump para ganhar as eleições presidenciais nos EUA deve lembrar-se de que ele venceu Hilary Clinton por uma diferença bastante decisiva de 304 contra 227 votos no Colégio Eleitoral e que em 2020, recebeu 74,2 milhões de votos e perdeu por muito pouco a eleição, apenas algumas dezenas de milhares de votos em alguns dos estados decisivos.

Biden anunciou que se retiraria da corrida presidencial de 2024 em 21 de junho, após o seu desempenho desastroso no debate e das sondagens subsequentes que favoreceram maciçamente a eleição de Trump. Desde essa data, Harris fez um trabalho notável ao assumir o manto de sucessora de Biden, unificando o Partido Democrata, muitas vezes fraturante, gerando uma enorme energia positiva, em especial entre os jovens, angariando quantias recordes de dinheiro e vencendo de forma dominante o único debate contra Trump. O resultado do percurso político magistral de Harris nestas curtas semanas levou-a a uma subida dramática nas sondagens, atingindo o ponto de equilíbrio contra Trump nos estados decisivos, com algumas sondagens a preverem que ela o possa vencer. Mas nas últimas semanas, apesar de ter gasto muito mais do que o seu adversário, os resultados das sondagens estagnaram, ela já não está a ganhar terreno e, na verdade, pode estar a perder algum.

Todos os especialistas preveem que esta será uma eleição extremamente renhida, decidida por uma pequena quantidade de votos em alguns dos estados decisivos. De facto, alguns analistas afirmam que tudo será decidido pelos resultados de um único estado, a Pensilvânia, e que a eleição do vencedor de todos será decidida apenas por alguns condados mais críticos.

Apenas dois terços dos eleitores registados nos EUA votam efetivamente. Há republicanos ou democratas suficientes para ganhar facilmente uma eleição se estiverem suficientemente motivados para votar. Por isso, uma das caraterísticas das eleições americanas é que cada partido faz um esforço considerável para mobilizar as suas próprias tropas em vez de se concentrar nos eleitores indecisos ou de tentar convencer os eleitores do outro partido a mudar de lado.

A maioria dos eleitores democratas simpatiza com a causa dos palestinianos e culpa os Biden-Harris pela falta de sucesso em pressionar Israel a proteger melhor os civis no conflito em Gaza. Este grupo, que inclui um grande número de jovens democratas na Pensilvânia, pode muito bem decidir não votar no dia 5 de novembro, aumentando as hipóteses de Trump ganhar o estado.

Os meios de comunicação social e muitos institutos de sondagens têm subestimado sistematicamente a capacidade política de Donald Trump, concentrando-se nas suas fraquezas óbvias e gritantes, sem reconhecer plenamente como ele se tornou, de forma notável e hábil, tão atraente para grande parte do eleitorado americano. As eleições presidenciais nos EUA podem ser ganhas ou perdidas por acontecimentos inesperados de última hora que levam a mudanças de rumo e, nesta eleição já de si muito invulgar, não sabemos o que pode acontecer antes de 5 de novembro. Receio que os meios de comunicação social e as sondagens tenham, mais uma vez, subestimado o candidato republicano. Numa eleição muito renhida, a partir de hoje, é possível argumentar que o vencedor das eleições presidenciais de 2024 será provavelmente Donald Trump.

Patrick Siegler-Lathrop é um empresário franco-americano a viver em Portugal há 15 anos, autor de “Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Political System” e atual presidente do American Club of Lisbon. As opiniões expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor, não sendo de forma alguma atribuíveis ao American Club of Lisbon. Pode ser contactado através de PSL64@icloud.com.


sábado, 26 de outubro de 2024

EUA: …a escolha para os cristãos!

Al Smith (1873-1944) foi um político e governador de Nova Iorque, filho de mãe americana de origem irlandesa e de pai italo-americano, um dos primeiros católicos com uma carreira política significativa nos Estados Unidos, pelo Partido Democrata.

Na História da América, os católicos começaram por ser uma ínfima minoria; só a partir da segunda metade do século XIX, com as migrações para o Novo Mundo, primeiro de irlandeses e alemães e, para o fim do século, de italianos e polacos, aumentaram de cerca de milhão e meio, antes da guerra civil, para doze milhões no princípio do século XX.
Por muitos anos o voto dos católicos foi maioritariamente no Partido Democrata. Os católicos tiveram, de resto, um papel relevante na coligação do New Deal que apoiou Franklin Roosevelt quando James Farley, o primeiro católico em funções governamentais, se tornou o Post Master General. Al Smith, governador de Nova Iorque, é desse tempo; o tempo da Lei Seca, aprovada logo a seguir à Grande Guerra, sob o nome de Prohibition. Ao ilegalizar um hábito enraizado, o consumo de álcool, a Prohibition, teve como efeito perverso o desenvolvimento do crime organizado. Al Smith era contra a Lei Seca e pela igualdade racial. Em 1932 concorreu contra F. D. Roosevelt à nomeação democrática, mas perdeu. Depois apoiou Roosevelt na campanha, mas foi crítico do New Deal.
A partir daí, embora mantendo algumas actividades políticas, Smith dedicou-se sobretudo aos negócios imobiliários, nomeadamente à sociedade construtora e proprietária do Empire State Building. Morreu em 1944.
É este Al Smith o patrono da Alfred E. Smith Memorial Foundation, uma instituição de beneficência de Nova Iorque, muito activa no apoio a crianças pobres. E desde 1960 é da praxe os candidatos presidenciais – democratas e republicanos – marcarem presença no jantar de gala da instituição católica. É um acontecimento social, de smoking, a que vai “toda a gente”, ou seja, a elite da cidade – os ricos, os políticos, os ex-políticos, as celebridades.
Um ritual americano
John Kennedy e Richard Nixon estiveram no jantar em 1960, bem como quase todos os outros candidatos presidenciais em ano de eleições; Jimmy Carter e Ronald Reagan estiveram lá em 1980, George H. Bush e Michael Dukakis em 1988, Al Gore e George W. Bush em 2000, Barak Obama e John McCain em 2008, Hillary Clinton e Donald Trump em 2016, Trump e Biden em 2020.
É um ritual, uma espécie de trégua sagrada, em que as piadas e provocações de parte a parte fazem parte da tradição.
Este ano, Kamala Harris resolveu não comparecer e mandar uma mensagem filmada – dizem que a conselho da sua directora de campanha, Julie Chavez, para acautelar os votos LGBT.
A provocação que escolheu foi intercalar a sua mensagem solene com uma rábula protagonizada pela própria e por uma actriz cuja personagem mais conhecida, Mary Catherine, é uma caricatural aluna de colégio católico que junta o uniforme com mini-saia à Lolita ao ar freirático, o cérebro desprovido de neurónios à fé fervorosa, e o feminismo gesticulante de cheer leader à falta de graça. Enfim, uma católica fervorosa, mas uma indefectível apoiante de Kamala e uma frenética feminista. É ver para crer.
Ao dar-se conta das possíveis repercussões da sua ausência, Kamala terá ficado incomodada a ponto de ter maltratado a sua directora de campanha.
Donald Trump esteve lá, perante uma assembleia dividida, dizia ele, entre os que o adoravam e o odiavam, quase todos seus velhos parceiros da elite liberal de Nova Iorque. Falou cerca de 25 minutos no seu registo de entertainer, bombardeando presentes e ausentes com graças quase sempre excessivas e corrosivas, mas a arrancarem muitas gargalhadas. A tradição, dizia Trump, pedia-lhe uns momentos de humor auto-depreciativo, mas talvez fosse melhor não se pôr ali a disparar sobre si próprio quando já outros o faziam.
Quanto à ausência de Harris, lembrava que, em 1984, Walter Mondale, o candidato democrata que também faltara ao jantar, fora castigado “from above”, perdendo nos 49 Estados da União e proporcionando a Ronald Reagan uma gigantesca maioria; pedia também aos presentes para não se sentirem demasiadamente insultados pela ausência de Kamala Harris: afinal se os Democratas quisessem mesmo brindá-los com uma ausência que se visse, teriam mandado Joe Biden – “if Democrats really wanted someone not being with us this eavening they would have sent Joe Biden”.

A evolução política dos católicos
Até aos anos 60 do século XX, manteve-se a tendência do voto católico nos Democratas. Kennedy beneficiou disso. Depois houve mudanças profundas, quer nos programas e nas posições dos partidos, quer no comportamento eleitoral dos católicos. É preciso lembrar que, com os protestantes divididos em várias igrejas, os católicos são hoje a primeira confissão religiosa na América.
Embora os protestantes Evangélicos continuem a ser um “núcleo duro” dos Republicanos, a verdade é que a posição dos Democratas em matérias da vida e da sua defesa tem contado muito para a mudança de muitos eleitores católicos para o campo republicano.
Em 2020, a percepção de Joe Biden como um democrata “middle of the road”, católico e com raízes na classe trabalhadora foi importante em alguns swing states para vencer Donald Trump. Mas as posições de compromisso que Biden – e Nancy Pelosi, outra católica – com o abortismo militante e o wokismo levaram muitos bispos a pronunciarem-se sobre a incompatibilidade com a fé católica de semelhantes transigências; e em Abril deste ano, ainda com Biden como candidato a um segundo mandato, um inquérito da Pew Research dava 55% do voto católico para Trump e 43% para Biden.
No entanto, se em relação a Joe Biden ainda chegou a haver dúvidas, em relação a Kamala Harris e ao seu segundo, Tim Walz, só restam certezas, ainda que os candidatos democratas tenham vindo a procurar fazer passar o seu radical progressismo pelo buraco da agulha – com Kamala Harris a confessar-se uma “capitalista pragmática” e uma detentora de armas de longa data e a decalcar os programas de nacionalismo económico e de reindustrialização dos Republicanos. Já quanto ao aborto, a orwelliana designação de “liberdade reprodutiva” com que agora foi rebaptizado tem ajudado na cruzada. Cruzada em que Kamala se mantém de pedra e cal, secundada pelo seu igualmente motivado segundo, outro americano de classe média, bem-disposto e disposto a fantasiar pela causa sobre o seu serviço na Guarda Nacional e as suas aventuras na China em Tianamen.
Bem sabemos que o anti-trumpismo, que entre nós atingiu casos extremos de verdadeira obsessão e recusa de contraditório, pode e poderá explicar e influenciar muita coisa; mas a eleição para Presidente dos Estados Unidos é nos Estados Unidos, e não aqui, e vai-se decidir por poucos votos e em poucos Estados.
As sondagens são mais que muitas e servem várias teorias, mas, de um modo geral, Harris mantinha-se à frente na votação geral popular e Trump com uma ligeira vantagem nos Swing States. Entretanto, ontem, sexta-feira 25 de Outubro, uma sondagem do New York Times/Sienna College dava-os, pela primeira vez, empatados no voto nacional. Quanto ao voto católico nos Swing States parece ir maioritariamente para Trump e para o seu segundo, Vance, um católico convertido, e pode ser decisivo em Estados como o Wisconsin e o Michigan. De qualquer forma, enquanto a divisão entre os católicos é de 52% para Trump e 47% para Harris, entre os protestantes é de 61% para Trump e 37% para Harris.
Como notou a propósito o Santo Padre a escolha para os cristãos e para os católicos nas eleições americanas é entre dois males, ou entre dois candidatos anti-vida: “seja aquele que expulsa os migrantes, seja aquela que mata crianças”.
Entre estes dois males, não tenho dúvidas de qual é o pior e o mais Kamaleónico. Mas há quem tenha.