reVISÕES
terça-feira, 11 de novembro de 2025
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
O silêncio cúmplice da comunicação social e o verdadeiro significado do 25 de Novembro de 1975
Ao revisitar o texto de José Ribeiro de Castro, Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, publicado no Observador, com o título «A comunicação social, as redes sociais e o 25 de Novembro», encontramos uma reflexão tocante e essencial para o presente: a crítica a uma comunicação social que não apenas ignora, como procura encobrir a data emblemática do 25 de Novembro de 1975 — o dia em que a tentativa de sovietização estalinista do PREC foi travada e a democracia liberal em Portugal ganhou novo fôlego.
O papel das redes sociais e o colapso da pluralidade mediática
Como o autor assinala, existe hoje um contraste retórico intenso: a comunicação social (CS) proclama-se porta-voz da “verdade”, enquanto as redes sociais seriam o território da “desinformação”. No entanto, na prática, os factos demonstram o contrário: a CS apresenta zonas negras de silêncio ou de agenda oculta, ao passo que as redes sociais permitem que vozes dissidentes, não cumpliciais, possam comunicar livremente e exercer cidadania.
Na ausência de pluralidade real — e o autor denuncia que, em Portugal, a “pluralidade” é muitas vezes aparente, limitada à opinião, mas não à informação, com todos os órgãos a convergir para os mesmos temas e visões — a CS acaba por funcionar como um oligopólio da agenda: quem foge à narrativa dominante não é publicado, não tem espaço.
Foi precisamente esse fenómeno que testemunhou o ciclo promovido pela Sociedade Histórica, intitulado “50 anos do 25 de Novembro”, que percorreu os “desvios, confrontos, percalços da Revolução e o triunfo da Democracia”.
Apesar de se terem colocado à disposição dos média comunicações prévias — sinopses, convites, notas de imprensa — nenhum órgão de comunicação social compareceu em qualquer das sessões, com exceção da Rádio Renascença na primeira. Este silêncio mediático não é inocente: comunica-se uma mensagem poderosa — a de que o 25 de Novembro e tudo o que lhe antecedeu (o Verão Quente, as prisões políticas, a luta pela Constituição, a tentativa de imposição revolucionária) não merecem tratamento sério ou pluralista. É como se fosse preferível ignorar, encobrir ou suavizar o significado histórico da data.
O 25 de Novembro como reparação democrática
O 25 de Novembro de 1975 não foi um mero “acontecimento de transição”: foi, de facto, o momento em que a democracia liberal portuguesa se afirmava, rejeitando a metamorfose do país numa réplica do bloco soviético. Foi a travagem de um projecto de poder que pretendia suprimir os partidos, as liberdades, a pluralidade e a propriedade privada, em benefício da ditadura proletária. O fim do ciclo do PREC (Processo Revolucionário em Curso) é ainda hoje mal compreendido ou deliberadamente minimizado.
O autor recorda: “as centenas de prisões políticas, o país dividido, a violência contra sedes partidárias, o contar das espingardas, o desastre a anunciar-se.”
Ao reconhecer plenamente o valor do 25 de Novembro como momento de retorno à democracia — e não como traço de continuidade ou banalização do PREC — estamos a honrar a liberdade e a responsabilidade histórica. Mas para isso é necessária uma comunicação social que deixe de se comportar como “guardião oligárquico da agenda” e volte a exercer o seu papel público com coragem.
A abordagem do autor é clara e implacável: se a comunicação social tivesse exercido o seu papel — cobertura plural, respeito pela liberdade de expressão, abertura ao contraditório — a dependência das redes sociais como espaço de liberdade não teria crescido tanto. Mas hoje, em Portugal, para além dos casos de auto-censura ou de hegemonia dos grandes grupos mediáticos, há também uma construção de silêncio — uma escolha editorial de “não dar palco” ao que incomoda ou desagrada à agenda dominante. Quando uma entidade organiza um ciclo público sobre temas nucleares da democracia portuguesa e a esmagadora maioria dos órgãos manda dar “não disponibilizado”, é sinal de que algo muito grave se passa.
Este silêncio ou branquear serve interesses: o interesse de menos-democracia, de menos-pluralidade, de menos contestação, de menos verdade. Serve o interesse de um “consenso” moldado, de uma narrativa que não deixa ver as fracturas que alimentaram e definiram a transição portuguesa.
A comunicação social que se comporta assim — não como quarto poder, mas como quinto poder, poder da omissão — falha ao país. Falha à cidadania. E, acima de tudo, falha à memória democrática.
O texto sustenta que, “se não fossem as redes sociais, estaríamos asfixiados pelo cerco; […] as redes são a nossa liberdade.” E identifica-as como “o nosso 25 de Novembro contemporâneo”.
Claro que não é o ideal: as redes sociais precisam de regulação, de responsabilidade, de temperança. O autor admite-o. Mas elas proporcionam algo inédito: comunicação directa, horizontal, sem filtro oligárquico e sem agenda editorial artificial. E esse “algo” está a mudar a sociedade, porque permite ao cidadão comum exercer voz própria — frente àquilo que a comunicação social tradicional já não garante.
Se queremos uma democracia viva, exige-se que tanto os média como as redes cumpram o seu papel: os média assegurem pluralidade e escrutínio real; as redes permitam voz, reacção e mobilização. E o 25 de Novembro — momento decisivo da história portuguesa — exige que ambos olhem de frente para ele, convoquem os factos, não maquilhem, não fujam, não se calem.
A data de 25 de Novembro de 1975 simboliza o triunfo da liberdade sobre a tentativa de imposição de um regime revolucionário totalitário. A comunicação social que ignora ou suaviza este facto está a negar-se a si própria, à função de mediação democrática, à história e ao presente.
Este artigo de reflexão — inspirado no trabalho de José Ribeiro e Castro no “Observador” — é um alerta: para que haja verdadeira democracia, há que haver verdadeira cobertura mediática. Não basta o espetáculo, o “fecho de edição”, o consenso confortável. É preciso lembrar, debater, confrontar.
E nós, como leitores, cidadãos, pesquisadores, temos o dever de apontar o dedo ao silêncio e à omissão — porque onde há silêncio e omissão, cresce o autoritarismo e perde-se a liberdade.
sábado, 8 de novembro de 2025
A angústia dos jornalistas e o medo de perder o emprego!
Há hoje, nas redacções, uma forma curiosa de sobrevivência profissional: ser “anti-CHEGA”. Não basta fazer jornalismo; é preciso mostrar serviço.
Dai que cada entrevista, cada artigo, cada noticia seja, para muitos, uma espécie de teste de fidelidade ideológica.
Não é o CHEGA ou o Ventura o entrevistado — é o jornalista quem se submete a exame.
A entrevista ou o artigo transformam-se em ritual de purificação: o repórter ou o comentador tem de demonstrar, perante chefes, colegas e a plateia moral das redes sociais, que *nada tem a ver com Ventura*, que odeia o “populismo”, que se indigna no tom certo e à hora certa. Só assim poderá manter o cargo, o espaço de antena ou o sorriso do director.
É um espectáculo de medo.
O medo é a pior das emoções — e é ele que hoje governa boa parte da comunicação social. O medo de ser confundido com “os maus”. O medo de ser acusado de complacência. O medo de não pertencer ao clube moralmente aprovado.
Quando um jornalista entra num estúdio para entrevistar Ventura, não procura compreender, questionar ou informar. Procura *salvar-se*. O entrevistador não fala para o público; fala para os seus pares. O seu verdadeiro objectivo é ser aceite.
A lógica é de servidão voluntária. Nenhum deles obtém de Ventura o que deveria ser o propósito do jornalismo — esclarecimento, informação, contraste de ideias. Obtém, isso sim, a sensação momentânea de segurança: provar que está “do lado certo da História”.
E é precisamente esse automatismo — essa incapacidade de sair do rebanho — que torna o jornalismo português tão previsível, tão pobre, tão incapaz de surpreender.
Há, é certo, os activistas confessos, os que militam abertamente contra o CHEGA. Mas o mais trágico nem são esses. É o número crescente dos que, não sendo activistas, imitam o tom e os tiques dos fanáticos para não serem excluídos.
A imparcialidade, que deveria ser a essência da profissão, tornou-se defeito. A serenidade passou a suspeita. A dúvida passou a crime.
Só em frente a Ventura, o fanático sente que pode — ou até deve — exibir o seu fanatismo. Como se o dever profissional de informar se dissolvesse no prazer tribal de atacar.
É o retrato da decadência mediática: jornalistas que não informam, comentadores que não analisam, e um país que vai sendo empurrado para a ignorância e o ressentimento — tudo em nome de uma “virtude” que não é mais do que medo mascarado de moral.
No fundo, o jornalismo português está dominado por uma patologia simples: a angústia de ser diferente.
E, por ironia, é isso mesmo que Ventura representa — a diferença que os outros temem reconhecer.
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
De Nova Iorque ao Entroncamento — o novo provincianismo global
Os mídia portugueses, sempre atentos à pulsação moral do planeta, sabem quem é Zohran Mamdani. Sabem que é jovem, democrata, muçulmano, imigrante e ocultam que é de extrema esquerda populista — combinação química perfeita para a beatificação instantânea. Sabem, também, que prometeu “fazer a vida negra aos ricos”, o que basta para acender nas redacções uma aura de entusiasmo religioso. Mas não sabem — nem querem saber — quem é o Nelson Cunha, 35 anos, sociólogo, emigrante no RU, natural do Entroncamento. Não lhes interessa. É demasiado perto para ser exótico e demasiado real para ser inspirador.
O jornalismo contemporâneo deixou de ser curiosidade pelo mundo e passou a ser catecismo da tribo. Já não informa: canoniza. A cada novo “Zohran”, o coro mediático ajoelha-se perante o altar da diversidade e da esperança importada, enquanto o país real se dissolve em silêncio.
Lisboa, que há muito trocou a alma pelo reflexo cosmopolita, olha o resto do país com a mesma comiseração com que Nova Iorque olha o Midwest americano: “gente atrasada”, “provincianos”, “populistas”. E assim se constrói o novo provincianismo — o provincianismo global — onde a elite local se julga internacional por repetir slogans alheios.
Há uns anos escrevi no ReVisões que a nova fronteira não é entre esquerda e direita, mas entre os que vivem da realidade e os que vivem da narrativa. Essa fronteira alarga-se. No país real — aquele onde os serviços públicos colapsam, onde as escolas fecham, onde a insegurança cresce — ninguém precisa de “heróis democratas nova-iorquinos”; precisa de médicos, de polícia, de justiça.
Os mesmos que choram por Gaza não sabem onde fica Aljustrel; os que citam AOC e Mamdani nunca ouviram falar de quem gere o Entroncamento. E, contudo, acreditam ser moralmente superiores — porque leram um tweet em inglês e partilharam um vídeo com legendas inspiradoras.
É esta a doença moral do nosso tempo: a substituição da realidade pela emoção mediada. E o jornalismo, que deveria ser o antídoto, tornou-se cúmplice.
Zohran Mamdani, de longe, é símbolo do bem; Nelson Cunha, de perto, é incógnita. Entre um e outro mede-se a falência das democracias maduras — cada vez mais desligadas do território, do povo e da verdade concreta da vida.
O pior talvez ainda esteja para vir. Porque quando uma civilização começa a importar as suas esperanças e a exportar os seus problemas, o colapso já começou — apenas ainda não chegou às redacções.
A Rita Monteiro vai usar lencinho?
a Rita Monteiro, jornalista, escreve:
"Se for eleito em Novembro, será uma vitória histórica. Será o primeiro autarca muçulmano da história de Nova Iorque. Apesar de ter nascido no Uganda, foi criado desde os 7 anos no bairro operário de Queens, Nova Iorque.
Mamdani é conhecido pelo seu ativismo pró-Palestina. Durante a sua campanha, recebeu criticas de antissemitismo por parte de nova iorquinos. Concorda com o direito de Israel existir, mas diz que o país teria de se “responsabilizar e respeitar o direito internacional”. Chegou mesmo a dizer que se o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, visitasseNova Iorque, que o mandava prender.
Trump já o chamou de “lunático comunista”. “Já tivemos esquerdistas radicais antes, mas isto está a tornar-se um pouco ridículo. Ele tem um aspeto terrível, a sua voz é irritante, não é muito inteligente”, criticou o presidente norte-americano."
quarta-feira, 5 de novembro de 2025
inquisidor, verdugo, algoz!
Durante a campanha eleitoral de Outubro de 2025 a expressão “Morte aos traidores” presente nos cartazes do MRPP chocou alguns ouvidos. Inquirida, a Comissão Nacional de Eleições tranquilizou o país: tratava-se de uma metáfora. Já Garcia Pereira, dirigente do MRPP, explicava, ao mesmo tempo que anunciava, a suspensão da frase “morte aos traidores” do material de campanha, que isso não isentava os traidores da morte certa.
Mas a história do MRPP ensina que este movimento fez mais que pedir metaforicamente a morte daqueles que considerava traidores. Em 1975 e 1976 o MRPP sequestrou, agrediu e torturou alguns daqueles a quem chamou traidores…
o berço vermelho da intolerância
“Morte aos Traidores!” — era palavra de ordem que ecoou nas paredes, nas ruas e nas consciências de 1975 — foi mais do que uma frase de revolução. Foi a semente de uma cultura política que, sob o pretexto da libertação, legitimou a perseguição, o ódio e a intimidação em nome da pureza ideológica.
O Observador, no artigo que agora recupera esse grito sinistro, recorda-nos que o MRPP, os “comités de vigilância”, os “tribunais populares” e outros aparelhos do PREC não foram meros folclores revolucionários. Foram instrumentos de poder e medo — e o medo é sempre o combustível do totalitarismo.
À luz dos acontecimentos de hoje, é impossível não traçar paralelos. O moralismo da Esquerda contemporânea, travestido de “progressismo democrático”, mantém intacta a lógica inquisitorial: quem discorda é “fascista”, quem duvida é “negacionista”, quem resiste é “traidor”.
Mudou-se a semântica; manteve-se o instinto.
A cultura do “traidor” é a antítese da democracia. A Revolução Francesa teve o seu Comité de Salvação Pública; o PREC teve o seu MRPP e os seus fuzilamentos simbólicos. Hoje, a Europa tem as suas comissões de “verificação de desinformação”, onde se decide quem pode falar e quem deve ser silenciado — sempre, claro está, a bem da democracia.
A mesma pulsão de censura que animava os panfletos de 1975 ressurge agora nas salas de Bruxelas e nas redações alinhadas. A diferença é que já não se grita “Morte aos traidores!”, mas murmura-se, com a mesma ferocidade moral: “Cala-te, extremista!”.
Os métodos são outros; a essência é idêntica.
O artigo recorda ainda como, entre 1974 e 1976, a violência política em Portugal foi real — espancamentos, prisões arbitrárias, demissões sumárias. Tudo em nome da revolução e do “povo”. A história não é uma metáfora: é uma advertência.
Quando hoje se invocam “valores europeus” para silenciar opiniões, o espectro do PREC sorri. É o sorriso do intolerante que se julga virtuoso, o sorriso dos “bons” que perseguem “maus” com a serenidade dos inquisidores.
É por isso que o artigo do Observador é importante: porque recorda. E recordar é um acto político — sobretudo quando o esquecimento é conveniente.
Quem chama “traidor” a quem pensa diferente não defende a democracia; destrói-a.
Notas:
[1] Observador, “Morte aos traidores! Uma palavra de ordem levada muito a sério”, Outubro de 2025.
[2] Cf. Jaime Nogueira Pinto, Portugal, Os Anos do Fim, Dom Quixote, 2014.
[3] Ver também as actas do COPCON (Arquivo Histórico Militar) e os testemunhos de oficiais moderados do MFA.
[4] Sobre a genealogia da intolerância revolucionária, cf. François Furet, O Passado de uma Ilusão (Dom Quixote, 1996).
domingo, 2 de novembro de 2025
O Jornalismo Activista e o Circo Mediático de Rui Pedro Antunes do Observador-
Substitua Ventura por Mortágua, Carneiro, Montenegro ou … e terá da minha parte o mesmo comentário!
Não é surpresa para ninguém que o jornalismo português, hoje, esteja em estado de putrefação. Um dos principais sintomas dessa doença crónica? O jornalismo activista, que anda a dominar as redações como um vírus fora de controlo. E é precisamente isso que vemos na crítica de Rui Pedro Antunes à entrevista de André Ventura. Um festim de hipócritas, de uma "imparcialidade" tão inventada quanto um algoritmo da Google.
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Antunes, que provavelmente não viu a entrevista, ou talvez tenha decidido comentar com a típica agenda que já é mais velha que a própria CNN Portugal, não perdeu tempo em engolir os papéis dos comentadores da esquerda e vomitar mais uma dose de seu veneno contra a direita. Para ele, tudo o que Ventura fez – levantar-se, deixar o programa e expor a mediocridade de certos jornalistas – não passa de uma manifestação de autoritarismo e intolerância. Mas, a sério, quem é que está a ser intolerante aqui? O homem que é atacado em praça pública, com perguntas manipuladas e um tom de interrogatório digno de um tribunal de exceção, ou os pseudo-jornalistas que, em nome da “liberdade de expressão” (mas só da deles, claro), se acham no direito de gozar com a paciência de quem está em frente à câmara?
Vamos lá analisar, então, o brilhante comentário de Antunes, que se perde em acusações de falta de argumentos, e esqueceram-se de perguntar ao André Ventura uma única coisa útil ou construtiva. Claro, uma das perguntas chave foi “Porque berra tanto?” que, pelo visto, é uma crítica muito profunda. Quem não percebe que questionar a intensidade da voz de alguém é uma forma totalmente legítima de discutir política, não é? Esqueçam-se de perguntar sobre propostas concretas, ideologias ou soluções para o país. A melhor forma de chegar ao cerne de um político é, claro, perguntar-lhe se ele está a gritar ou não.
E por falar em imparcialidade, ninguém parece ter notado a incrível "neutralidade" dos comentadores presentes. Francisco Rodrigues dos Santos, por exemplo, é imediatamente tachado como "proveniente de um campo político oposto" por apoiar Gouveia e Melo. E Pedro Costa? Bom, é filho do António Costa, mas claro, isso não significa nada – afinal, quem não tem uma ligação familiar com o PS hoje em dia? Padrinhos, tios e até avós fazem parte do jogo, não é? Como sempre, a imparcialidade nos programas de opinião é rigorosamente respeitada… Ou será que já estamos todos tão anestesiados pela máquina mediática que ninguém mais consegue ver essa comédia travestida de jornalismo?
E que tal o momento em que Ventura se levanta e decide que já basta? Porque sim, basta. Éóbvio que, num país onde os jornalistas que se dizem imparciais se acham donos da verdade absoluta, um político que não se submete aos jogos de humilhação, como os que foram impostos nesse programa, merece ser tratado como um "tótó autoritário". Ora, se ele não aceitou as provocações, então o problema está nele, claro. Não são os jornalistas que estão a conduzir a entrevista como um show de condenação pública, mas sim o político que ousa não engolir a provocação.
Rui Pedro Antunes, na sua análise, entra na típica dança do comentariado de esquerda, sempre com a mesma fórmula: atacar a direita como se fosse uma tarefa moralmente superior, mesmo quando a entrevista em questão não tem absolutamente nada a ver com política real, mas sim com aquele tipo de guerra cultural insuportável. O que se esperaria de um jornalista sério? Uma abordagem crítica, sim, mas com base em dados e argumentos sólidos, e não essa caça às bruxas insensata que estamos a ver em todos os cantos da esfera mediática.
E assim, é sempre assim: no final, quando se faz uma crítica legítima a um político de direita, é logo chamado de “vitimista”, “autoritário” ou “populista” – nunca, claro, de alguém que apenas não tolera ser espancado mediaticamente por meia dúzia de jornalistas que, ao invés de questionar e investigar, só sabem arranjar pretextos para diminuir a sua figura. Estamos no pico da era do jornalismo activista, onde a objetividade e o equilíbrio são apenas palavras bonitas que não servem para nada, a não ser para manter as aparências enquanto se faz propaganda disfarçada de informação.
Mas já sabemos como é, não é? Se alguém não se cala, se alguém não engole a narrativa, se alguém não se curva ao “politicamente correto” de uma imprensa radicalizada – esse alguém é automaticamente o culpado, o vilão. E assim vamos assistindo ao enterro da nossa liberdade de expressão. O pior é que, no fundo, todos nós sabemos que a pergunta que mais se ouve nesse "jornalismo" activista é sempre a mesma: “Porque berra tanto?”
“Isto não é o Bangladesh — e muito menos o “da Joana””
Há momentos na vida pública portuguesa em que a hipocrisia ganha proporções de tragicomédia. O caso dos cartazes do CHEGA — em especial aquele que ousa dizer “Isto não é o Bangladesh” — é um desses momentos. A frase, simples, directa, visualmente eficaz, tornou-se subitamente o gatilho de uma ofensiva de censura política travestida de “defesa da decência democrática”.
Helena Matos, com a lucidez que lhe conhecemos, desmontou a histeria colectiva com uma ironia demolidora: recordando que há não muito tempo, o MRPP do Dr. Garcia Pereira — o mesmo que agora se dedica a querer ilegalizar o CHEGA — enchia as paredes do país com slogans como “Morte aos traidores”. E, nessa altura, a mesma Comissão Nacional de Eleições que hoje se mostra tão sensível à semântica tropical dos cartazes de André Ventura, achou tudo “metafórico”.
É precisamente essa duplicidade moral que hoje reina em Lisboa, no Observador, na CNN Portugal e em certos sectores do velho comentário político. Quando se trata de atacar Ventura, tudo é permitido: insultar, distorcer, criminalizar. Quando se trata de aplicar as mesmas regras aos amigos do regime — sejam os garcia-pereiristas, sejam as rap-divas que trocam o activismo por microfones pagos com publicidade institucional —, reina o silêncio cúmplice.
O novo tribunal da virtude
A actual campanha de linchamento mediático contra o CHEGA e o seu líder, iniciada pelo Dr. Garcia Pereira e amplificada pela racista e xenófoba artivista RAP Eva Cruzeiro (@evarapdiva), pela CNN e pelo Observador, revela um padrão de intolerância que há muito denunciamos. O sistema mediático português já não debate — julga. Já não informa — inquisita.
André Ventura é o herege preferido dessa nova Inquisição secular. O “antissistema”, o “populista”, o “perigoso”. E como todo o herege útil, serve de espantalho conveniente para uma elite política que vive do medo e da desinformação moral. O Observador, que já foi jornal de ideias, tornou-se um púlpito de moralismo suburbano, onde cada cronista compete em indignação com o cronista do lado. A CNN Portugal, por sua vez, transformou-se num reality show de ressentimento, onde se discute política como quem comenta futebol e onde a palavra “fascismo” substitui o argumento.
A CNE e o medo da liberdade
Quando a CNE decide remeter ao Ministério Público um cartaz que diz “Isto não é o Bangladesh”, não está a proteger a democracia — está a ameaçá-la. Porque o que está em causa não é o Bangladesh, nem a frase, nem sequer o cartaz. O que está em causa é o direito de um partido político, com representação parlamentar e apoio popular, dizer o que pensa.
A liberdade de expressão não é selectiva. Ou vale para todos, ou não vale para ninguém. A CNE pode tolerar metáforas homicidas como “Morte aos traidores”, mas não suporta constatações geográficas. A ironia é tão evidente que só um burocrata sem alma ou um jornalista sem vergonha poderia não a ver.
“O da Joana” e o país dos moralistas
Helena Matos termina o seu texto com uma nota de inteligência simples e rara: talvez fosse tempo de tratarmos de coisas sérias. Mas é pedir muito. O país dos moralistas prefere brincar aos ofendidos. As mesmas pessoas que relativizam o terrorismo islâmico, o tráfico humano e a insegurança urbana, desatam em pânico porque alguém escreveu “Isto não é o Bangladesh”.
O problema não é o Bangladesh. O problema é Portugal — um Portugal que tem medo das palavras, mas não tem medo da mentira.
E, no entanto, é precisamente este medo das palavras que faz crescer o CHEGA. Cada ataque injusto, cada tentativa de censura, cada cronista indignado, cada RAP histérica nas redes sociais é mais um combustível lançado na fogueira de uma sociedade que se cansou de ser insultada por pensar diferente.
Em Suma:
Helena Matos tem razão: isto não é o Bangladesh. Mas também não é — ainda — a Coreia do Norte. Por isso, defendamos o direito de dizer o óbvio, o direito de chocar, o direito de existir politicamente fora do rebanho do “politicamente correcto”.
Se a democracia portuguesa se sente ameaçada por um cartaz, então talvez seja porque já não tem alicerces. E talvez, afinal, seja tempo de reconhecer que a coragem de dizer o que se pensa — mesmo que incomode — é o último reduto da verdadeira liberdade.
Notas:
1. CNE — Comissão Nacional de Eleições. 2. MRPP — Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, fundado em 1970, partido de inspiração maoista liderado por Arnaldo Matos e Garcia Pereira.
3. RAP Eva Cruzeiro, auto-denominada “artivista”, actua como comentadora e agitadora política em diversas plataformas digitais, sob o disfarce de humor crítico.
4. O cartaz do CHEGA “Isto não é o Bangladesh” refere-se à necessidade de ordem, legalidade e soberania nacional — não à hostilidade a qualquer povo, como pretendem fazer crer os seus detractores.
sábado, 1 de novembro de 2025
“La Piovra e o Escudo Democrático: Bruxelas contra o pensamento livre”
Há uma expressão italiana, “La Piovra”, que ficou famosa nos anos 80 por designar o poder tentacular da Máfia — um polvo invisível que se estendia por toda a sociedade, controlando políticos, magistrados, jornalistas e empresários.
Pois bem: hoje, o polvo já não vem de Palermo. Cresce em Bruxelas.
O Comissário Europeu para a Democracia, Justiça, Estado de Direito e Protecção do Consumidor, Michael McGrath, anunciou o projecto de um “Escudo Democrático Europeu” destinado — diz ele — a “proteger” a União da desinformação, das ingerências estrangeiras e das ameaças híbridas.
Aparentemente, trata-se de blindar as eleições e a opinião pública. Na prática, o objectivo é outro: blindar o sistema contra o voto do povo.
A “democracia protegida” é a nova forma da censura ilustrada.¹
Tal como Jaime Nogueira Pinto recorda, o método é antigo: quando as eleições não correm bem, anula-se; quando correm mal, legisla-se.
Na Roménia, anulou-se uma primeira volta porque o “candidato errado” estava à frente. Em França, tenta-se condenar judicialmente Marine Le Pen por ter feito o mesmo que todos os outros partidos fizeram. E em Portugal, enquanto se celebram 50 anos de “liberdade de expressão”, multiplicam-se os apelos a controlar as redes sociais.
Não se trata de proteger a Democracia; trata-se de proteger o monopólio da palavra.
As redes sociais tornaram-se o maior incómodo dos regimes confortáveis: permitem que a plebe fale, compare, denuncie e exponha as hipocrisias da elite.
Para os “liberalíssimos democratas” que hoje pregam o amor à liberdade, o problema é que o povo fala demais — e fora de guião.
O “Escudo Democrático” é, afinal, um escudo contra a pluralidade.
A mesma Europa que se diz assente na diversidade quer agora um pensamento único, higienizado e supervisionado.
A mesma que se ofende com o Estado Novo e o acusa de censura moral, apressa-se a criar o seu index digital, em nome da moral democrática e da luta contra o “ódio”.
O polvo mexe-se devagar, mas firme.
Começa por “proteger os cidadãos”; acaba por lhes dizer o que podem pensar, partilhar e votar.
Bruxelas tornou-se, assim, a sede do novo moralismo europeu — aquele que, com a máscara da virtude, controla o discurso e pune a dissidência.
A democracia que nasce da vigilância e da censura é como o escudo de McGrath: pesado, brilhante — e inútil.
.
Nota:
Ver Jaime Nogueira Pinto, O Escudo Democrático, in Observador, 2025.
A metáfora de “La Piovra” é aqui usada na acepção figurativa, referindo-se a uma estrutura de poder difuso e autorreferencial — um polvo ideológico que se alimenta do medo de perder o controlo sobre o discurso público.
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