A política é muitas vezes vista como um jogo pelo poder, onde a vitória nas eleições é um objetivo primordial. Há um ano, depois de uma vitória que foi tão curta como a ambição daqueles que a conquistaram, surgiu no horizonte a tentativa de recriar o momento histórico de 1987, quando o PSD de Cavaco Silva obteve a sua primeira maioria absoluta.
Desde há um ano, temos estado em constante campanha eleitoral – distribuindo esmolas, prometendo paz e progresso, satisfazendo corporações e buscando estabilidade, escreve Nuno Gonçalo Poças.
Estas ações refletem a ambição de Luís Montenegro de repetir o sucesso do cavaquismo, um período marcado pela obtenção de maiorias absolutas. A sua estratégia parece focar-se exclusivamente na repetição desse momento, utilizando táticas que visam garantir o apoio e votos necessários para alcançar tal feito.
Por outro lado, o objetivo do Governo parecia ser diferente. Entre uma mão cheia de ministros, cuja boa vontade não deve ser questionada injustamente, a intenção do Primeiro-ministro parecia ser a de reforçar a sua maioria no parlamento. Eventualmente, ele pode até cobiçar uma maioria absoluta, vendo isso como um fim em si mesmo. Esta abordagem sugere que o poder é procurado pelo próprio poder, sem uma visão clara sobre as mudanças ou melhorias que podem ser implementadas.
É importante reflectir sobre o que esperar de uma geração de políticos cujo grande feito e especialidade é ganhar eleições internas e semear bagos de poder que servem apenas o poder em si mesmo. Essa busca incessante pelo domínio eleitoral pode levar a uma política onde as verdadeiras necessidades da população são secundárias às ambições pessoais dos líderes. A política deve ser o meio pelo qual se promove o bem-estar da sociedade, e não apenas um mecanismo para perpetuar o controle e influência de uma elite política.
Este cenário nos leva a ponderar sobre a essência da democracia e os valores que devemos preservar. Ao focar-se exclusivamente na obtenção de poder, corre-se o risco de perder de vista os princípios fundamentais da governança responsável e representativa. É necessário que os políticos redirecionem suas estratégias para incluir verdadeiramente os interesses da população, garantindo que suas ações beneficiem todos os cidadãos e não apenas um grupo selecto.