terça-feira, 22 de julho de 2025

Entender Torre Pacheco

1 Um grupo de jovens de origem magrebina agrediu com inusitada brutalidade um homem de 68 anos de idade em Torre Pacheco, região de Múrcia, no sul de Espanha. Não houve roubo. Nem haverá historial de animosidade entre agredido e agressores. A violência terá tido um só propósito: gravar o ataque e partilhá-lo nas redes sociais.
2 Fartos de estarem fartos, os moradores saíram à rua. Contaram com o apoio da comunidade cigana local. Nas palavras de um membro desta comunidade, o idoso agredido podia ser o pai ou o avô de qualquer residente, donde, perante o sucedido, não há diferenças entre ciganos e payos.
3 Depois então chegou a extrema-direita, que parasitou a batalha campal em curso.
Esta simples cronologia dos factos revela que, ao contrário do que foi noticiado pela comunicação social portuguesa, a realidade é muito mais complexa do que uma ‘caça ao imigrante’ promovida por turbas ultramontanas. Quem veja as nossas televisões, por muito boa vontade que tenha, jamais entenderá o que aconteceu em Torre Pacheco.

Agora afastemos o ruído quotidiano e olhemos para factores estruturais. 
Primeiro, os MENA, acrónimo de menores estrangeiros não acompanhados, um tema recorrente no debate público espanhol.
Falamos de jovens até aos 18 anos que chegam a Espanha sem pais ou tutores legais. São mais de 15.000, todos extracomunitários, a maioria marroquinos (68%) e do sexo masculino (96%). Juntam-se a estes outros tantos que ao atingir a maioridade mantêm a autorização de residência ou adquirem até a nacionalidade espanhola.
Boa parte chegou à costa mediterrânica de Espanha e aos arquipélagos das Baleares e das Canárias. Para que os custos financeiros e materiais do acolhimento não recaiam apenas sobre estas regiões, algumas sob elevada pressão migratória, o governo propôs que fossem distribuídos por todo o território, convocando os vários governos locais para um esforço que deve ser conjunto. Em surdina, outro argumento: a aglomeração destes jovens, muitos sem ocupação, parece favorecer comportamentos delitivos, ou pelo menos incivis.

Fazendo jus a uma longa tradição de xenofobia, os nacionalismos catalão e basco rejeitaram a proposta. Pedro Sánchez, dependente que está da Catalunha e do País Basco para governar, aceitou a falta de solidariedade.
Ou seja, duas das regiões mais ricas de Espanha põem-se fora. Como é fácil de entender, as restantes, entre as quais as mais pobres do país, não ficaram satisfeitas.
A xenofobia explica a postura catalã, mas, sendo justo, os números dão algum conforto ao sectarismo: dados da Dirección General de la Policía do governo autonómico da Catalunha, citados pelo El Mundo, revelam que, em 2024, 83% dos detidos por roubo e 91% dos detidos por furto em Barcelona são estrangeiros. Também aqui, em surdina: os MENA representarão uma fatia importante desta realidade.
Diga-se que a Catalunha é vítima de si própria. A princípios deste século, os nacionalistas da Convergència i Unió empenharam-se em receber imigração não falante de espanhol, em particular do Magrebe. O objectivo era cumprir uma tara identitária: se os imigrantes se aculturassem em língua catalã, sem nunca aprenderem castelhano, não só se avançaria na construção da nação, como, em teoria, se ganharia uma legião de votantes. Correu mal. Por isso, é irónico - e revoltante para o resto de Espanha - que, agora, a Catalunha se desentenda do assunto.
O segundo factor estrutural está nas relações bilaterais entre Madrid e Rabat. Eis o segredo mais mal guardado da política externa espanhola: Marrocos usa a imigração ilegal para pressionar Espanha - e, através desta, a União Europeia.
Viu-se bem em 2021, quando Marrocos abriu a fronteira em Ceuta, instigando a passagem descontrolada de milhares de pessoas, entre as quais muitas crianças, o que criou uma seríssima crise humanitária e diplomática. A razão? Uma represália por Espanha ter prestado cuidados hospitalares a Brahim Ghali, velho líder da Frente Polisário.

Mas Marrocos reservará um papel ainda mais pernicioso à imigração. 
Nas páginas do ABC, Taleb Alisalem, jovem escritor sarauí, defendeu que Espanha não tem problemas com a imigração; o problema está na forma como Marrocos a usa. Segundo Alisalem, Marrocos desenvolveu uma rede de controlo sobre a sua comunidade na Europa: associações culturais, mesquitas e redes de vigilância social e ideológica. O motivo será simples: “Marrocos infiltra a sua agenda usando parte da diáspora como arma de influência.” “Marrocos não imigra; Marrocos expande-se”, afirma. Para que esta projecção de poder externo funcione, há que impedir a integração dos imigrantes.
O escritor insta Espanha a agir: “Não podemos continuar a viver entre a chantagem diplomática e o complexo ideológico. Precisamos de proteger os bairros. Precisamos de monitorizar o que acontece dentro de certas mesquitas. Precisamos de exigir responsabilização. É preciso parar de confundir tolerância com submissão.”
É verdade que Taleb Alisalem é um activista sarauí. Deve ser lido com prudência. Contudo, a experiência dos últimos anos, bem como factos recentes em Torre Pacheco, recomenda que os seus argumentos não sejam descartados como o produto de um delírio faccioso.
-
Retratar o sucedido em Múrcia como um combate entre nacionais e estrangeiros favorece duas agendas políticas. Primeiro, a de Sánchez, cujo partido e governo estão imersos em ilegalidades várias e escândalos maiores. A ameaça da extrema-direita é a única bóia disponível para manter o governo à tona e ambicionar um resultado razoável nas próximas legislativas. As esquerdas radical e extrema aplaudem a estratégia. E claro, a nada disto é alheio o facto de Múrcia ser governada pelo Partido Popular, a principal força da oposição.

A segunda agenda beneficiada é a do VOX, a direita radical populista que vê com preocupação eleições no horizonte, já que não cresce de forma significativa nas sondagens. O relato de uma invasão de estrangeiros criminosos galvaniza as bases.
Em resumo, a esquerda e a direita radical apostam que fogo nas ruas dê votos nas urnas.

Por preguiça, ignorância ou militância, a imprensa portuguesa propagou uma versão politizada da realidade. A forma como se noticiou o caso não é fiel aos factos, além de ignorar por completo o contexto político e social que os condiciona.
É um erro pensar que os problemas começam e acabam na extrema-direita. Neste e noutros casos, mesmo que a retiremos da equação, os problemas continuarão todos no mesmo sítio.(Diogo Noivo)

o caso Miguel Arruda, deputado do CHEGA!

Furto de malas. Defesa de deputado do Chega garante inocência e diz que malas apreendidas só tinham "tralha"
José Manuel Castro indicou que o deputado do Chega confirmou que as três malas apreendidas pela PSP eram dele e que tinham roupas e garrafas no seu interior.
(João Paulo Godinho em 22 jan. 2025, 12:44)
O advogado do deputado do Chega Miguel Arruda, que foi constituído arguido por suspeitas de furto qualificado de malas no aeroporto, assegurou a inocência do cliente e frisou esta quarta-feira que a PSP apenas levou “três malas carregadas de tralha” e que continham “roupa e umas garrafas de vinho e rum”.
Em declarações ao Observador, José Manuel Castro frisou que Miguel Arruda “está inocente” e apontou para “uma precipitação dos órgãos de polícia criminal” na diligência de terça-feira. “Houve uma busca em que ele colaborou e levaram três malas. O deputado confirmou que as malas eram dele”, explicou.
Deputado do Chega alvo de buscas e constituído arguido. É suspeito de furtar malas nos tapetes de aeroportos
Miguel Arruda, deputado do Chega eleito pelo círculo dos Açores, é suspeito de vários crimes de furto qualificado. André Ventura assume que partido estará ao lado do levantamento da imunidade.
(João Paulo Godinho e Joana Moreira)
Marcelo (que alertou para a direção executiva do SNS), o BE (que tem um problema laboral) e o Chega (que tem um problema criminal) são o Bom, o Mau e o Vilão.
Dizia o Chega: furto no aeroporto é "duty free"
Longe, mas perto: BE e Chega mordem a língua. O partido de Ventura quer combater o crime, menos quando é praticado em part-time; já o BE diz-se inclusivo, mas não com os próprios trabalhadores.
22 jan. 2025, 09:07

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Proposta de Orçamento da UE 2028-2034

A Comissão Europeia apresentou a sua proposta para um orçamento de longo prazo da UE ambicioso e dinâmico, o chamado Quadro Financeiro Plurianual (QFP), que terá uma duração de sete anos, com início em 2028.
Quase 2 biliões de euros, ou 1,26% do rendimento nacional bruto médio da UE entre 2028 e 2034, apoiarão a ambição da Europa de ser independente, segura e próspera ao longo da próxima década.
Os desafios crescentes da Europa em matéria de segurança, defesa, competitividade, migração, energia e resiliência às alterações climáticas exigem uma resposta forte e virada para o futuro. Por conseguinte, a Comissão propôs uma reformulação fundamental do orçamento da UE.
Reforçará significativamente a capacidade da UE para concretizar políticas fundamentais, dar resposta a novas e emergentes prioridades e continuar a apoiar as pessoas, as empresas, os países, as regiões e os parceiros da UE e, acima de tudo, o futuro coletivo da UE.
Principais características do novo orçamento da UE
- maior flexibilidade em todo o orçamento, para que a Europa possa agir e reagir rapidamente quando necessário,
- programas financeiros mais simples, simplificados e harmonizados para facilitar o acesso ao financiamento,
- um orçamento adaptado às necessidades locais, com planos de parceria nacionais e regionais para um impacto específico onde é mais importante,
- um impulso à competitividade para que a Europa garanta cadeias de abastecimento, intensifique a inovação e assuma a liderança no domínio das tecnologias limpas e inteligentes,
- novos recursos próprios equilibrados que proporcionem receitas adequadas às nossas prioridades, minimizando simultaneamente a pressão sobre as finanças públicas nacionais.
O orçamento de longo prazo foi concebido para assegurar que o financiamento da UE é orientado pelas suas prioridades políticas, produzindo resultados que os Estados membros não conseguem alcançar sozinhos. Centra-se nos seguintes aspetos:
- investir nas pessoas, nos países e nas regiões da UE
- promover a educação e os valores democráticos
- impulsionar a prosperidade através da competitividade, da investigação e da inovação
- proteger as pessoas e reforçar a preparação e a resiliência para enfrentar novos desafios
proteger a Europa
- construir parcerias para uma Europa mais forte no mundo
- introduzir novos recursos próprios para corresponder à nossa ambição comum.
A proposta será negociada com o Parlamento Europeu, eleito pelos cidadãos da UE, e com o Conselho da UE, em representação dos países da UE, antes da adoção final. Deverá entrar em vigor em Janeiro de 2028.

Uma falsa memória e a perigosa ignorância histórica!

O incidente ocorrido no inicio do mês no Cacém, durante uma acção de campanha do CHEGA, em que André Ventura foi confrontado por um cidadão africano visivelmente exaltado, é revelador de algo mais profundo do que uma simples altercação verbal. O discurso inflamado deste homem – acusando os portugueses de terem ido a África apenas para “roubar ouro, diamantes e escravizar” – não brota do acaso. É fruto de uma narrativa histórica simplificada, enviesada e, sobretudo, perigosa.
Não está em causa a liberdade de opinião ou de protesto. O problema reside na origem e na disseminação desta visão unilateral e moralista da História. A ideia de que África era um paraíso intocado antes da chegada dos europeus, e de que os portugueses inauguraram a violência, a escravidão ou o saque, é profundamente errada — mas, infelizmente, ensinada e difundida por muitos com responsabilidades educativas e culturais. A ignorância não é desculpa quando se transforma em arma.
A velha tradição ocidental, desde os gregos, lembra-nos que o ser humano não nasce bom por natureza. A virtude adquire-se — e educa-se. É precisamente essa a função civilizadora da escola e da cultura: formar o espírito crítico, combater os mitos ideológicos e não substituir a realidade histórica por fábulas sentimentais. Mas nas nossas escolas, demasiadas vezes, inculca-se nos alunos a ideia da inigualável perversidade do “homem branco”, como se este fosse um predador universal e o resto do mundo um inocente Éden.

O ensino da História, tanto cá como em muitas ex-provincias ultramarinas, tem sido colonizado por uma visão marxista ou racialista da realidade, que reduz séculos de interacção, troca, conflito e civilização a uma caricatura de opressores e oprimidos. África, antes dos portugueses, conhecia a guerra, a escravatura e o comércio de pessoas. Negar isso é não só falso, mas desonesto.
Portugal teve, sim, uma presença controversa e imperfeita em África — como qualquer império. Mas foi também um dos poucos que deixou estruturas, escolas, línguas e pontes humanas e culturais. É legítimo criticar o passado. É legítimo exigir justiça. Mas não é legítimo usar uma ignorância grosseira e militante como forma de atacar os portugueses de hoje por actos que não cometeram, ou insultar os seus representantes eleitos num espaço público.
Este tipo de episódios deve servir de alerta. Não só para o risco crescente de tensões identitárias num país que sempre prezou pela convivência, mas sobretudo para a urgência de restaurar um ensino da História baseado em factos, não em ressentimentos.
Se o homem do incidente foi mal ensinado em África, não é culpa nossa. Mas se há jovens em Portugal a pensar o mesmo, aí sim, a responsabilidade é nossa. 
E a factura pode ser alta...

domingo, 20 de julho de 2025

Mariana Leitão (IL) Confesso que gostei!

Uma liderança com clareza e propósito
Mariana Leitão traçou uma linha clara e firme entre o que considera a direita do caos e o liberalismo moderno. Ao afirmar que “o Chega é um novo socialismo à direita” – coletivista, estatista e paternalista – Mariana promoveu uma distinção fundamental: o liberalismo que ela defende protege a liberdade individual sem ceder ao populismo da Direita actual (AD incluída). O seu discurso assertivo dá, ou quer dar, ao eleitorado liberal uma identidade forte e coerente no tabuleiro político atual.
Coragem no discurso e compromisso com reformar
Mariana não se limitou a denunciar, foi além: prometeu um partido “mais ideológico e até radical”, assinalando que a IL deverá ser a “consciência liberal” do sistema político. A coragem de assumir esse compromisso – em contraposição ao imobilismo que critica – reforça o apelo de renovação e ambição que muitos liberais procuram.
Foco nas autarquias como laboratório do liberalismo
Ao afirmar que “nas autarquias se pode provar que uma gestão liberal faz a diferença”, Leitão demonstra visão estratégica e realismo político. Apostar em resultados práticos no terreno, em vez de meras ideias abstractas, é ao mesmo tempo ambicioso e pragmático.
Coerência ideológica sem renunciar a alianças
Mariana Leitão reforçou que, seja em coligações ou sozinha, a IL não diluirá a sua exigência liberal: "a exigência liberal nunca entra em silêncio – entra para mudar". Este equilíbrio entre convicção e realismo político transmite um forte sentido de integridade, sem fechar as portas ao diálogo.

A intervenção de Mariana Leitão foi uma brisa fresca no verão quente do panorama político português: foi clara, combativa e, acima de tudo, coerente com os valores que propõe. Ao erguer barreiras firmes contra populismos de direita (e de esquerda), ao mesmo tempo que reforça o compromisso com reformas concretas e com gestão liberal local, A nova líder da IL transmite sobriedade e ambição.

Destaco-lhe o estilo de quem quer uma política liberal menos comodista, mais radical – no sentido da liberdade – e orientada para resultados reais.
Contudo faltou-lhe a resposta às duas perguntas essenciais de Carlos Guimarães Pinto:
- Porque é difícil haver um partido verdadeiramente liberal em Portugal.
- Se defendem a igualdade de oportunidades, porque é que os liberais falam tão pouco de desigualdade económica?

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Struggling to Stay Afloat: The Portuguese Left’s Metaphorical Drowning in 2025

In Observador, political analysts Rui Ramos and João Marques de Almeida paint a stark metaphorical picture of Portugal’s mainstream left and far-left: both are like swimmers in a pool on the verge of drowning, frantically splashing about in a desperate bid to avoid sinking. This imagery encapsulates their analyses of the Socialist Party (PS) and the radical left parties (PCP and BE), suggesting that both factions are fighting against a tide of political change that threatens to engulf them.
The Socialist Party’s Desperate Tread Water Tactics
Rui Ramos’s analysis of the center-left Partido Socialista (PS) argues that the ruling party is struggling to stay afloat by narrowing the national political debate to one issue: whether the center-right will ally with Chega, a far-right populist party. According to Ramos, the PS harps on the specter of an understanding with Chega as a distraction, an attempt to grab a life preserver amid turbulent waters. This tactic conveniently diverts attention from what Ramos describes as a “grande viragem” (major turnaround) in the country’s mood and the outright failure and rejection of left-wing policies by the public. In essence, rather than addressing the broad discontent with its governance, the PS is flailing by pointing at the far-right – a move likened to a swimmer obsessing over a distant threat instead of confronting their immediate struggle to keep their head above water.
The Radical Left’s Disconnect and Decline
Similarly, João Marques de Almeida’s commentary on the far-left parties – principally the Partido Comunista Português (PCP) and the Bloco de Esquerda (BE) – describes a political camp in danger of going under. He contends that these radical left groups have ceased speaking to the majority of Portuguese people, choosing instead to talk only to their own ideological circle and to focus on “winning” debates in television studios. This insular approach is portrayed as desperate thrashing: the PCP and BE appear more concerned with scoring rhetorical points among themselves than with understanding or addressing the real concerns of ordinary citizens. In Marques de Almeida’s view, the far-left has essentially given up on comprehending the Portuguese electorate, a fatal mistake that leaves them politically adrift and gasping for relevance. Their ideological echo chamber acts like an enclosed pool – safe in appearance, yet cut off from the ocean of voter sentiment where they are steadily losing buoyancy.
A Left on the Brink of Political Drowning
Both analyses converge on a sobering conclusion: Portugal’s left and far-left in 2025 are barely keeping their heads above water. The PS is clinging to the strategy of demonizing a far-right alliance as a last resort to stay afloat, while the radical left flounders by ignoring the public and retreating into insular debates. This shared metaphor of a pool-side near-drowning underscores the academics’ agreement that the left’s traditional tactics and narratives are failing. In academic terms, the metaphor highlights a crisis of political adaptation – a failure to swim with the changing currents of public opinion. By wholeheartedly supporting the assessments of Ramos and Marques de Almeida, we acknowledge that unless the left finds a way to reconnect with voters and address the country’s real “waters” of discontent, it risks sinking beneath the waves of Portugal’s shifting political tides.
Sources: Rui Ramos, Observador (18 Jul. 2025); João Marques de Almeida, Observador (18 Jul. 2025)

A Esquerda Que Se Afoga na Piscina da História

Ao lermos as análises de Rui Ramos e de João Marques de Almeida sobre a actual situação do Partido Socialista e da extrema-esquerda em Portugal, torna-se quase inevitável a metáfora que ambos sugerem — a de uma esquerda desesperada, lançada à água, debatendo-se para não afundar. Mas não porque a maré esteja especialmente forte. Afunda-se porque já não sabe nadar no tempo em que vive.
Rui Ramos, com a sua habitual precisão histórica, retrata o PS como um partido que, tendo perdido o rumo e a ligação ao país real, já só sabe fazer política de sobrevivência — não com ideias, mas com jogos parlamentares. Como um náufrago, tenta agarrar-se a qualquer bóia que encontre: ora ao Livre, ora ao Bloco de Esquerda, ora a uma suposta “defesa da democracia” contra os perigos que projecta no CHEGA. Mas quem observa de fora percebe o desespero: o PS de 2025 já não nada, apenas se debate. E quanto mais se agita, mais se afunda na irrelevância de um passado que não quer largar. Como nota Rui Ramos, se o país estivesse verdadeiramente nas mãos do PS, estaríamos de facto em piores lençóis. 
João Marques de Almeida, por sua vez, foca-se na extrema-esquerda — essa que já nem se lembra de sair da piscina. Insiste em slogans vazios, em causas que não mobilizam mais do que uma minoria ruidosa e urbana, e ignora o essencial: as pessoas comuns deixaram de a ouvir porque deixaram de a compreender. Ou melhor, porque perceberam que ela deixou de as representar. O autor descreve uma esquerda radical que fala sozinha, sem consciência de que a água lhe sobe até ao pescoço, sem perceber que o seu discurso é uma linguagem morta para quem procura segurança, trabalho e dignidade.

Ambas as análises convergem na constatação de que a esquerda portuguesa — tanto a dita moderada como a radical — está prisioneira de um tempo político ultrapassado. Incapaz de renovar ideias, alianças ou lideranças, mergulha cada vez mais fundo no vazio político e moral. Como um nadador que já não sabe qual a margem da piscina, debatem-se, agarram-se uns aos outros, e acabam por arrastar-se mutuamente.
Entretanto, cá fora, o país observa. Muitos já abandonaram as bancadas da velha piscina partidária. Alguns procuram novas margens. Outros, simplesmente, seguem em frente, conscientes de que não vale a pena tentar salvar quem insiste em não querer ser salvo — porque prefere a fidelidade a dogmas caducos à coragem de enfrentar o mundo como ele é.

O afogamento não é apenas uma metáfora do presente. É, cada vez mais, o destino inevitável de quem insiste em nadar contra o sentido da História.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Lucia

 



Teu FALO

Um menhir
Descomunal e intrépido
Teu falo!
Ereto, direto ao “assunto”
Só de pensá-lo me besunto…
Descomunal e ereto
Teu falo!
Sei bem do que falo…

Lucibei@poems
Lúcia Ribeiro
In “ Muita Poesia e Pouca Prosa”

domingo, 13 de julho de 2025

O CHEGA: Muito para além da caricatura de liberais e social-fascistas

O Partido CHEGA veio provocar uma grave perturbação nas cabeças que apenas conseguem pensar em aritmética binária — 0 ou 1, sim ou não — e não concebem a existência de um terceiro dígito, um terceiro vector político, que poderíamos chamar de “nim” ou “talvez”.

Na realidade, o partido de André Ventura veio romper com a estrutura conservadora da alternância a dois, entre PSD e PS, expondo os limites de um sistema político que se tornou viciado na rotatividade e incapaz de responder a exigências de renovação real.
O CHEGA é de Direita Conservadora nas políticas de identidade, mas assume posições socialistas ou social-democratas em muitas matérias económicas. Se aplicarmos o verdadeiro sentido da expressão social-democracia segundo a ciência política — e não o uso adulterado a que estamos habituados — encontraremos no CHEGA muitas propostas que recordam a encíclica "Das Coisas Novas", texto fundador da doutrina social da Igreja.
A emergência do CHEGA representa, pois, não uma simples cópia da direita populista europeia, mas uma originalidade portuguesa com traços distintos. O país percebeu esta novidade e confiou nela, mas os “influencers” e os influenciáveis — em muitos casos profundamente ligados às estruturas montadas após a revolução de Abril — continuam presos à velha grelha de leitura ideológica, onde tudo deve caber entre o bem e o mal, entre fascistas e democratas, entre esquerda “progressista” e direita “reacionária”.
Este novo realinhamento político e cultural está em marcha e, embora a comunicação social tradicional o tente caricaturar, a clarificação está em curso. Aos poucos, vai-se percebendo que o CHEGA força os restantes partidos a posicionarem-se de modo mais honesto: o PS como partido social-democrata da Segunda Internacional; o PSD como partido democrata cristão, hoje perdido entre a nostalgia cavaquista e a hesitação liberal.

Mas vejamos exemplos concretos da componente social do CHEGA, frequentemente ignorada ou deturpada:
- Propõe um salário mínimo superior ao do PS;
- Recomenda um aumento da carga fiscal sobre a banca, algo que aproxima as suas propostas às do BE e do PCP;
- Apresenta uma proposta de aumento de pensões mais ambiciosa do que a dos socialistas, tendo-se mesmo abstido na votação parlamentar para permitir a sua aprovação.
Ou seja, a “direita radical” que muitos se apressam a demonizar apresenta em certas áreas, propostas que estão à esquerda do PS.

Tal como sucede em vários países europeus, também em Portugal a clivagem não é entre “extrema-direita” e “direita moderada”, mas sim entre quem quer manter o regime tal como está e quem quer verdadeiramente mudá-lo — com voz, identidade e autoridade política.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

e a imprensa passou a ser "comunicação social"! Ainda é!

Junho a Setembro de 1975 são os meses da pluralidade de imprensa e a forma como o PCP directamente ou através dos sindicados por si controlados ou outros partidos e movimentos ainda mais radicais, acabou com a liberdade de imprensa. Este será o primeiro de 3 posts dedicados à ocupação da RR, do República e os saneamentos no Diário de Notícias. Foi uma estratégia de controle da informação e tentativa de tomar o poder por parte do PCP, ainda que no processo da RR, tenha sido ultrapassado por forças ainda mais radicais à sua esquerda.
Logo a 18 de Março, Correia Jesuíno, Ministro da Comunicação Social, antigo membro da comissão governativa de Angola, nomeia José Emílio da Silva, também ele um homem de confiança de Rosa Coutinho, militar do PCP, auto-apelidado de progressista e que mais tarde foi Ministro da Educação e Cultura nos IV e V Governos Provisórios de Vasco Gonçalves, talvez os mais terríveis que o País já conheceu.
Já em fevereiro, o “Radio Clube Português” e a maioria dos jornais diários tinham sido nacionalizados. Com a nacionalização da banca e dos seguros em 14 de março de 1975, grande parte dos jornais portugueses, que eram propriedade de bancos, também passaram para o setor público. Isso incluiu "O Século", "Diário Popular", "Jornal do Comércio", "O Comércio do Porto", "Diário de Lisboa", "Diário de Notícias" e o "Jornal de Notícias.
Nesta altura, apenas o “República”, ligado ao PS e o semanário “Expresso”, ambos em Lisboa, e o “Primeiro de Janeiro”, no Porto, e permaneciam privados. A estes vir-se iam a juntar os semanários “O Jornal”, assumidamente de esquerda não comunista e “O Tempo” de centro-direita. Mas nenhum deles tinha ainda a dimensão para ser considerado uma ameaça. Quer “O Diabo” e “O Dia” só apareceriam mais tarde, já depois do 25 de Novembro, tal como “O Diário” propriedade do PCP. Nas rádios, apenas a “Radio Renascença” se mantinha privada, mas nem por isso livre já que era controlada e manietada pelo PCP.
Na RR, segundo algumas fontes, a tensão terá começado logo a seguir ao 25 de Abril, quando alguns trabalhadores, não ficaram satisfeitos com a cobertura dada à chegada a Portugal de Mário Soares e Álvaro Cunhal, vindos de França.
A 19 de fevereiro a comissão de trabalhadores convoca uma greve que contou logo com o apoio do COPCON que enviou uma chaimite a alguns soldados que estacionaram em frente à sede na Rua Capelo. A emissão foi encerrada com a canção "Grândola, Vila Morena", logo após a leitura de um "manifesto ao povo português" onde os trabalhadores afirmavam sua determinação em continuar a luta contra os proprietários da estação.
Contudo, a greve não teve apoio unânime. Os funcionários da Renascença no Porto e os administrativos em Lisboa, acabaram por se distanciar das reivindicações dos grevistas do setor radiofónico. Essa cisão entre os trabalhadores, somada à saída dos sacerdotes que atuavam como garante dos valores cristãos na estação, fez com que a situação rapidamente se transformasse em uma luta ideológica pelo controle da emissora.
Depois de várias greves, vários saneamentos e de inúmeras discussões sobre se o modelo deveria ser autogestão, preferido pela Comissão de trabalhadores ou cogestão entre a Comissão de trabalhadores e o Patriarcado, que era o proprietário. Desde Março que o MFA tinha nomeado uma comissão mista para gerir a RR cujo objectivo era assegurar o cumprimento de uma orientação ideológica, compatível com a revolução socialista sem preocupações com a orientação católica da emissora.
Às 19h do dia 27 de Maio de 1975, 19 trabalhadores ocupam as instalações da RR, na Rua Capelo e na Buraca, com medo de que o governo devolvesse a gestão ao seu dono – o Patriarcado. Os restantes 80 trabalhadores que se recusam a apoiar o gesto, são saneados, expulsos das instalações e impedidos de entrar. A partir dai a emissora, perde a designação de Emissora Católica Portuguesa e apenas utilizando os emissores do sul e o estúdio de Lisboa, foca-se no apoio aos ideais revolucionários e da luta de classes. Os emissores do Norte e Centro, cuja ligação aos estúdios de Lisboa tinha sido cortada por funcionários afectos ao Patriarcado, esses, continuam a emissão normal gerida através do Porto, mantendo o espírito e programação da Emissora Católica Portuguesa. Esses funcionários viriam a ser presos pelo COPCON com uma acusação estapafúrdia de terem participado no 11 de Março.
Os noticiários da RR sulista e revolucionária eram agora centrados nas actividades do COPCON e no Otelo. É alias aos microfones desta emissora, que o mais tarde fundador das FP25 afirma: "Eu, às vezes, chego a pensar que a nossa inexperiência revolucionária, enfim, teria sido melhor se, em 25 de Abril de 1974 encostássemos à parede ou mandássemos para o Campo Pequeno umas centenas ou uns milhares de contra-revolucionários, eliminando-os à nascença. Tenho a impressão de que neste momento a contra-revolução já não existia, pelo menos por medo. Nós quisemos fazer uma revolução humanista, uma revolução de cravos, uma revolução muito bonita, e estamos agora com um esforço tremendo para a conseguir levar a cabo." 
A 18 de junho, os partidos de extrema-esquerda que lideravam a ocupação convocam uma manifestação em frente ao Patriarcado, no Campo de Santana em apoio e solidariedade aos trabalhadores ocupadores. A UDP, o MES, a OCMLP, o PRP-BR, LUAR, a FSP e uma organização chamada Cristão pelo Socialismo (CPS). Esta última era mais uma bizarria nacional, inspirada no modelo Chileno nascido com Allende e liderada, por Luis e Conceição Moita também membros das Brigadas Revolucionárias, afirmavam que "...não é a fé em Jesus Cristo que pode separar o trabalhador cristão dos seus irmãos e companheiros no esmagamento e na exploração, já que o Evangelho convergente com a prática política de construir uma sociedade sem classes...". Sobre eles até D. António Ferreira Gomes dizia serem um grupo fora da Igreja. Como em quase todas as tentativas de controle de poder, o PCP não participava, para que se corresse mal não poder ser acusado de afrontar a Igreja Católica. Mas suficientemente próximo, através de alguns elementos do MDP/CDE para saltar para a liderança no caso de vitória. Como seria de esperar PS, PSD, CDS e PDC manifestam-se publicamente em apoio ao Patriarcado e à Igreja.
A esta manifestação, segue-se outra contramanifestação, convocada pelos padres nas suas paroquias e resulta em confrontos com mais de 38 feridos e mais de 1000 pessoas que tiveram de se refugiar dentro do Patriarcado. D. António Ribeiro, Cardeal-Patriarca de Lisboa que, liderou a evacuação, negociando extensivamente com o COPCON para que os católicos pudessem ser retirados em veículos cobertos, sem que fossem previamente identificados pelas forças militares. Curiosamente D. António Ribeiro, talvez imbuído do espírito de perdão, viria mais tarde a defender uma amnistia para Otelo Saraiva de Carvalho quando da sua prisão por liderar as FP25, mesmo que nunca se tenha preocupado com a dor e sofrimento das suas vítimas. Já antes o tinha feito quando demonstrou grande preocupação com a greve da fome dos membros do PRP-BR detidos, Isabel do Carmo e Carlos Antunes.
Como consequência da manifestação, o governo termina com a comissão de gestão conjunta, mas nem assim consegue acabar com a desocupação da RR sulista e revolucionária.
Entretanto de Roma vêm noticias que o Papa reza por Portugal " reza ao Altissimo para que a solidariedade fraterna possa encontrar uma solução rápida e justa para os problemas que se deparam à Igreja Católica em Portugal".
A 2 de Julho, o governo comunista decide entregar a RR de volta ao Patriarcado, no entanto a comissão de trabalhadores rejeita a decisão e diz colocar nas mãos da classe operária a decisão final. Em contradição, o Conselho da Revolução nomeia uma comissão administrativa até "nacionalização das frequências de radio e das empresas emissoras". A ocupação contínua na Rádio Renascença o que gerou grande desconforto nos sucessivos governos provisórios de Vasco Gonçalves. Mas em 19 de Setembro, Pinheiro de Azevedo é nomeado Primeiro Ministro de um governo onde apenas um dos ministros era assumidamente comunista. Ainda assim, a 30 de Setembro, o governo era incapaz de desocupar os estúdios devido à desobediência do COPCON, e por isso ordenou a destruição do emissor da Buraca através da colocação de uma bomba que o destruiu. Diante da dificuldade em manter forças militares no local, os emissores foram selados em 15 de Outubro. Contudo, a incapacidade de fazer cumprir as ordens levou o Conselho de Ministros e o Conselho da Revolução a uma reunião em 6 de novembro, onde decidiram por uma medida extrema para silenciar a estação: a colocação de explosivos nos emissores da Buraca, que ocorreu no dia seguinte. Foram precisas 2 bombas e 60 tropas paraquedistas. Este bombardeamento dos emissores resultou na desocupação posterior dos estúdios de Lisboa, pondo fim ao caso da Rádio Renascença. No entanto, esta só viria a ser entregue ao Patriarcado en Dezembro de 1976. Desde essa altura voltou a existir apenas uma RR - a Emissora Católica Portuguesa.
Durante mais de 15 anos a RR foi a única radio privada em Portugal, num panorama onde todas as emissoras eram controladas pelo estado. Mais que o António Sala e a Olga Cardoso, “A Vida Também Se Diz” do Padre Dâmaso ou a Bola Branca (2º edição), a RR foi um farol de qualidade e liberdade de informação, sem manipulações ou interferências governativas. Isso foi a obra de todos, mas o esforço de um homem – Magalhães Crespo que geriu a emissora na crise de 1975 com enorme coragem e sensatez e a recuperou e levou à liderança nacional nos anos seguintes. 
 

“A Geração Traída: Porque é que os Jovens estão a virar-se para a Direita Radical”

(coisas que na CNN PT não perceberam e nisso estão acompanhados pela maioria de comentadores e comentatrizes !)
Ruptura?
Um novo eleitorado está a nascer — e a velha política continua sem saber como lidar com ele. Jovens adultos por toda a Europa, sobretudo entre os 18 e os 30 anos, estão a virar as costas aos partidos tradicionais e a escolher forças políticas que os media classificam de "extrema-direita". Portugal não é excepção: o crescimento do CHEGA entre os jovens já é visível, sustentado e duradouro. Mas porquê?
Ruptura não  é Nostalgia
Não se trata, como alguns dizem com desdém, de jovens mal-informados que “não sabem o que foi o fascismo”. Trata-se, isso sim, de uma geração que nunca conheceu um país em crescimento, nunca teve estabilidade, e não encontra nos partidos do regime (PS, PSD, CDU, CDS, BE ou Livre) qualquer resposta real às suas necessidades.
Não, eles não querem “voltar ao passado”. Querem simplesmente um futuro com identidade, segurança e dignidade — e são precisamente os partidos acusados de "radicais" que lhes prometem isso.
A precariedade laboral, os baixos salários e a impossibilidade de sair de casa dos pais até depois dos 30 anos são realidades comuns. Muitos jovens não conhecem o que é ter uma vida independente e estável. E quando tentam, pagam 60% do salário por um quarto partilhado ou um T1 degradado.
Ao contrário do que pensa a esquerda urbana, esta geração não está apenas preocupada com o clima ou com a linguagem inclusiva. Está preocupada com a sobrevivência.
A esquerda falhou com esta geração. Prometeu progresso, mas entregou salários baixos, degradação urbana, insegurança, imigração descontrolada e uma cultura moralista que censura quem se queixa. Para muitos jovens isto são tretas da esquerda ou, pior, da extrema-esquerda:
- O feminismo deixou de ser igualdade e tornou-se perseguição.
- A multiculturalidade deixou de ser convivência e passou a ser perda de coesão.
- A luta antirracista transformou-se em acusação permanente.
- A política woke tornou-se uma nova forma de opressão cultural e censura quotidiana.
E, em simultâneo,  a direita tradicional (PSD e CDS) abdicou de fazer oposição ideológica à esquerda. Limitou-se a gerir o mesmo modelo com menos impostos. Recusou confrontar os dogmas da imigração, da ideologia de género, da dependência do Estado ou da degradação dos serviços públicos.
Os jovens que querem respostas claras, não tecnocracias cinzentas!  
ditar o fim da imprensa tradicional?
Esta geração europeia não se informa pelos jornais do regime. Vive entre podcasts, redes sociais, vídeos curtos, e até canais internacionais. Desconfia da imprensa tradicional e, por isso, ouve outras vozes — algumas radicais, outras apenas dissidentes.
A censura e o rótulo fácil (“fascistas”, “racistas”, “extrema-direita”) já não colam. Pelo contrário: funcionam como um selo de autenticidade.
O caso português repete o padrão europeu:
- França: a juventude vota em massa em Marine Le Pen.
- Alemanha: o AfD conquista cada vez mais os jovens homens.
- Espanha: o VOX cresce nas faixas mais jovens e em 
Portugal: o CHEGA já é, em muitos concelhos, o partido com mais apoio entre os jovens entre os 18 e os 34 anos.
a geração traída está a reagir
Esta geração foi ensinada a acreditar que o progresso viria pela inclusão, pela igualdade, pelas “narrativas positivas”. Mas a realidade bateu com mais força: insegurança, desigualdade intergeracional, perda de identidade, colapso do mérito.
A chamada "extrema-direita" cresce entre os jovens porque é a única que parece reconhecer esta frustração e dar-lhe voz.
A velha política não percebe, ou não quer perceber: não estamos perante jovens extremistas, mas sim perante uma juventude que se sente traída. E que, por isso, procura alternativas reais.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

A Imprensa Portuguesa Já Não Informa. Formata.

Vivemos hoje em Portugal num ambiente mediático em tudo contrário ao espírito democrático que tanto se invoca. A Imprensa, que devia ser livre, plural e ao serviço da cidadania, transformou-se num braço armado do regime — ou melhor, do “centrão”, esse eixo que une o PS e o PSD e que tanto condiciona a realidade política quanto a forma como esta nos é apresentada.

Os órgãos de comunicação social deixaram de ser órgãos de informação. Tornaram-se empresas de comunicação, com objectivos claros: defender os interesses ideológicos e económicos dos seus donos e accionistas, na maioria próximos dos partidos dominantes do regime.
A sua missão original — informar objectivamente, apresentar os factos tal como ocorreram, e dar voz à pluralidade de opiniões existentes numa sociedade democrática — foi substituída por outra: a de manipular, formatar e alinhar mentalidades. E fazem-no com a subtileza de quem finge neutralidade.
Basta ver como se tratam os que não alinham com a narrativa dominante: ridicularizados, interrompidos, ignorados ou silenciados. Quando uma figura da Direita é convidada a falar, não é para ser ouvida — é para ser atacada. Perguntas capciosas, insinuações, interrupções sistemáticas... já todos vimos este guião demasiadas vezes.
No Reino Unido, nos EUA, em França ou em Espanha, os jornais e televisões assumem as
suas cores: conservadores, liberais, socialistas, trabalhistas. Em Portugal, reina o fingimento. Fingem independência. Fingem pluralismo. Fingem objectividade. Mas a verdade é uma só: vivemos num simulacro de democracia, onde o espaço público é cativo de uma minoria ideológica que domina os estúdios e as redações.
É por isso que, como escreve Miguel Mattos Chaves, não temos órgãos de informação — temos órgãos de manipulação. E é por isso que a mudança, se vier, virá do voto e da indignação consciente de quem se recusa a ser manipulado.

A escolha é simples: continuar a viver numa democracia de plástico, onde só alguns têm voz, ou reclamar de volta o espaço público, onde todos possam ser ouvidos com respeito. A democracia verdadeira começa pela liberdade de pensamento — e essa, hoje, está amordaçada nos nossos media.
(José Costa-Deitado, a partir de Miguel Mattos Chaves)

Ursula von der Leyen, a Moção de Censura e a Posição dos Partidos Portugueses

Na próxima quinta-feira, 11 de Julho, o Parlamento Europeu votará uma moção de censura contra Ursula von der Leyen, apresentada por eurodeputados nacionalistas, sobretudo das direitas romena (AUR), alemã (AfD) e polaca (PiS). Embora se saiba de antemão que a presidente da Comissão Europeia irá sobreviver politicamente, esta votação marca uma clara linha de fractura entre os blocos centristas, ainda dominantes, e os crescentes sectores radicais à esquerda e à direita.
O debate é mais simbólico do que prático, mas não deixa de revelar tensões que atravessam o novo Parlamento — incluindo os partidos portugueses. A seguir, a distribuição das posições segundo os grupos políticos europeus e as respectivas forças nacionais.
Contra a moção em apoio a von der Leyen
EPP – Partido Popular Europeu
Aliança Democrática (PSD, CDS-PP)
Votam contra, num apoio firme à presidente da Comissão, que foi eleita com os votos deste grupo. O EPP considera esta moção um “ataque oportunista da extrema-direita”.
S&D – Socialistas & Democratas
Partido Socialista (PS)
Votam contra, mas criticam a falta de ambição ambiental e o alegado conluio do EPP com a extrema-direita em certos dossiês. Condenam os ataques à legitimidade democrática da Comissão.
Renew Europe – Liberais Centristas
Iniciativa Liberal (IL)
Votam contra, mas exigem mais transparência institucional e ética nas decisões — nomeadamente nos contratos das vacinas e no financiamento europeu.
Verdes / EFA
Livre
Não têm eurodeputado formal, mas estão alinhados com o grupo. Defendem von der Leyen contra os eurocéticos, mesmo mantendo críticas ambientais.
A favor da moção contra von der Leyen
GUE/NGL – Esquerda Unitária Europeia
Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP)
Votam a favor, acusando a Comissão de neoliberalismo, falta de solidariedade e submissão ao eixo EUA–NATO. Contestam também a resposta europeia à pandemia.
ECR / ID – Conservadores, Nacionalistas e Direita Radical
Chega (sem grupo oficial, mas com afinidade ideológica)
O Chega apoia a moção, alinhado com o AUR e o AfD, sob críticas à política de imigração, à centralização da UE e ao globalismo. Apesar de ainda não estar integrado formalmente, tenta uma aproximação ao grupo ECR
.
A moção de censura não deverá passar — os grupos centristas (EPP, S&D, Renew, Verdes) continuarão a garantir a sobrevivência de von der Leyen. No entanto, o crescente peso político das margens (tanto da extrema-direita como da extrema-esquerda) tornou-se visível nesta batalha parlamentar. Também os partidos portugueses reproduzem, quase sem excepções, esta divisão ideológica europeia.
A sobrevivência institucional está assegurada. Mas a pressão política não cessará — e o equilíbrio europeu dependerá, cada vez mais, da arte de compor maiorias instáveis.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Uma lição de Democracia por Santana Lopes

 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Maria


 

O Velho Partido que Já Ninguém Quer Liderar

Durante décadas, o Partido Socialista Francês (PSF) foi o rosto do poder na França republicana. De François Mitterrand a Lionel Jospin, o PSF encarnou o ideal social-democrata europeu, reformista e institucional. Mas hoje, o partido não passa de uma sombra do que foi. Reduzido a um papel secundário, vive entre a nostalgia do passado e a ambição de se reinventar. A questão impõe-se: estamos a assistir ao restauro do PSF ou ao seu funeral político?
uma geringonça chamado NUPES 
A aliança com a extrema-esquerda, a NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social), formada liderada por Jean-Luc Mélenchon, foi o ponto de viragem – ou melhor, de ruptura – para o PSF. Ao aceitar submeter-se à liderança da France Insoumise (LFI), o PSF abdicou da sua matriz europeísta e reformista, trocando-a por slogans revolucionários, posições antiocidentais e ecos marxistas reciclados.
A curto prazo, a NUPES permitiu eleger alguns deputados. A médio prazo, comprometeu a identidade do PSF e agravou as divisões internas. A longo prazo, revelou-se um suicídio estratégico.
Tentativas de reinvenção
Hoje, o PSF tenta sacudir a poeira ideológica da NUPES e apresentar-se como alternativa de centro-esquerda moderada, num espaço deixado vazio pelo colapso do macronismo. Apostou em Raphaël Glucksmann, cabeça de lista às Europeias de 2024, que obteve um resultado surpreendente ao recuperar parte do eleitorado social-democrata, urbano e educado.
Com este sinal de esperança, os socialistas ensaiam uma “segunda vida” política, sem radicalismos, mas também sem brilho. Recusam agora novas alianças submissas com a LFI, mas não conseguem ainda propor um projecto mobilizador e claro. Falta ambição, falta estrutura, falta narrativa.
Restauro ou morte?
Se conseguir consolidar um discurso próprio, realista e moderno, o PSF poderá regressar como força relevante no espaço progressista europeu. Mas o mais provável, a julgar pelas dinâmicas actuais, é que permaneça como um partido residual, útil apenas como força auxiliar em coligações ou como referência simbólica do passado.
A esquerda francesa está dominada pelos extremos. E o PSF parece, por ora, condenado a não liderar nem inspirar. Apenas a resistir. Por quanto tempo?

domingo, 6 de julho de 2025

Viagens ao Submundo da Extrema-Direita e… da Extrema-Esquerda

Vivemos num tempo em que as palavras perderam o peso e os rótulos se colam ao sabor da conveniência política. Fala-se muito da extrema-direita — com alarme, censura e estigmatização. Da extrema-esquerda, fala-se menos — ou com complacência, indulgência ou até simpatia. Mas a verdadeira viagem, a que interessa fazer com olhos abertos, é ao submundo de ambas.
O que encontramos, olhando para dentro de cada uma? Diferenças, sim. Mas acima de tudo: simetrias
Ambas operam por dicotomias absolutas: o bem e o mal, o puro e o corrupto, o oprimido e o opressor. Uma fala contra o “capitalismo e o patriarcado”, a outra contra “globalismos e imigracionismos”. Mas ambas querem o mesmo: 
destruir o centro, o equilíbrio, o espaço de liberdade.
A extrema-esquerda gramsciana pesca nos bairros e nas universidades. A extrema-direita, mais tecnológica nas redes socias, e nas periferias urbanos. 
Ambas oferecem o mesmo: pertença, identidade, uma explicação total do mundo — e um inimigo a abater. 
Cada lado tem os seus mártires e os seus slogans.
Liberdade Liberal? Querem substituí-la. 
A extrema-esquerda sonha com assembleias populares. A extrema-direita com a autoridade forte. 
Ambas desprezam os freios da democracia representativa, a liberdade de expressão para o adversário, o pluralismo, a dúvida, a moderação.

...e quanto à "Violência Justificada"? Ambas a justificam se esta for em nome da “causa”. 
A extrema-esquerda fala em “resistência” para encobrir vandalismo. A extrema-direita diz “autodefesa”. 
E ambas têm - mais aquela, menos esta- "imprensa amiga" pronta a relativizar, desde que escorra do lado certo. 
.
Ambas se alimentam de redes internacionais, grupos de pressão e activismo estratégico. A extrema-esquerda infiltra universidades, meios culturais e ONGs. A extrema-direita vive mais  em plataformas paralelas, fóruns crípticos e estruturas informais. 
As duas extremas vivem de mitologias. De utopias passadas ou futuras, Cuba e o Che, reconquista ou os impérios perdidos. Ficções com função terapêutica: evitar encarar o presente e culpar terceiros pelo fracasso de tudo.
mas
A liberdade não vive em nenhuma das margens. Vive ao centro. Não no centrismo mole, mas na firmeza que recusa ambos os extremos com igual desdém.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

.

Maria da Nazaré
1946 -2025

A Esquerda Ibérica que já não foge do barco a afundar-se!

As esquerdas estão a cair. Não é apenas uma impressão ou um fenómeno passageiro: é uma realidade política consolidada, quer em Portugal, quer em Espanha, quer no resto da Europa. E a sua queda é, ao mesmo tempo, evidente e inevitável. Porque deixou de haver esquerda. Ou melhor: o que se chama hoje “esquerda” não é senão uma caricatura de si mesma — uma burocracia cultural instalada no Estado, um moralismo sem povo, uma elite dependente do poder que já não sabe o que é viver fora dele.

Como recorda Rui Ramos no Observador, a esquerda nasceu no século XIX como contra-poder: era o movimento dos que estavam fora e contra os que mandavam, dos explorados contra os exploradores, dos marginalizados contra os poderosos. Era, nesse sentido, revolucionária. Mas, passada mais de uma centena de anos, algo se inverteu: hoje, as esquerdas estão no topo da máquina estatal, nas universidades, nas redacções dos jornais, nas direcções dos sindicatos, nos conselhos de administração das fundações com dinheiros públicos. Tornaram-se a nova aristocracia — sem nobreza, mas com muitos privilégios.
Em Portugal, o colapso começou antes. O PS perdeu a alma e os votos. A Geringonça foi a última tentativa de simular alguma forma de esquerda popular. O que ficou depois foi uma colecção de chavões ideológicos, políticas identitárias, e um sectarismo moral que afastou os eleitores reais. O povo fartou-se da “moral woke”, da corrupção sistémica e do desprezo pelas preocupações quotidianas: insegurança, imigração descontrolada, falta de autoridade nas escolas, injustiça fiscal. A nova oposição já não é apenas à direita — é contra todo um regime de esquerda instalado que se julga dono da democracia e da história.
Em Espanha, o processo está em curso. Pedro Sánchez, o grande ilusionista da política
ibérica, sobrevive à custa de alianças com o separatismo, com o extremismo e com o oportunismo. Governa contra o país real. Mas a maré também lá virou. As eleições europeias e regionais revelam o que já não se pode esconder: o eleitorado tradicional da esquerda está em dissolução. Tal como em Portugal, os mais pobres já não votam na esquerda porque a esquerda já não fala por eles. Fala, sim, por minorias activistas, por agendas internacionais, por ONGs bem financiadas e por burocratas bem colocados em Bruxelas. E os mais velhos, esses, começam a lembrar-se de quando havia ordem e alguma decência no governo.
Na Europa, o fenómeno repete-se com variantes locais: na Alemanha, os sociais-democratas desapareceram atrás dos Verdes, e os Verdes afundam-se com a sua impopularidade. Em França, o PS é hoje um partido residual. Nos Países Baixos, o populismo conservador ganha fôlego. Na Itália, a esquerda já nem esconde que perdeu. A nova divisão política já não é entre esquerda e direita, mas entre o povo e os que fingem representá-lo.
A esquerda perdeu o instinto de sobrevivência. Não tem capacidade para se adaptar. Já não foge do barco a afundar-se, porque já não reconhece que está a afundar-se. Prefere insultar quem salta para terra firme do que reconhecer os erros que a levaram até ao naufrágio.
Conclui-se, com ironia amarga, que “a esquerda já não precisa da direita para se afundar”. E tem razão. As esquerdas cavaram a própria sepultura ao confundirem moralismo com política, doutrinação com governo, e activismo com acção concreta. Esqueceram o povo, e o povo não esqueceu.
Em Portugal, o 18 de Maio foi um murro na mesa. Em Espanha, virá outro momento assim. E na Europa, os ventos sopram cada vez mais fortes contra um regime político que, com a máscara da democracia, impôs décadas de conformismo ideológico e incompetência social.

A esquerda morreu porque deixou de ser contra o poder. Tornou-se o próprio poder. E o poder, quando se serve a si mesmo, apodrece.

Choramos onde somos feridos.

Diogo Jota e o irmão não eram apenas dois rapazes. Eram todos os filhos.

“Há manhãs onde o mundo em que acordamos não faz sentido. Manhãs em que percebemos, de repente, que a vida não se cumpre no tempo certo. Como um jogador que corre isolado para a baliza e, já a festejar o golo, é abalroado por trás. Sem hipótese. Sem aviso.”

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Nacionalidade: Direito, Privilégio ou Fraude Legal?

Portugal não é um hotel onde qualquer um entra com reserva online. É uma pátria com memória, fronteiras e cultura própria. A nacionalidade portuguesa deve voltar a ser um privilégio para quem a merece, e não uma arma ideológica usada por quem despreza a nossa identidade.

A nacionalidade é, por definição, o vínculo jurídico que liga um indivíduo a uma comunidade política soberana. Mas é muito mais do que isso: é pertença, identidade, continuidade histórica. É, no fundo, uma forma de herança colectiva, que pressupõe raízes, cultura comum, e não apenas um número fiscal e um endereço registado num balcão de atendimento automático.
Nos últimos anos, em nome de uma ideologia jurídica “inclusiva” — ou mais directamente, em nome de um oportunismo político e eleitoral — Portugal tem vindo a degradar a noção de nacionalidade até à sua quase inutilidade simbólica.
Nacionalidade “automática”: a diluição da soberania
Sob a pressão de interesses partidários e de lóbis organizados, os sucessivos governos abriram a porta a um sistema de aquisição de nacionalidade por via automática, sem exigência de ligação efectiva ao país, bastando cumprir prazos legais, mesmo que sem qualquer integração linguística, cultural ou até de presença real em território nacional.
Como escreve Nuno Gonçalo Poças, a legislação portuguesa está hoje entre as mais permissivas da Europa. E esse facilitismo gera uma inversão lógica: já não é o estrangeiro que deve provar ligação a Portugal — é o Estado que deve justificar por que razão não lhe entrega a nacionalidade!
O caso mais gritante é o da nacionalidade atribuída a descendentes de judeus sefarditas, onde bastava uma certidão de uma comunidade israelita e uma genealogia com três ou quatro nomes ibéricos para obter passaporte português sem nunca pôr os pés no país. Resultado: milhares de estrangeiros, sobretudo oriundos de Israel, Rússia e Brasil, passaram a ter cidadania europeia sem qualquer ligação cultural ou comunitária a Portugal. Uma fraude legal com cobertura institucional.
A nacionalidade não é um brinde
Jaime Nogueira Pinto tem sido claro ao longo das décadas: a nacionalidade não pode ser vista como um direito humano universal. É um laço que exige reciprocidade: quem a recebe deve querer ser português — e provar que o merece.
Mas em Portugal, inverteu-se esta ordem. A nacionalidade tornou-se um brinde administrativo, usado para "compensar" minorias, agradar a lóbis religiosos ou ganhar influência geopolítica entre comunidades de emigrantes.
Ao mesmo tempo, a nacionalidade continua a ser recusada ou adiada a luso-descendentes reais, que, por exemplo, vivem em Timor, Goa ou em África, e que partilham cultura, religião, língua e História com Portugal. Esses, por não entrarem no “formato” das minorias promovidas, não são prioritários.
Nacionalidade é continuidade histórica — não engenharia social
João Pedro Marques tem apontado com acerto os perigos do apagamento histórico e da substituição identitária. A nacionalidade não pode ser usada como instrumento de engenharia social multicultural, promovido por uma elite que despreza a História e vê o país como uma folha em branco onde se podem desenhar novas comunidades “sem passado”.
A nacionalidade portuguesa é o culminar de séculos de construção civilizacional, não um número no passaporte europeu. Não se pode dar nacionalidade a alguém que não fala português, não conhece Camões, não sabe o que foi a Restauração ou as Descobertas, e que, em alguns casos, vive em comunidades fechadas, com códigos religiosos e culturais próprios que chocam com os valores ocidentais.
Um novo modelo: rigor, selecção e afinidade cultural
É urgente restaurar o valor da nacionalidade. Para isso, proponho:
-Revisão profunda da Lei da Nacionalidade, pondo fim às atribuições automáticas;
-Exigência de prova efectiva de integração cultural e linguística;
-Priorização da nacionalidade para luso-descendentes de países com laços históricos e culturais comprovados (PALOP, Goa, Timor, Brasil tradicional);
-Rejeição liminar da nacionalidade para indivíduos com histórico de separatismo cultural, radicalismo religioso ou criminalidade associada à imigração abusiva;
-Suspensão dos programas de nacionalidade por investimento (golden visa cultural disfarçado).

Portugal não é um hotel onde qualquer um entra com reserva online. É uma pátria com memória, fronteiras e cultura própria. A nacionalidade portuguesa deve voltar a ser um privilégio para quem a merece, e não uma arma ideológica usada por quem despreza a nossa identidade.