segunda-feira, 28 de novembro de 2016

terramoto turismo

A 1 de Novembro de 1755 um terramoto destruiu a cidade de Lisboa.
As suas ruínas legitimaram o despotismo esclarecido.
Lisboa hoje treme novamente, abalada por um sismo turístico que transforma a cidade a velocidade de cruzeiro. O seu impacto desloca o morador do centro da cidade.
Que novos absolutismos encontrarão aqui o seu álibi?




TERRAMOTOURISM | O Documentario from Left Hand Rotation on Vimeo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

para que não se deixe branquear a História

Na recordação do 25 de Novembro, que há de mais impressionante é o modo como tanta gente se acovarda hoje. Até o Parlamento e os grupos parlamentares recusaram recordar formalmente esta data, porque entenderam que a data "dividia" os Portugueses! Ora, a data é imprescindível para a democracia. Tanto quanto o 25 de Abril. (António Barreto)
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"entre as datas com significado, o 25 de Novembro de 1975 é uma das que mais rapidamente alguns querem apagar". Ora, "estas duas datas históricas – 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975 – não podem ser observadas e avaliadas separadamente"». (Diário Digital)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

a nova aristocracia e os “sans dents”

tal como os "deploráveis" da Clinton ...os "sans dents" do Hollande são aqueles que raramente se vêem, menos vezes ainda são entrevistados mas acabam a fazer Marine Le Pen subir nas sondagens. E podem fazer dela presidente da França – aquela mania do “pela primeira vez uma mulher” também se aplica neste caso? – caso se mantenha esta espécie de síndroma de alienação da realidade que atravessa presentemente o discurso de jornalistas, comentadores e analistas.
Por exemplo, quantas notícias lemos sobre as agressões acontecidas em Outubro deste ano em Viry-Châtillon? 
Tal como pouco ou nada ouvimos sobre as manifestações de polícias em protesto contra com o calvário judicial que em França aguarda os agentes que recorrem às armas já nem tanto para defender as populações mas apenas a si mesmos.
E o que soubemos sobre o surto de agressões extremamente violentas a professores e funcionários em vários liceus franceses, isto apenas em Outubro deste ano? Não faltam cocktails Molotov, rostos tapados, maxilares partidos (de professores ou funcionários, naturalmente), instalações destruídas… 
Igual vazio imperou sobre Calais: durante três anos, Calais, com pouco mais de 75 mil habitantes, viu chegar milhares de imigrantes que, na impossibilidade de passarem para o Reino Unido, por ali ficaram amontoados, com os problemas inerentes a uma concentração anárquica de homens jovens, desligados das suas famílias e sem ocupação. Escrevia-se sobre as más condições desses acampamentos. Denunciava-se a falta de apoios para esses homens a quem não tardou se passou a chamar refugiados. Criticavam-se as autoridades (francesas e inglesas, claro, porque as dos países desses homens não existem para efeitos de responsabilidade) por nada fazerem. A Calais chegavam autocarros com manifestantes que faziam declarações repletas de referências a leis, tratados e convenções sobre os direitos dos migrantes.
No fim do dia os manifestantes entravam de novo nos autocarros, regressavam às suas universidades e associações [mas]
Os habitantes de Calais esses ficavam com as suas casas e bens desvalorizados, sem as receitas do turismo e a ver os investimentos fugir da zona. ...
Sigo regularmente a imprensa francesa e casos destes são quotidianos. Há dias em que me interrogo se já ninguém sabe francês, se é má fé, preconceito ou simplesmente ignorância. Porque algo terá de explicar esta fuga da realidade cujo momento épico acontece quando, perante os resultados eleitorais naquele país, começam com os transes da indignação e os exorcismos do racismo e da xenofobia para explicar o voto na Frente Nacional.
O que tem distinguido a Frente Nacional não são as sua soluções para os problemas mas sim o falar dos problemas.
Porque os problemas, existem embora mal se vejam dos bairros privilegiados em que se movem políticos, jornalistas, universitários, tecnocratas… Ou seja.

domingo, 13 de novembro de 2016

Lições da América (por António Barreto)

As esquerdas em geral, incluindo artistas, intelectuais, jornalistas, liberais americanos e progressistas europeus, não suportam não ter percebido nem ter previsto o que aconteceu. Como não admitem que são, tantas vezes, responsáveis pelas derivas políticas dos seus países.
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o problema não é o de qualificar Trump nem de sublinhar a sua incultura e a sua falta de sofisticação.
O problema consiste em saber por que razão foi eleito. Contra a opinião sondada e publicada,
este senhor foi escolhido por 60 milhões de americanos que, creio, não são todos racistas, machistas, bandidos, milionários, fascistas e corruptos.
E, se fossem, a questão era ainda mais difícil: como é possível que houvesse tantos assim?
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O problema é o de saber por que razão os pobres, os desempregados e os marginalizados não votaram em quem deveriam votar, isto é, em quem pensa que a solidariedade, a segurança social, o emprego e a igualdade são exclusivos dos democratas e das esquerdas.
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As esquerdas (nas suas versões americana e europeia) apresentam-se cada vez mais como uma soma de sindicatos e de clientelas: mulheres, negros, operários da indústria, desempregados, pensionistas, homossexuais, artistas, intelectuais, imigrantes, latinos ou muçulmanos. Todas as minorias imagináveis, incluindo as mulheres que o não são. Às vezes, resulta. Mas acaba sempre por não resultar. ...
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Acima de tudo, a arrogância e a superioridade moral, cultural e política das esquerdas têm destes resultados:
afastam-nas do povo e favorecem os inimigos da democracia...

(por António Barreto em Lições da America)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Acordámos num mundo que não conhecemos...

Aconteceu. Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. Era impensável que tivesse ganho as primárias do partido republicano – mas ganhou-as e todos culparam a divisão dos adversários. Era ainda mais impensável que ganhasse a corrida à Casa Branca, e ganhou-a. E agora não há bodes expiatórios: a adversária era a mais preparada candidata que os democratas podiam escolher, teve todos com ela – incluindo Barack e Michele Obama –, dispunha da mais poderosa máquina eleitoral e tinha mais dinheiro.
Mesmo assim, aconteceu.
E agora que aconteceu não vale a pena prever o apocalipse. Porque não vai acontecer. (in Acordámos num mundo que não conhecemos por José Manuel Fernandes)
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Trump ganhou, e a história, tal como aconteceu após o Brexit, ainda não acabou.
Perdeu Hillary Clinton, uma candidata apoiada por quase todo o establishment, pelo presidente, pela máquina partidária com mais dinheiro desta campanha, pelo poder financeiro, pelo poder mediático, pelo poder universitário, pelo poder de Hollywood. 
Perdeu Barack Obama, que depois de prometer unidade e consenso, optou por uma presidência divisiva e autoritária, abusando das “ordens executivas” para impor a sua vontade, o que agora coloca a maior parte do seu património governativo à mercê de reversões simples. 
Perdeu a estratégia dos democratas de manipular as minorias étnicas, sobretudo os latinos, para fazer com elas um bloco eleitoral definido pelas identidades, e não pelas opções e valores. 
Perdeu o conservadorismo clássico, que cedeu o seu lugar, enquanto inspiração doutrinária do Partido Republicano, a um movimento capaz de levantar milhões de pessoas contra a elite privilegiada do “politicamente correcto” e contra a visão do mundo que resumimos com o rótulo de “globalização”. Chamamos-lhe “populismo”, porque não sabemos bem o que chamar a algo que não encaixa nas divisões tradicionais entre esquerda e direita. Trump está nitidamente para além dessa dicotomia. (in Sabemos quem perdeu, não quem ganhou por Rui Ramos)
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A armadilha seria cair na tentação de culpar os eleitores americanos por “terem votado mal” – como se a democracia não fosse, precisamente, dar voz ao povo e houvesse votos “certos” e votos “errados”. Ou cair no erro de acreditar no simplismo de que Trump foi eleito porrednecks primários, racistas e pouco instruídos – o que os resultados desmentem.
Segundo, é fundamental não esquecer que a democracia não se mede pela forma como se ganha, mas sim pela forma graciosa como se perde. Ou seja, por mais que não se goste dele, há que reconhecer a legitimidade de Trump para liderar os EUA. Isto não é um detalhe e não é por acaso que o momento alto das noites eleitorais nos EUA nunca está no discurso de aclamação do candidato vencedor, mas sim no discurso de concessão da derrota pelo candidato vencido. (in Valorizar a democracia é saber perder por Alexandre Homem Cristo)
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Os “deploráveis” existem. E votam. Sim, eu sei que o facto de ter chamado deploráveis aos apoiantes de Trump pode não ter valido a derrota a Clinton, mas explicará alguma coisa do seu desastre eleitoral.
[…] não deixa de ser preocupante e revelador que a cada resultado classificado como inesperado surja de imediato uma explicação que divide os eleitores em bons e maus: os bons são os urbanos, jovens e licenciados. Os artistas e os cultos. Do lado dos maus estão os ignorantes, os rurais, os velhos e, por consequência, os pobres sem habilitações académicas. …
Encerrados nos seus gabinetes e nas suas redacções mas acreditando que estão ligados ao mundo, jornalistas, comentadores e investigadores vivem numa espécie de bolha onde se enfatizam entre si. Trocam mensagens em que todos pensam o mesmo, riem do mesmo e criticam o mesmo. E contudo lá fora o mundo passa a correr. (in Os deploráveis por Helena Matos)
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Há mais semelhanças entre Barack Obama e Donald Trump do que a maioria das pessoas pensa. Ambos foram candidatos anti-sistema em diferentes eleições presidenciais.
Trump ganhou com uma grande vantagem, com um resultado semelhante ao de Obama há quatro anos. E conquistou quase todos os chamados “swing states”. A vontade popular é suprema na política democrática.
Trump foi sempre o candidato anti-sistema, desde as primárias do Partido Republicano até às eleições nacionais. 
Trump poderia ganhar se os insatisfeitos, aqueles que não votam há muitos anos, fossem votar. Pelas indicações iniciais, foi o que aconteceu, como mostra a vitória de Trump em estados como a Pensilvânia, a Indiana, o Ohio, o Wisconsin e, possivelmente o Michigan, a cintura industrial americana, normalmente democrática. (in Presidente Trump por João Marques de Almeida)
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Mas há muitos derrotados.
O establishment, claro está, que tudo fez para eleger Hillary Clinton.
O Presidente Obama que, rompendo com a convenção de muitas décadas, decidiu meter-se a fundo na campanha (como vai agora engolir o que disse e trabalhar numa transição tranquila, veremos).
Michelle Obama que, apesar de toda a simpatia e projeção mediática, simplesmente falhou na mobilização do eleitorado afro-americano.
A comunicação social progressista que levou a candidata ao colo e patrocinou sistematicamente os ataques moralistas a Trump (aliás, inventaram os Republicans for Clinton, que evidentemente não existem eleitoralmente, mas esqueceram-se dos Trump Democrats que, sim, existem e muitos deles são latinos e mulheres), nomeadamente o NYT, a CNBC e a CNN.
Todo o universo das sondagens e especialistas da estatística eleitoral que não perceberam o que estava a acontecer; o terramoto do mapa eleitoral passou-lhes ao lado.
Os artistas e os intelectuais que prejudicaram a candidata com a arrogância do discurso dos americanos bons (minorias, mulheres, brancos com estudos) e dos americanos maus (brancos sem estudos).
E o movimento feminista que evidentemente não soube compreender o voto feminino (“inesperadamente”, muito dele foi para Trump) (in A revolução dos “deplorables” e a derrota histórica do “establishment” boquiaberto por Nuno Garoupa)


as sondagens, os jornalistas e a qualidade do debate público

As sondagens falharam, mais uma vez.
Têm falhado em muito lado, apesar de feitas com as melhores técnicas disponíveis, pelos melhores centros de investigação.
Não parece ser, no essencial, um problema das sondagens, embora nos ajude a relativizá-las saudavelmente.
Talvez o desfasamento muito pronunciado entre as classes dominantes e as pessoas comuns, de tal maneira que as classes dominantes impõem um discurso politicamente correcto no espaço público, leve as pessoas comuns a sentirem-se mais seguras calando o que pensam, guardando as suas verdadeiras opiniões para o segredo das cabines de voto.
A imprensa está do lado das classes dominantes, preferindo olhar arrogantemente para os sinais de preocupação das pessoas comuns como atavismos reaccionários a tentar compreender o mundo à sua volta.
Temos uma jornalista no Público a propor esquemas estranhos para financiar os jornais que garantam que pode escrever livremente sem ter de ter leitores,
temos directores de jornais que se apresentam como generais prussianos de políticos populistas e continuam a dirigir jornais,
temos jornalistas que mantêm a sua posição e influência mesmo depois de até eles reconhecerem ter sido embarretados por aldrabões de feira, apenas porque a vontade de ouvir o que queriam foi mais forte que a necessidade de cumprir procedimentos básicos de verificação dos factos.
Não, meus caros jornalistas, o problema não é o Correio da Manhã ser o jornal que mais vende e o mais lido, o problema é que, preguiçosamente, preferem dizer que é por ser um jornal sensacionalista, esquecendo as dezenas de jornais sensacionalistas que faliram.
Por muito que vos doa, o Correio da Manhã escreve para as pessoas comuns e, no essencial, tem mais factos que doutrinação, não pretende ser mais que o que é: um jornal que reflecte o mundo das pessoas comuns que o pagam.
Ao contrário dos jornais de referência, cheios de cromos supostamente influentes e bem pensantes, todos falando e escrevendo do mundo das classes dominantes, em circuito fechado. São os jornalistas que afastam dos holofotes tudo o que sejam as inquietações politicamente incorrectas dos matarruanos reaccionários que se interrogam sobre o efeito dos choques de cultura a que assistem todos os dias. Comunidades que não se compreendem, apesar de viverem no mesmo espaço, questões de costumes que abalam convicções profundas, ou simplesmente a perplexidade pela forma e as razões que fazem com que uma miúda que diz disparates colossais dia sim, dia não, como Mariana Mortágua, tenha um nível de vida com que a grande maioria das pessoas comuns não pode sequer sonhar, mesmo trabalhando duramente em actividades produtivas que todos os dias são escrutinadas pelos seus clientes.
Estão incomodados com o BREXIT, com a vitória do PP em Espanha, com o resultado as eleições americanas, com o risco de Le Pen ser a próxima presidente de França, ou mesmo com o facto da PAF ter ganho as últimas eleições em Portugal?
Também eu, também a mim me incomodam muitas destas coisas, mas talvez seja altura de pensarem um bocadinho sobre a vossa responsabilidade na transformação do debate público naquilo que hoje é e pensarem nos que excluem desse debate em função da vossa visão do mundo.

Não querem experimentar saltar do mundo das classes dominantes em que se instalaram e voltarem para o mundo das pessoas comuns de onde vieram? (por Henrique Pereira dos Santos no Corta Fitas)

domingo, 6 de novembro de 2016

temos lider?

Esqueça a "Burca Sexy"...

Na Amazon somente a "Freira Sexy" estará disponível, enquanto o "Califa" Baghdade poderá estuprar suas escravas sexuais yazidis e cristãs com total impunidade.
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Tomemos o The Guardian, o mais famoso jornal britânico da esquerda liberal. Quando os artistas do Pussy Riot colocaram em cena o show supostamente ofensivo de 3 minutos na Catedral do Cristo Salvador em Moscou, pelo qual dois dos três artistas preferiram ficar na prisão em vez de repudiar o texto (o terceiro pediu desculpas para evitar o xilindró), o jornal os defendeu como "pura poesia de protesto." Quando o grupo político PEGIDA conclamou a realização de protestos contra a islamização da Alemanha, o mesmo jornal o detonou como "um vampiro que deve ser morto." 
Em Janeiro de 2006, o mais famoso cartunista da Noruega, Finn Graff, anunciou que estava se autocensurando em relação a Maomé. Graff nunca teve problemas em fazer brincadeiras com os cristãos, os quais ele retratou vestidos com camisas castanhas e suásticas. Graff também desenhou uma série de representações gráficas controversas contra Israel, uma delas retratando o primeiro-ministro israelita Menachem Begin como comandante de um campo de concentração nazi.
Em 2015, a BBC descreveu a capa da Charlie Hebdo sem mostrá-la, a rede britânica não repetiu aquela forma de apresentação um ano mais tarde, quando a Charlie Hebdo lançou a nova capa anticristã. O mesmo padrão de dois pesos e duas medidas foi adoptado pelo jornal conservador britânico, Daily Telegraph, que cortou a capa com a caricatura de Maomé, mas publicou a outra, com o Deus de Abraão.
Se em 2015 a Associated Press também censurou as charges islâmicas da Charlie Hebdo. O motivo? "Deliberadamente afrontoso." Em 2016 a agência não teve nenhum problema em mostrar a nova capa retratando não Maomé e sim o Deus judaico-cristão.
Esse duplo padrão moral da elite de esquerda também apareceu no New York Times, que em nome do "respeito" em relação à fé muçulmana censurou as caricaturas de Maomé da Charlie Hebdo − para depois decidir, em total desrespeito, que a Gray Lady (The New York Times) poderia e deveria publicar a obra "Eggs Benedict" de Nikki Johnson, exibida no Milwaukee Art Museum, na qual preservativos de diversas cores formam o rosto do Papa Bento XVI.
O "Califa" do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, ridicularizado pela revista Charlie Hebdo, desencadeou a auto-censura por causa do "discurso de incitamento ao ódio," ao passo que o trabalho de Chris Ofili "A Santa Virgem Maria," na qual a mãe de Jesus é coberta de fezes e imagens de órgãos genitais, foi defendido pelo New York Times como "liberdade de expressão". Isso significa que algumas religiões são mais iguais do que outras?
Se um imã protesta veementemente contra algo, a elite de esquerda sempre apoia a falsa acusação de "islamofobia". Se um protesto pacífico é liderado por um bispo católico, a mesma elite invariavelmente o rejeita em nome da "liberdade de expressão".