domingo, 26 de julho de 2015

Os enganados…

Já todos passámos por aquele penoso momento em que nos interrogámos se vale ou não a pena dizer a alguém que se está a enganar a si mesmo e que era melhor parar de fazer de conta que está tudo bem. 

Quem declarou que “A estratégia do Syriza foi perdedora desde o início” ou que “Governo grego foi de uma enorme imprudência” foram respectivamente os mesmos Ricardo Paes Mamede e António Costa que antes declaravam “Syriza já conseguiu mais do que qualquer Governo bem comportado na Europa” e “Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha”.
Eles nunca erram, as suas intenções são sempre as melhores. Os outros é que os enganam. O desenrolar dos acontecimentos na Grécia tem levado a que muitos daqueles que em Janeiro faziam declarações ditirâmbicas com a vitória da esquerda radical na Grécia agora procurem apagar esse mau momento. Como? Reflectindo sobre o seu erro? Tirando conclusões? Nada disso. Simplesmente culpam o mesmo Syriza e o mesmo governo grego que há meses incensavam.

A esquerda nunca erra. Desilude-se. Nunca se engana. É enganada. Mesmo quando confrontada com os resultados mais catastróficos, o máximo que se lhes ouve é um desalentado “Foi um sonho que acabou mal.”

A direita erra igualmente mas felizmente não lhe é permitido o discurso do sonho que acabou em desengano, da ilusão que se desfez, da utopia que não foi. É erro. É crime. É disparate. E ponto final. E esta pequena enorme diferença face ao erro explica muita coisa. Explica por exemplo que à esquerda o anunciado seja sempre mais importante que os resultados. Explica também que, por essas bandas, aqueles que se tinham como exemplo ontem se tornem inconvenientes dias depois sem que ninguém estranhe tal transfiguração. (adaptado de Os Enganados de Helena Matos no Observador )